Travado protesto contra indicação de Momade às presidenciais
5 de janeiro de 2024Um grupo de pelo menos dez jovens começou a concentrar-se junto à sede da RENAMO, em Maputo, cerca das 9 horas locais, mas três seguranças da sede do partido expulsaram-nos, alegando que não eram militantes.
"O partido tem órgãos específicos para discutir esses assuntos e você querem conspirar contra a RENAMO", disse um dos seguranças, que também impediram a comunicação social que estava no local de captar imagens.
O porta-voz da RENAMO, José Manteigas, disse na quarta-feira (03.01) que o partido vai apostar no atual presidente do partido para as presidenciais deste ano, apesar das críticas de segmentos que exigem a sua renúncia, acusando-o de inércia.
"Ossufo Momade é o nosso candidato e o presidente que está a trazer sucessos ao partido", declarou José Manteigas, porta-voz da RENAMO, durante uma conferência de imprensa em Maputo.
O "candidato monótono"
O grupo que se manifestou hoje integra sobretudo jovens que participaram nas marchas de contestação após o anúncios do resultados eleitorais das autárquicas de outubro em Maputo, em que Venâncio Mondlane, candidato da RENAMO, continua a reclamar vitória, com base nas atas e editais originais das mesas de voto, apesar de ter sido proclamado vencedor o candidato da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, partido no poder).
É o caso de Vasco Vítor, que numa dessas marchas de apoio à RENAMO e a Venâncio Mondlane chegou a ser detido pela polícia. Hoje tentou juntar-se com os colegas à porta do partido, contra a indicação de Momade para candidato presidencial, exigindo que a decisão seja tomada em congresso: "Nós percebemos que nos estão a preparar psicologicamente para podermos aceitar o general Ossufo Momade como candidato. (...) Este país precisa de um candidato forte para que haja mudança. E com um candidato monótono não será possível, continuaremos a ser escravizados. Então, vamos esperar pelo congresso".
Também Esmeralda recorda que durante 45 dias participou nas marchas da RENAMO em Maputo contra os resultados das eleições autárquicas: "Em nenhum momento, nas nossas marchas, nós vimos o presidente, Ossufo. Para depois aparecerem e dizerem que ele vai candidatar-se'".
A liderança da RENAMO tem sido criticada externa e internamente, com o antigo líder do braço armado do partido, Timosse Maquinze, a acusar Ossufo Momade de inércia face a alegadas irregularidades nas eleições autárquicas moçambicanas de outubro, alegadamente a favor do partido no poder, e de negligência face à situação dos guerrilheiros do partido recentemente desmobilizados.
"Há municípios que nos foram roubados e ele parece que está amarrado. Sobre os problemas com desmobilização dos militares, também não fala nada", disse, em dezembro, Timosse Maquinze, classificado dentro da RENAMO como chefe do Estado-maior general do braço armado até à desmilitarização do partido, no âmbito da implementação dos acordos de paz assinados com Governo em 2019.
"Precisamos de um líder que trabalhe com o povo"
Amina Arau diz-se apoiante da RENAMO e também tentou hoje contestar a indicação anunciada pelo partido.
Garante que participou e mobilizou outros jovens para as recentes marchas do partido em Maputo, pelo que não aceita ser marginalizada pela falta de respostas e proibição de concentração à porta da sede do partido.
"Precisamos de um líder que trabalhe com o povo, que nos abrace, não pessoas que só vão sentar na cadeira, que vão ser paus-mandados", apela Amina.
O candidato da RENAMO em Maputo, Venâncio Mondlane, atual deputado do partido, assumiu-se a 4 de novembro disponível para ajudar a reformar o Estado, face às acusações de fraude eleitoral.
E nessa eventual batalha, com Moçambique a realizar eleições gerais em outubro de 2024, incluindo presidenciais e às quais o atual Presidente, Filipe Nyusi, já não pode, constitucionalmente, concorrer, Venâncio Mondlane diz-se disponível para o que o partido entender, incluindo a Presidência da República.
"Esse salto, como deve saber, já não depende da minha vontade. Eu faço parte de um partido, de uma situação que me acolheu, que me orienta, que me disciplina e que me dá as diretrizes. (...) Tudo isso depende da RENAMO. É uma decisão exclusivamente da comissão política da RENAMO".
"Da minha parte, estou disponível para todos os grandes desafios em defesa deste povo", acrescentou.