Rádios comunitárias moçambicanas denunciam intimidação de jornalistas
19 de dezembro de 2013Segundo o Fórum Nacional das Rádios Comunitárias (FORCOM), que representa 49 rádios comunitárias em Moçambique, as ameaças foram dirigidas, às rádios comunitárias Nova Paz, parceira da DW África, e Quelimane FM, ao longo do processo eleitoral que terminou a 20 de novembro.
Essas intimidações continuaram mesmo depois das eleições, tendo a rádio Quelimane FM sido vandalizada em finais de novembro, colocando 18 jornalistas “sem trabalho e com medo”, revelou em entrevista à DW África a diretora executiva do FORCOM, Benilde Nhalivilo.
DW África: Pode explicar o que aconteceu realmente?
Benilde Nhalivilo (BN): Na altura das eleições autárquicas, as nossas rádios estiveram a fazer a cobertura do processo eleitoral. Estiveram nas mesas das assembleias de votos e iam fazendo programas sobre o processo todo.
No dia 20 de novembro, dia das eleições, e um dia depois alguns colegas receberam algumas chamadas com ameaças de morte e que diziam que eles estavam a divulgar informações que não eram do seu agrado.Os colegas ficaram com medo e alguns abandonaram a redação. Por isso, nós fomos lá para procurar saber o que se passava.
Durante a viagem, tivemos encontros com as duas rádios comunitárias [Nova Paz e Quelimane FM], mas também com o governador da província para nos dar explicações sobre o assunto. Para além disso, também fizemos uma denúncia junto das autoridades policiais, no sentido de investigarem o que é que se estava a passar.
Até agora ainda não tivemos nenhuma resposta. Mas no dia 10 de dezembro, portanto 15 dias depois do ocorrido, a rádio [Quelimane FM] foi vandalizada. Durante a madrugada, foram lá indivíduos estranhos que se apoderaram de algum equipamento da rádio, como computadores, o cabo da antena e outro equipamento. Por causa disso, a rádio está fora do ar.
DW África: As duas rádios comunitárias que mencionou são a Nova Paz e a Quelimane FM?
BN: Sim, Nova Paz e Quelimane FM. Mas a vandalização neste momento foi feita apenas na Rádio Quelimane.
DW África: Tem alguma pista sobre os elementos que poderão estar por detrás dessa vandalização?
BN: Não temos pistas, mas o nosso presidente deslocou-se à cidade de Quelimane. Junto da PIC [Polícia de Investigação Criminal], já estão a fazer um trabalho aturado para descobrir quem foram os autores dessa vandalização.
DW África: Mas, nesse caso, a polícia da região de Quelimane está a colaborar com o FORCOM para descobrir a veracidade dos factos?
BN: Está a colaborar, embora pensemos que poderia ser um pouco mais acelerado. O nosso presidente esteve lá e já nos deram algumas orientações sobre o que deveríamos fazer e mostraram o ponto de situação em que estão as investigações. O que deduzimos – não é uma certeza – é que provavelmente esses dois actos, que são as ameaças e a vandalização da rádio, devem ser por parte das mesmas pessoas.
DW África: Falou-se na possibilidade de elementos associados à Frente de Libertação de Mocambqiue (FRELIMO), o partido no poder. Será que há alguma veracidade nessa informação?
BN: Não, não temos nenhuma prova que diga que são elementos da FRELIMO. O que nós acreditamos é que dentro em breve teremos resultados, tendo em conta as informações que recebi do meu presidente e do trabalho que se fez hoje. Portanto, acho que as investigações estão numa fase bastante avançada e nós vamos dar um seguimento muito direto e muito próximo no sentido de apurar quem são os autores. Mas neste momento não temos prova de quem quer que seja.
DW África: Mas nessas informações que eram veiculadas haveria algo de falso que poderia provocar uma intimidação ou ameaças aos jornalistas?
BN: O que os meus colegas estavam a reportar era o que estava a acontecer nas mesas de voto, falaram sobre algumas irregularidades no processo de alguns membros das mesas de voto que estavam a acontecer e que, na verdade, até foram tornadas públicas. Não foram apenas as rádios comunitárias a mencionar isso. Vários jornais, várias televisões estiveram a mostrar esses factos.
Então, não sabemos se é a partir disso ou se é a partir de outro caso, porque as nossas rádios fazem muitos programas sobre diversos assuntos, tocam questões ligadas à governação, questões políticas, sociais. E, na verdade, este não é o primeiro caso que aparece de rádios que já tenham, sofrido ameaças.
DW África: Em outubro de 2014, Moçambique vai novamente a votos, desta vez para as eleições presidenciais e legislativas. O FORCOM estará mais atento a este processo?
BN: Sem dúvida. Vai ser uma das nossas prioridades para o próximo ano, em termos da própria educação cívica. já este ano estivemos a fazer muita educação cívica. E também em termos de cobertura dos processos eleitorais que vão acontecer no próximo ano.