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RENAMO poderá enfrentar entraves no município de Nampula

15 de março de 2018

Vitória da RENAMO nas intercalares deve-se ao acúmulo de popularidade do partido em Nampula e ao desgaste da FRELIMO nos últimos anos, considera o especialista em boa governação, Silvestre Baessa.

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Paulo Vahanle, candidato da RENAMOFoto: DW/S. Lutxeque

A cidade de Nampula, no norte de Moçambique, colocou a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), maior partido da oposição, de volta ao poder. Depois da ausência nas duas últimas eleições autárquicas, a RENAMO conseguiu eleger Paulo Vahanle para a presidência do Conselho Municipal da província na segunda volta que decorreu nesta quarta-feira (14.03.). Em entrevista à DW África, Silvestre Baessa, especialista em boa governação, fala sobre a conjuntura na qual a RENAMO foi eleita e faz várias leituras do regresso do partido ao município.

DW África: O que simboliza esta vitória da RENAMO tomando em conta a sua ausência de processos eleitorais autárquicos nos últimos anos e também a crise política e militar que o país viveu nos últimos tempos?

Silvestre Baessa (SB): Qualquer análise sobre o resultado eleitoral não pode ignorar dois, três principais aspetos. O primeiro é que tudo é uma conjuntura nacional, o país está a viver uma crise económica, social, que é atribuída ao Governo. Então, os níveis de popularidade do Governo, e do partido que suporta o Governo, por estas alturas não são dos melhores. O segundo elemento: essas eleições tem uma razão de ser, que é o assassinato do presidente do Conselho Municipal de Nampula, antigo Presidente do município de Nampula, Mahamudo Amurane. No julgamento público, há dois principais responsáveis por esta morte. Por um lado, o MDM [Movimento Democrático de Moçambique] e, por outro lado, a FRELIMO. Então, a RENAMO não é tão penalizada nesse processo. E, finalmente, digamos que era um outsider. Em todo esse processo a FRELIMO [Frente de Libertação de Moçambique] não tinha grandes chances de se impor, de sobreviver a esse conjunto de elementos adversos a sua campanha.

RENAMO poderá enfrentar entraves no município de Nampula

DW África: Então, é da opinião de que a vitória da RENAMO tratou-se de uma espécie de punição à FRELIMO por toda situação que o país está a viver atualmente?

 SB: Eu creio que sim. Podemos dizer que não é uma vitória que resulta da qualidade do manifesto eleitoral da RENAMO. Eu penso que é uma vitória que resulta, por um lado, de uma popularidade acumulada da RENAMO ao longo do tempo e da penalização, esta culpabilização pública, que a FRELIMO  tem no caso e que o Governo tem em relação à morte do  Amurane. Mas, sobretudo, eu acho que há um desgaste nacional em relação a uma cor e a um discurso do qual os cidadãos estão, digamos, habituados a ver há cerca de 43 anos e o qual não tem estado a conseguir criar as condições sociais e económicas que tem estado a prometer o longo de todo esse tempo.  

DW África: A RENAMO está de volta à governação autárquica depois de cerca de oito anos de ausência, o que esperar deste partido tomando em conta essas circunstâncias?

Mahamudo Amurane
Mahamudo Amurane, edil de Nampula pelo MDM, assasinado em 2017Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel

SB: Temos aqui uma situação de um partido que tem uma experiência não tão positiva e espera-se que ele use esta experiência anterior para informar melhor as suas práticas de governação. Entretanto, é preciso notar que essas eleições, são eleições para dirigir o município por um período muito curto, um período de seis meses. Dirigir um município que enfrenta, tal qual todos os outros municípios, grandes dificuldades de mandato. E que também não deve de modo nenhum ignorar o fato de não contar muito com a colaboração do Governo central. Não creio que neste curto espaço de tempo esteja em condições de cumprir 10% daquilo que é seu manifesto eleitoral.

DW África: Nampula é naturalmente um reduto da RENAMO. A vitória deste partido é prova de que o MDM só conquistou o município anteriormente devido ao vazio que a RENAMO deixou?

SB: Sim, em certa medida, sim. Mas há também elementos que nos provam o contrário. Há locais onde a RENAMO concorreu depois e o MDM teve uma maioria. Eu creio que as eleições locais tenham algumas particularidades. Nampula naturalmente tem essa particularidade de ser um município de forte influência da RENAMO. O MDM soube aproveitar a ausência na RENAMO nos processos, sobretudo, nas eleições locais. Mas, por outro lado, acho que as eleições locais começam a ganhar elementos muito particulares.

Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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