RCA: Diálogo nacional começa sem a oposição
21 de março de 2022Os grupos da oposição da República Centro-Africana anunciaram no domingo (20.03) que não vão participar nas conversações com vista à reconciliação política com início marcado para esta segunda-feira. O motivo: a exclusão dos grupos rebeldes que controlam grande parte do país.
A realização do encontro entre o Governo, a sociedade civil e a oposição desarmada da República Centro-Africana, que deverá durar até 27 de março, em Bangui, foi uma promessa do Presidente Faustin Archange Touadéra, após a sua disputada reeleição, há mais de um ano. O chefe de Estado surpreendeu os líderes da oposição ao anunciar na terça-feira (15.03) o início das conversações, com menos de uma semana de antecedência.
A oposição, no entanto, considera que os grupos armados devem ter um lugar na mesa das negociações. "As forças da oposição não vão participar no diálogo", anunciou o porta-voz da oposição Nicolas Tiangaye, que representa uma plataforma que reúne grupos opositores desarmados.
"O diálogo inclusivo implica a participação de todas as forças políticas do país, incluindo os grupos armados, porque eles são os protagonistas da crise. Não podemos resolvê-la excluindo-os", considerou.
Objetivos vagos
O porta-voz da Presidê cia, Albert Yaloke Mokpeme garantiu que o diálogo vai ter início esta segunda-feira, tal como previsto, apesar do boicote da oposição.
Os organizadores divulgaram uma lista de cinco "temas", incluindo "Paz e segurança", "Governação política, reforço democrático e institucional" e "Desenvolvimento económico e social". No entanto, os objetivos apontados são vagos.
"O principal objectivo é constituir um fórum republicano em torno dos valores e princípios da República", disse Obed Namsio, presidente do comité organizador. "Isto levará a roteiros e textos legais", explicou Albert Yaloke Mokpeme, porta-voz da Presidência.
Uma década de violência
A República Centro-Africana vive uma situação de violência sistémica desde 2012, quando uma coligação de grupos rebeldes de maioria muçulmana - a Séléka - tomou Bangui e derrubou o Presidente François Bozizé, desencadeando uma guerra civil. Como resistência contra os ataques de Séléka, foram criadas milícias cristãs anti-Balaka, que, tal como o primeiro grupo, acabaram por se dividir em várias fações armadas.
Dois terços do país - rico em diamantes, urânio e ouro -- chegaram a ser controlados por milícias e, segundo a ONU, cerca de 692.000 pessoas fugiram das suas casas por causa da violência.
Após uma rebelião há mais de um ano, o Presidente da RCA, Faustin Archange Touadéra, pediu a Moscovo para apoiar o seu exército, pobre e mal treinado, ao que a Rússia respondeu enviando centenas de paramilitares russos, que se juntaram a muitos outros, no terreno há três anos. A ONU diz tratar-se de combatentes da sociedade privada russa de segurança Wagner, enquanto Moscovo assegura tratar-se de "instrutores não armados".
As forças armadas centro-africanas e os seus aliados russos recuperaram a maior parte do território, empurrando os rebeldes e outros grupos armados para fora das cidades e dos seus principais bastiões. No entanto, segundo a ONU, estes avanços custaram ao país numerosas violações de direitos humanos, enquanto a França e os Estados Unidos falam em "massacres" e "execuções" de civis.
Os grupos armados continuam a realizar ações furtivas de guerrilha contra as forças de segurança e são também acusadas pela ONU de crimes contra os civis.