Ruanda: Democracia ou repressão?
29 de maio de 2019Os críticos de Paul Kagame, em particular os líderes da oposição, têm sido ameaçados, presos, torturados e mortos - mesmo quando se encontram no exílio.
Victoire Ingabire Umuhoza sonha com um Ruanda verdadeiramente livre e democrático. Mas, como afirma a líder de um partido da oposição não oficialmente reconhecido, o seu país está longe de transformar este sonho em realidade. "É um grande problema. Acusam quem está na oposição de ser um inimigo do país, mas nós não somos inimigos do país", diz Umuhoza.
"Liderança aplaudida"
A nível global, o regime no Ruanda não é considerado repressivo. Paul Kagame é considerado como o homem que, com o seu grupo rebelde, pôs fim ao genocídio de cerca de 800.000 tutsis étnicos e hutus moderados em 1994. Desde então, Kagame tem sido aplaudido por sua liderança visionária e por trazer estabilidade à nação da África Oriental.
Mas Ingabire é a primeira mulher a desafiar a presidência de Paul Kagame. Regressou do exílio na Holanda em 2010 para se candidatar às eleições presidenciais. Entretanto, o seu nome nunca apareceu nos boletins de voto.
"Temos de convencer o Governo de que chegou o momento para uma abertura política no Ruanda. Foi por isso que decidi deixar o meu marido e os meus filhos e regressar ao país. Não foi fácil para o meu marido e para os meus filhos. Quando regressei puseram-me na prisão, onde passei oito anos", explica.
"Ameaça à segurança do Estado"
Ingabire foi julgada culpada de ameaçar a segurança do Estado e menosprezar o genocídio de 1994. Ela afirmou sempre que as acusações não passavam de uma invenção politicamente motivada. Ainda hoje enfrenta acusações de que recrutou jovens para um grupo terrorista, o que Ingabire nega.
A política não é a única líder da oposição que acusa o Governo de repressão. Bernard Ntaganda, fundador do Partido Social Imberakuri, foi preso três vezes e questiona abertamente a narrativa do "milagre democrático" do Ruanda.
"Não digo que Kagame seja um ditador, mas o seu regime é uma ditadura. No Ruanda não há mídia independente. Como é que se pode dizer que o Ruanda é um país democrático, se nem oposição tem?", argumenta.
Tanto Ntaganda como Ingabire dizem que sacrificaram muito pela sua luta política. Ingabire afirma que vários de seus seguidores ainda estão presos.
E relata que seu assistente de 30 anos, Anselme Mutuyimana, morto em março de 2019, perdeu a vida pela causa. Já as autoridades dizem que ainda estão a investigar quem é o responsável pela morte de Mutuyimana.