Sandura Ambrósio nega ter conspirado contra o Estado
22 de julho de 2020Sandura Ambrósio é acusado de financiar a autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO, um grupo contestatário do maior partido da oposição moçambicana liderado por Mariano Nhongo.
Mas Ambrósio, detido desde 14 de janeiro, rejeita as acusações, segundo as quais teria mandado recrutar jovens para ingressarem na "Junta Militar". Questionado esta quarta-feira (22.07) pelo tribunal se teria ou não participado em reuniões da Junta Militar, Ambrósio declarou que nunca participou em eventos do grupo.
"Tudo é uma pura e franca mentira", disse durante o julgamento no Tribunal Judicial do Dondo, província de Sofala, centro de Moçambique.
Na passada sexta-feira (17.07), o arguido considerado a peça-chave neste processo em que seis pessoas são acusadas de apoiar os guerrilheiros dissidentes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), António Bauase, demarcou-se da acusação que o aponta como sendo o responsável pelo recrutamento de pessoas para fazerem parte do grupo de Nhongo, afirmando, no entanto, que recrutou o grupo de pessoas para a empresa de segurança privada de Sandura Ambrósio.
Mas o antigo deputado rebateu o testemunho de Bauase esta quarta-feira: "Nunca e em nenhum momento dei número ao Bauase para tratarmos do recrutamento de jovens para a minha empresa de segurança", afirmou.
José Capassura, advogado de defesa de Sandura Ambrósio, diz que o processo está no bom caminho e insiste que, até agora, não há provas que incriminem o seu constituinte: "O julgamento está a correr, como vocês sabem, a um ritmo expectável, embora estejam a existir diversas incongruências relativamente àquilo que são as declarações que os réus estão a prestar, com exceção do Sandura Ambrósio, que, desde o princípio, manteve as declarações", argumenta.
Mariano Nhongo defende Sandura Ambrósio
Na terça-feira (21.07), o líder da autoproclamada "Junta Militar", Mariano Nhongo, negou ter recebido financiamento do antigo deputado.
"Eu estou a dizer ao povo moçambicano: 'não fiquem enganados que Sandura foi detido porque financiava a Junta Militar'. Não é isso. Nunca fomos financiados por Sandura. Com quanto ele nos podia financiar? Desde que eles detiveram Sandura, não temos falta," declarou Nhongo.
Ao mesmo tempo, denuncia que Sandura foi preso por contestar a liderança da RENAMO e acusa o líder Ossufo Momade de ser o mentor das prisões contra membros do partido.
"Sandura foi detido porque, no mês de abril, ele manifestou-se na Beira. Estava connosco? Ele exigia os estatutos da RENAMO, por isso Ossufo deteve Sandura," afirmou.
Peritos do SERNIC aguardados em tribunal
Ao todo, respondem no processo seis arguidos. No entanto, nos argumentos arrolados nos autos, não consta nenhum contacto de um deles - Domingos Marime - com os outros réus, levantando-se dúvidas sobre a sua detenção. Marime é membro da RENAMO e antigo vogal na Comissão Provincial de Eleições em Sofala.
Para a audição desta quarta-feira, o Tribunal Judicial de Dondo teria também notificado peritos do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) para responderem sobre a detenção de Marime, mas eles não compareceram em tribunal, alegadamente por a notificação ter chegado tarde e não clarificar se deviam fazer-se presentes na sessão. Os peritos do SERNIC deverão apresentar-se ao tribunal na próxima sexta-feira (24.07).
Este julgamento teve início a 10 de julho. Além de Sandura Ambrósio, António Bauase e Domingos Marime, respondem em tribunal Gabriel José Domingos, Eugénio Joaquim Domingos e Aníva Bernardo, também acusados de conspiração por alegadamente estarem associados à autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO. Sandura é o sexto e último arguido a ser ouvido neste processo.