Ruanda: Paul Kagame candidata-se a quarto mandato
20 de setembro de 2023O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, declarou esta quarta-feira (20.09) à Jeune Afrique: "Estou satisfeito com a confiança que os ruandeses demonstraram em mim. Servirei enquanto puder. Sim, sou de facto candidato". Asseverou assim que será o representante da Frente Patriótica Ruandesa (RPF, na sigla em inglês) nas próximas eleições presidenciais.
Antecipando-se às críticas internacionais, nomeadamente no Ocidente, Kagame afirmou: "Pessoalmente, não sei quais são os seus valores [do Ocidente]. O que é a democracia? Será que o Ocidente dita aos outros o que devem fazer? Se eles não respeitam os seus próprios valores [democráticos], porque é que os havemos de ouvir?".
Segundo o Presidente, "tentar transferir a democracia para os outros é, por si só, uma violação das normas democráticas. As pessoas devem ser independentes e ter uma plataforma para fazer o que querem fazer".
As alterações de Kagame para permanecer no poder
Em março, o Governo ruandês decidiu fazer coincidir as datas das eleições legislativas e presidenciais.
Kagame tornou-se o homem forte do país após o genocídio de 1994, que matou entre 800.000 a um milhão de pessoas, e consolidou o seu domínio seis anos mais tarde, com o início do seu primeiro mandato presidencial.
Foi reeleito, com mais de 90% dos votos, em todas as eleições que se seguiram, a última em 2017, e em 2015, Kagame alterou a Constituição ao ponto de lhe permitir, em teoria, permanecer no poder até 2034, se o povo assim o decidir.
E os direitos humanos?
Embora o Ruanda se afirme atualmente como um dos países mais estáveis do continente africano, grupos de defesa dos direitos humanos acusam o Presidente de governar num clima de medo que não respeita a liberdade de expressão.
Em 2021, Paul Rusesabagina, herói do filme "Hotel Ruanda" e crítico declarado de Kagame, foi condenado a 25 anos de prisão por terrorismo após a sua detenção no ano anterior. Rusesabagina encontrava-se num avião que julgava ter como destino o Burundi quando aterrou em Kigali, no que a sua família descreveu como um rapto.
Libertado da prisão em março de 2023 e levado para os Estados Unidos na sequência de um perdão presidencial, Rusesabagina publicou uma mensagem de vídeo em julho, afirmando que os ruandeses eram "prisioneiros no seu próprio país".
O Ruanda ocupa o 131.º lugar entre 180 países no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa 2023 dos Repórteres Sem Fronteiras.