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Angola/OPEP: "Reposicionamento geoestratégico" motivou saída

23 de dezembro de 2023

Economista, ouvido pela DW, defende que a saída de Angola da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) "pode ser explicada pela nova orientação de política externa do país, mais voltada para o Ocidente".

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Produção de petróleo em Angola
"Neste momento Angola não ganha nada mantendo-se na OPEP", afirmou o ministro angolano dos Recursos Minerais, Petróleo e GásFoto: AP

Angola anunciou esta semana a sua saída da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP).

O argumento do Governo angolano prende-se com limites à produção estabelecidos pela organização, que atribuiu uma quota de produção ao país de 1,110 milhões de barris por dia. 

"Sentimos que neste momento Angola não ganha nada mantendo-se na organização e, em defesa dos seus interesses, decidiu sair", afirmou o ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Azevedo, à margem da 10.ª Reunião Ordinária do Conselho de Ministros, na quinta-feira (21.12).

Em entrevista à DW, o economista Precioso Domingos diz que não encontra respostas que justifiquem a posição do Governo. No entanto, frisa que "a decisão pode ser explicada pela nova orientação de política externa de Angola, mais voltada para o Ocidente".

DW África: O que, além do argumento do Governo, explica a saída de Angola da OPEP?

Precioso Domingos (PD): Do ponto de vista meramente técnico, isto é, a olhar para a produção, não se encontra respostas. Atualmente, e de há algum tempo para cá, Angola tem tido dificuldades em cumprir inclusive as metas de produção que estabelece no Orçamento Geral de Estado (OGE). Assim sendo, não há resposta que justifique a saída da OPEP e, sobretudo, a saída brusca e imediata. Há bem pouco tempo houve um debate nesse sentido em que a sociedade estava dividida. De um lado estava o Ministério dos Petróleos versus um outro grupo de pessoas - algumas ligadas à indústria -, que tinha a posição que agora foi assumida pelo Governo.

Economista Precioso Domingos
"Do ponto de vista meramente técnico, isto é, a olhar para a produção, não se encontra respostas (para a saída de Angola da OPEP)", Precioso DomingosFoto: Privat

Então, nesse sentido, saliento que, do ponto de vista meramente técnico e da produção não há resposta que justifique a saída de Angola da OPEP e, sobretudo, uma saída imediato poderia me dizer que no longo prazo no Médio prazo se o argumento não se justifica.

DW África: Se o argumento não se justifica, porque então o Governo angolano anunciou que vai sair da OPEP?

PD: Essa decisão pode ser explicada pela nova orientação de política externa de Angola, mais voltada agora para o Ocidente e particularmente para os Estados Unidos da América (EUA). Sinto o mesmo já a ocorrer do ponto de vista da relação de Angola e o BRICS. Acredito que a expectativa de boa parte dos países que compõem o BRICS, em particular a China, era de que Angola ‘abraçasse' mais o bloco. E quando olhamos para a composição dos BRICS e para os novos países membros, temos a Arábia Saudita, que também é um grande player da OPEP, então não posso deixar de correlacionar esta saída de Angola com reposicionamentos geoestratégicos. Embora, desse ponto de vista, seja da opinião de que Angola devia aprender com a sua própria história e não achar que a relação com "A” ou "B” seja mutuamente exclusivas.

DW África: E o que se pode esperar no futuro?

PD: Espera-se o incremento e o alavancar da produção de petróleo, que pode ser depois incompatível com as cotas estabelecidas pela oferta, mas mesmo assim não se vislumbra. Porque quando se olha, por exemplo, para um gráfico elaborado pela própria Agência Nacional de Petróleo e Gás, as previsões de produção até 2030 mostram um declínio até lá, em que há uma variação negativa da produção.

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Tainã Mansani Jornalista multimédia