Retrospetivas do ano 2011 - Parte 3: PALOP vivem ano de manifestações e eleições
Na reta final do ano, olhamos para os acontecimentos mais marcantes nos cinco Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Angola
O ano começou com o despertar da contestação ao regime em Angola. A onda revolucionária que abalou desde o início de 2011 o norte de África, começando na Tunísia, propagando-se depois ao Egito e Líbia, fez-se sentir também em Angola.
Houve diversas manifestações ao longo do ano, principalmente entre os meses de setembro e dezembro, organizadas maioritariamente por jovens. Contestaram o regime do Presidente José Eduardo dos Santos, há 32 anos no poder, e foram quase sempre reprimidas pelas forças policiais. Houve casos de violência, detenções e condenações.
Angola também recebeu a chanceler Angela Merkel, a 12 de junho, naquela que foi a primeira visita de um chefe de governo da Alemanha àquele país ocidental africano. A visita de 24 horas teve uma agenda maioritariamente económica.
Cabo Verde
O ambiente de campanha eleitoral marcou o início do ano em Cabo Verde. Nas legislativas de 6 de fevereiro, o Partido Africano para a Independência de Cabo-Verde (PAICV), há dez anos no poder, conquistou o terceiro mandato para governar o país. O primeiro-ministro e então candidato José Maria Neves alcançou maioria absoluta para governar.
A população cabo-verdiana voltou a ir às urnas a 7 de agosto. Dos quatro candidatos na corrida presidencial, Jorge Carlos Fonseca (candidato do Movimento para a Democracia - MpD, o maior partido da oposição) e Manuel Inocêncio Sousa (do PAICV, no poder) passaram à segunda volta.
E a 21 de agosto, Jorge Carlos Fonseca venceu o pleito com 55,13% dos votos. Assiste-se, assim, a uma situação inédita no contexto político cabo-verdiano, em que o governo e a presidência têm de coabitar em diferentes cores políticas.
Destaque ainda para Pedro Verona Pires, ex-presidente de Cabo Verde, que venceu o prémio Mo Ibrahim 2011, que reconhece a excelência na liderança africana.
O ano termina com luto em Cabo Verde. A voz quente de Cesária Évora apagou-se aos 70 anos. A rainha das mornas e coladeras, que sempre conservou a sua simplicidade, faleceu no Hospital da ilha de S. Vicente, a 17 de dezembro, com insuficiência cardio-respiratória aguda e tensão elevada. Da diva dos pés descalços fica a "Sodade".
Guiné-Bissau
A Guiné-Bissau aprovou a lei que proibe a mutilação genital feminina, no dia 6 de junho. Uma decisão considerada histórica, após dezasseis anos de um intenso debate público. Foi assim dado um passo em frente rumo ao fim da tradição que, contudo, continua enraizada nalgumas regiões do país.
Já a terminar o ano, a 26 de dezembro, houve tiroteio na capital da Guiné-Bissau, o que terá sido uma tentativa de golpe de estado, segundo o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, general António Indjai, que falou de "tentativa de subversão da ordem constitucional". O primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Júnior, ter-se-á refugiado brevemente nesse dia na embaixada de Angola.
Foi detido o Chefe do Estado-Maior da Armada da Guiné-Bissau, almirante José Américo Bubo Na Tchuto. O controverso líder da marinha de guerra é suspeito de envolvimento no narcotráfico na Guiné Bissau e o seu nome está ligado a várias tentativas de golpe de estado no passado. Porém, ele nega estar envolvido nos distúrbios de 26 de dezembro.
Os acontecimentos ocorreram num momento em que o Presidente da Guiné Bissau, Malam Bacai Sanhá, se encontra internado num hospital em Paris em estado de saúde incerto.
Moçambique
O primeiro carvão mineral das minas de Moatize foi exportado a 14 de setembro. O navio transportou 35 mil toneladas de carvão térmico de Moatize, a cargo da empresa brasileira Vale, na província de Tete (no centro-norte do país).
A exploração das minas Moatize começou em Maio. Deverá ter uma capacidade de produção, de carvão metalúrgico e térmico, de 11 milhões de toneladas/ano. Nos próximos anos, o carvão das minas, explorado pelas empresas Vale e Riversdale, deverá tornar-se um dos principais produtos de exportação do país.
Houve também eleições em Moçambique. Os municípios de Pemba, na província de Cabo Delgado, Cuamba, no Niassa, e Quelimane, na Zambézia realizaram eleições intercalares a 7 de dezembro.
O partido da oposição, o MDM, Movimento Democrático de Moçambique, ganhou o escrutínio no município de Quelimane, com o candidato Manuel Araújo. Assim, Quelimane passa a ser o segundo município do país a ser governado pela oposição para além da cidade da Beira. A Frelimo, o partido no poder, venceu nos municípios de Pemba e Cuamba.
São Tomé e Príncipe
Os eleitores são-tomenses foram às urnas a 17 de junho para eleger o Presidente da República. Entre os 10 candidatos, Manuel Pinto da Costa, do Movimento de Libertação de S. Tomé e Príncipe (MLSTP/PSD) e Evaristo Carvalho, da Ação Democrática Independente (ADI) passaram à segunda volta.
A 7 de agosto, no segundo turno presidencial, o primeiro presidente da República de São Tomé e Príncipe conquistou de novo o Palácio Cor-de-Rosa. Manuel Pinto da Costa venceu com 52,88% dos votos, contra Evaristo Carvalho com 47,12%.
Autora: Glória Sousa
Edição: Johannes Beck