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República Centro-Africana precisa de dinheiro e ideias

Gwendolin Hilse | Fiacre Ndayiragije | Jeff Murphy Barès | tm
14 de fevereiro de 2017

Paz e crescimento económico foram as promessas do novo Presidente da República Centro-Africana, há um ano. Mas a população ainda vive em insegurança e o país depende de ajuda externa.

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Foto: picture-alliance/AA

Foi há um ano que os eleitores da República Centro-Africana elegeram um novo Presidente, após anos de guerra civil. Ao tomar posse, Faustin-Archange Touadéra prometeu levar paz e segurança a todo o país. Garantiu ainda que iria sanar as contas públicas e fazer crescer a economia centro-africana.

Mas, um ano depois, a violência continua a fazer parte do quotidiano na República Centro-Africana.

Faustin Archange Touadera
Presidente Faustin-Archange TouadéraFoto: imago/Pacific Press Agency

No domingo, pelo menos quatro pessoas, incluindo três civis, morreram num ataque aéreo da missão das Nações Unidas no país, a MINUSCA, a cerca de 250 quilómetros a nordeste da capital Bangui. Dias antes, a imprensa noticiou que quatro cidadãos foram alvejados por capacetes azuis. Vladimir Monteiro, porta-voz da MINUSCA, negou entretanto a informação, esclarecendo que foram abatidos dois homens que tentaram roubar armas, segundo a agência de notícias Lusa.

Crimes de ambos os lados

Cerca de 12.000 capacetes azuis estão na República Centro-Africana para ajudar a estabilizar o país. Mas, nos últimos meses, as tropas internacionais têm sido criticadas pelos vários casos de assédio sexual, muitas vezes contra menores. E até agora, nem a MINUSCA, nem o Governo centro-africano alcançaram a paz almejada.

"Ainda não se conseguiu transformar a rebelião num partido", explica Andreas Mehler, diretor do Instituto alemão Arnold Bergstraesser.

A situação no terreno complicou-se. Agora, já não combatem apenas rebeldes do grupo Séléka, de maioria muçulmana, e das milícias anti-Balaka, maioritariamente cristãs. A aliança Séléka ramificou-se e várias fações disputam o poder, as terras e recursos naturais como o ouro, diamantes, urânio e petróleo. Os simples cidadãos sofrem cada vez mais. Um em cada cinco habitantes foi obrigado a fugir. Dois milhões e meio de pessoas precisam de ajuda alimentar.

Zentralafrikanische Republik Kaga Bandoro Flüchtlingscamp
Um em cada cinco cidadãos da República Centro-Africana foi obrigado a fugirFoto: picture-alliance/AP Photo/D. Belluz

Abandonados

Muitas pessoas, sobretudo nas zonas rurais, dizem-se abandonadas pelo Estado. "Na nossa província, não sentimos o impacto do Estado, não vemos nada", diz à DW Jean Maurice Maloua, um habitante de Bria, no sudeste do país. "Nada funciona. A administração, os equipamentos de escritório, já não há nada. Vivemos com medo."

Noutras cidades ou regiões, as autoridades até podem estar presentes - mas é uma presença simbólica, comenta Andreas Mehler. Não há nem equipamento, nem recursos. "Para se poder trabalhar é preciso ter bons contactos com os rebeldes ou outras forças locais. Sendo assim, o Estado não passa de uma mera aparência", diz o especialista em prevenção de crises. "Se este país quiser ter futuro, então é preciso ter uma ideia de como controlar as periferias ou então dar-lhes mais poderes."

República Centro-Africana precisa de dinheiro e ideias

Mais ideias e dinheiro

Partidos enfraquecidos, um Estado debilitado, fronteiras porosas e falta de financiamento - são problemas que se resolvem em poucos anos. Mas, apesar da insegurança, já se sente algum crescimento económico em algumas partes do país, segundo comerciantes ouvidos pela DW África. No ano passado, as receitas aduaneiras foram mais altas do que se esperava, acrescenta Laure Catherine Ganro, chefe das autoridades alfandegárias.

Em janeiro, o Executivo da República Centro-Africana e as Nações Unidas acordaram um plano para os próximos três anos. E até 2019, o país deverá receber quase 400 milhões de euros destinados a projetos humanitários. É uma boa ajuda, mas não é a solução, opina Andreas Mehler, do Instituto Arnold Bergstraesser: "É preciso, sobretudo, ter uma ideia de como é que o Estado se pode autofinanciar e do que pode fazer com essas receitas."