Saída do impasse na África do Sul em destaque na imprensa alemã
21 de setembro de 2012Na análise do semanário Der Spiegel o "momento é grave". Com receio de protestos violentos no mundo muçulmano o "governo alemão decidiu encerrar as suas embaixadas em países muçulmanos", incluindo alguns países africanos, nesta sexta-feira (21.09). A Der Spiegel dá conta ainda que segurança adicional será fornecida às representações diplomáticas para evitar que se repitam atos de violência como o que sucedeu em Cartum. Em protesto contra o filme "A Inocência dos Muçulmanos", considerado blasfemo por crentes islâmicos, manifestantes em fúria atacaram na sexta-feira passada (14.09) as representações diplomáticas da Alemanha e do Reino Unido na capital sudanesa.
Paz nas minas da África do Sul ?
"Grande vitória para os mineiros de Marikana", titula o Die Tageszeitung." A greve de cinco semanas dos mineiros sul africanos em Marikana acabou: os mineiros aceitaram a oferta da LonMin". Mas enquanto se festejava em Marikana, acrescenta o jornal, "a polícia lançava gás lacrimogéneo contra grevistas da Anglo American Mine, o maior produtor mundial de platina. A Anglo American teve de encerrar na semana passada cinco unidades de produção.
A greve dos mineiros da empresa produtora de platina Lonmin, em Marikana, que durava desde 10 de agosto e causou 40 mortes e várias dezenas de feridos, chegou ao fim na noite de terça-feira (18.09) com a assinatura de um acordo salarial.
O acordo contempla aumentos médios da ordem dos 22 por cento e beneficia todas as categorias profissionais. A Lonmin emprega 28.000 pessoas e é a terceira maior produtora do mundo de platina.
"Os conflitos no sector mineiro na África do Sul alarmaram o ANC", escreve o Berliner Zeitung. Num relatório interno do partido no poder, citado pelo jornal, traçam-se comparações com a guerra civil moçambicana nos anos oitenta e as atividades de "sabotagem" praticadas pelos rebeldes da RENAMO. O Der Tagesspiegel estima que o governo sul africano se recusou a ver o perigo porque está "demasiado preocupado e demasiado minado por lutas de poder internas. Dezoito anos decorridos sobre a chegada ao poder do ANC a frustação de numerosos sul-africanos negros é enorme". Esta frustação é alimentada "pela arrogância do partido", mas também por Jacob Zuma, "o presidente cuja única preocupação é a sua reeleição em 2014".
RDC: um paraíso infernal
"Elefantes, gorilas, vulcões, floresta tropical. O Leste do Congo é um paraíso natural. Mas para as pessoas que lá vivem é um inferno, constata o Süddeutsche Zeitung.
Quase 19 mil soldados das Nações Unidas estão estacionados na República Democrática do Congo, dos quais cinco mil estão sediados na província do Kivu Norte, região que há meses vem sendo devastada pelas ações do grupo guerrilheiro M23. A missão dos capacetes azuis é proteger a população local dos ataques de grupos armados, missão arriscada e díficil. O recém-formado M23 é um pequeno movimento de militares amotinados que atuam no norte e leste de Goma e que tem desestabilizado toda a região do Kivu. Este movimento foi constituído oficialmente a 23 de março por amotinados próximos do general irradiado das forças armadas congolesas, Bosco Ntaganda. O Tribunal Penal Internacional, TPI, quer julgá-lo por crimes de guerra.
Uma investigação publicada pelo jornal de Kinshasa, "Le Potentiel", e citada pelo diário alemão Süddeutsche Zeitung denuncia o surgimento de vários movimentos independentistas noutras zonas do país, que estão a causar preocupação à população. Em Katanga, província conhecida pelas tendências independentistas, o apoio dos eleitores ao presidente da República, Joseph Kabila, parece estar a desvanecer-se por causa da retenção por parte do governo dos 40 por cento de impostos que deveriam ser devolvidos à administração local. A substituição do governador por um irmão do presidente também causou grande descontentamento na população. "As Nações Unidas olham com grande preocupação para os novos excessos de violência", escreve o Süddeustche Zeitung, "violência que assume cada vez mais um cariz étnico". Recorde-se que as tensões étnicas na República Democrática do Congo são anteriores ao genocídio no Ruanda. Já no final de Agosto a ONU havia denunciado novos massacres na República Democrática do Congo.
Autora: Helena Ferro de Gouveia
Edição: António Rocha