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Rádios comunitárias moçambicanas denunciam intimidação de jornalistas

António Rocha19 de dezembro de 2013

O Fórum Nacional das Rádios Comunitárias de Moçambique está muito preocupado com os casos ainda não desvendados de intimidação de jornalistas de duas rádios da região de Quelimane durante as eleições autárquicas.

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Foto: Fotolia/Dmitry Vereshchagin

Segundo o Fórum Nacional das Rádios Comunitárias (FORCOM), que representa 49 rádios comunitárias em Moçambique, as ameaças foram dirigidas, às rádios comunitárias Nova Paz, parceira da DW África, e Quelimane FM, ao longo do processo eleitoral que terminou a 20 de novembro.

Essas intimidações continuaram mesmo depois das eleições, tendo a rádio Quelimane FM sido vandalizada em finais de novembro, colocando 18 jornalistas “sem trabalho e com medo”, revelou em entrevista à DW África a diretora executiva do FORCOM, Benilde Nhalivilo.

DW África: Pode explicar o que aconteceu realmente?

Benilde Nhalivilo (BN): Na altura das eleições autárquicas, as nossas rádios estiveram a fazer a cobertura do processo eleitoral. Estiveram nas mesas das assembleias de votos e iam fazendo programas sobre o processo todo.

No dia 20 de novembro, dia das eleições, e um dia depois alguns colegas receberam algumas chamadas com ameaças de morte e que diziam que eles estavam a divulgar informações que não eram do seu agrado.Os colegas ficaram com medo e alguns abandonaram a redação. Por isso, nós fomos lá para procurar saber o que se passava.

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Durante a viagem, tivemos encontros com as duas rádios comunitárias [Nova Paz e Quelimane FM], mas também com o governador da província para nos dar explicações sobre o assunto. Para além disso, também fizemos uma denúncia junto das autoridades policiais, no sentido de investigarem o que é que se estava a passar.

Até agora ainda não tivemos nenhuma resposta. Mas no dia 10 de dezembro, portanto 15 dias depois do ocorrido, a rádio [Quelimane FM] foi vandalizada. Durante a madrugada, foram lá indivíduos estranhos que se apoderaram de algum equipamento da rádio, como computadores, o cabo da antena e outro equipamento. Por causa disso, a rádio está fora do ar.

DW África: As duas rádios comunitárias que mencionou são a Nova Paz e a Quelimane FM?

BN: Sim, Nova Paz e Quelimane FM. Mas a vandalização neste momento foi feita apenas na Rádio Quelimane.

DW África: Tem alguma pista sobre os elementos que poderão estar por detrás dessa vandalização?

BN: Não temos pistas, mas o nosso presidente deslocou-se à cidade de Quelimane. Junto da PIC [Polícia de Investigação Criminal], já estão a fazer um trabalho aturado para descobrir quem foram os autores dessa vandalização.

DW África: Mas, nesse caso, a polícia da região de Quelimane está a colaborar com o FORCOM para descobrir a veracidade dos factos?

BN: Está a colaborar, embora pensemos que poderia ser um pouco mais acelerado. O nosso presidente esteve lá e já nos deram algumas orientações sobre o que deveríamos fazer e mostraram o ponto de situação em que estão as investigações. O que deduzimos – não é uma certeza – é que provavelmente esses dois actos, que são as ameaças e a vandalização da rádio, devem ser por parte das mesmas pessoas.

DW África: Falou-se na possibilidade de elementos associados à Frente de Libertação de Mocambqiue (FRELIMO), o partido no poder. Será que há alguma veracidade nessa informação?

Kommunalwahl Mosambik - Maputo
As autárquicas em Moçambique tiveram lugar a 20 de novembroFoto: DW/ER. da Silva

BN: Não, não temos nenhuma prova que diga que são elementos da FRELIMO. O que nós acreditamos é que dentro em breve teremos resultados, tendo em conta as informações que recebi do meu presidente e do trabalho que se fez hoje. Portanto, acho que as investigações estão numa fase bastante avançada e nós vamos dar um seguimento muito direto e muito próximo no sentido de apurar quem são os autores. Mas neste momento não temos prova de quem quer que seja.

DW África: Mas nessas informações que eram veiculadas haveria algo de falso que poderia provocar uma intimidação ou ameaças aos jornalistas?

BN: O que os meus colegas estavam a reportar era o que estava a acontecer nas mesas de voto, falaram sobre algumas irregularidades no processo de alguns membros das mesas de voto que estavam a acontecer e que, na verdade, até foram tornadas públicas. Não foram apenas as rádios comunitárias a mencionar isso. Vários jornais, várias televisões estiveram a mostrar esses factos.

Então, não sabemos se é a partir disso ou se é a partir de outro caso, porque as nossas rádios fazem muitos programas sobre diversos assuntos, tocam questões ligadas à governação, questões políticas, sociais. E, na verdade, este não é o primeiro caso que aparece de rádios que já tenham, sofrido ameaças.

DW África: Em outubro de 2014, Moçambique vai novamente a votos, desta vez para as eleições presidenciais e legislativas. O FORCOM estará mais atento a este processo?

BN: Sem dúvida. Vai ser uma das nossas prioridades para o próximo ano, em termos da própria educação cívica. já este ano estivemos a fazer muita educação cívica. E também em termos de cobertura dos processos eleitorais que vão acontecer no próximo ano.

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