Ruanda: João Lourenço vai a Kigali baixar a "tensão" na RDC
11 de novembro de 2022Para tentar desanuviar a crescente tensão entre o Ruanda e a República Democrática do Congo, o chefe de Estado de Angola viaja esta sexta-feira (11.11) para Kigali. A viagem de João Lourenço acontece dias depois do Governo da República Democrática do Congo (RDC) ter reconhecido que violou o espaço aéreo do Ruanda — mas por engano.
Kinshasa tem acusado Kigali de apoiar o Movimento 23 de Março (M23), numa crise alimentada pelo avanço consolidado desses rebeldes em algumas áreas da província Kivu do Norte, que culminou na semana passada com a expulsão do embaixador ruandês em Kinshasa, Vincent Karenga.
Defender o país
O Ruanda tem reiteradamente negado as acusações e acusa, por sua vez, a RDC de apoio a outro movimento rebelde, as Forças Democráticas de Libertação de Ruanda (FDLR). Por outro lado, a RDC tem feito um trabalho árduo para convencer jovens a ingressarem nas fileiras militares.
"Hoje, só na província do Kivu do Norte, temos mais de 3.000 candidatos que responderam ao apelo do Chefe de Estado para que juntos possamos colocar o M23 e os seus aliados do exército ruandês fora de ação", disse o tenente-coronel Ndjike Kaiko Guillaume, porta-voz do exército no Kivu do Norte, às agências de notícias internacionais.
Elisha Binyungu, por exemplo, diz que concorre para ser militar para defender o seu país, a RDC. "Somos atacados e continuamos a ser atacados todos os dias e não posso ficar de braços cruzados a assistir. Hoje estou feliz por me juntar ao exército e quero lutar contra os ruandeses", asseverou.
"Eles não devem invadir mais o nosso país. Entrei no exército com revolta e quero lutar imediatamente e impedi-los de invadir o nosso país", acrescenta.
Protestos de rua
As organizações da sociedade civil, que têm organizado protestos de rua contra ataques militares dos rebeldes junto da fronteira com o Ruanda, acusam a comunidade internacional de apoiar o país vizinho.
"A população que vive no leste da RDC é vítima de múltiplos ataques do Ruanda e do Uganda, com a bênção das grandes potências, principalmente dos Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e outros países", acusa Jean-Chrysostome Kijana, presidente da Nova Dinâmica da Sociedade Civil.
"Exprimimos a todo o mundo o nosso descontentamento com aquilo a que chamamos injustiça e discriminação internacional contra os congoleses que somos", sublinhou.
O M23 é acusado desde novembro de 2021 de realizar ataques contra posições do Exército da RDC em Kivu do Norte, sete anos depois de as duas partes terem alcançado uma trégua.
Especialistas das Nações Unidas acusaram Uganda e Ruanda de apoiar os rebeldes, embora ambos os países tenham negado isso.