Sai Ialá, entra Nambeia: mudanças no futuro do PRS
18 de dezembro de 2012É uma nova configuração política na Guiné-Bissau. Os dois políticos fazem parte da formação que fundou o partido em janeiro de 1992. A este respeito conversamos com Fafali Koudawo, reitor da Universidade de Colinas de Boé, na Guiné-Bissau.
DW África: Quais as razões que levaram Kumba Ialá a abrir mão da liderança do PRS?
Fafali Koudawo (FK): Ele tomou esta decisão para escapar a uma onda de contestação que há no seu partido. Esta onda vem das camadas mais jovens e também de uma parte da velha guarda. No entanto, ele continua a ser uma pessoa carismática e a referência máxima do partido.
DW África: Quais teriam sido as razões que levaram esta parte da velha guarda e esses jovens partidários a crer que o tempo de Kumba Ialá teria se esgotado?
FK: As sucessivas derrotas do partido em várias eleições presidenciais e legislativas. É claro que Kumba Ialá não consegue mobilizar suficientemente, além do seu eleitorado tradicional. É a procura deste alargamento da influência do partido, para poder criar novos caminhos estratégicos.
DW África: Kumba Ialá se despediu das “disputas de mandatos e cargos poiticos partidários”. A partir desta declaração pode-se ter uma idéia do que ele pretende?
FK: Ele afastou-se da liderança partidária para se preservar melhor para o próximo embate presidencial. Diz-se que foi uma das condições do seu afastamento voluntário.
DW África: Esta possibilidade é real?
FK: Sim, esta possibilidade é real. Se o partido não encontrar uma outra pessoa carismática, Kumba Ialá tem ainda todas as chances de ser candidato. Ser eleito é uma outra coisa. Aliás, o partido precisa dele. É por isso que o seu afastamento é simbólico e isto é uma vantagem para ele, porque fica um pouco preservado nos embates.
DW África: Para a presidência do PRS foi eleito Alberto Nambeia e, com ele, um novo secretário-geral, que agora é Florentino Teixeira. Como avalia a mudança?
FK: São pessoas com outra capacidade de diálogo, que chegam à testa do partido. É uma capacidade de abertura social maior, em relação à última liderança. Isto pode dar ao partido mais margem de manobra estratégica.
DW África: O que esperar desta mudança na direção do segundo maior partido do país?
FK: É uma tentativa de se abrir a novos parceiros e tentar atrair uma nova clientela política. A nova direção não tem este cunho carismático, mas trata-se de desconcentrar este poder e envolver mais atores. E, neste domínio, as mulheres sempre foram uma base eleitoral enorme na Guiné.
Autora: Cristiane Vieira Teixeira
Edição: Maria João Pinto/ António Rocha