Saúde de ativistas angolanos causa preocupação
6 de abril de 2016A greve de fome de Nuno Dala já dura há quase um mês. Desde o dia 10 de março, tem sido essa a forma de o ativista reivindicar o acesso às suas contas bancárias e à devolução de bens, incluindo dinheiro, documentos e computadores, apreendidos pelas autoridades em junho. Também pede que lhe sejam revelados os resultados de exames médicos que fez.
A irmã Gertrudes Dala contou à DW África que o investigador "está cada vez pior" e corre perigo de vida. "Está mesmo muito debilitado e fraco. Já nem líquidos consegue ingerir". Quando a família o visita na prisão, tem de ser deslocar em cadeira de rodas. No entanto, o professor universitário não pretende suspender a greve de fome até que tudo se resolva.
Nuno Dala foi condenado a quatro anos e meio de cadeia e encontra-se atualmente no Hospital Prisão de São Paulo. Desde a morte dos pais, o ativista é responsável pelo sustento dos dois irmãos menores, que vivem consigo, juntamente com a mulher e a filha.
"Estamos a passar necessidades graves. Até para ir visitá-lo tem sido um caso sério", conta Gertrudes Dala, que lamenta o silêncio a que o caso do irmão tem sido votado. "As autoridades angolanas não dizem nada. Mas estamos ainda com esperança de que o Tribunal Supremo possa dar uma notícia satisfatória: que reduza a pena ou que eles sejam absolvidos".
Presos bebem água das sanitas
Em greve de fome continua também o ativista Osvaldo Caholo. Numa carta enviada à imprensa nacional e estrangeira, o militar ameaça suicidar-se na prisão de Calomboloca, se as condições em que se encontra detido não melhorarem. Segundo o tenente, os presos têm de beber água das sanitas, a alimentação é inadequada e falta assistência médica, entre outras irregularidades.
"A realidade das cadeias em Angola é mesmo esta. Onde se dorme é onde as pessoas fazem as suas necessidades", confirma o ativista Kim de Andrade, da Central Angola 7311, que já esteve detido várias vezes.
Também o estado de saúde de Manuel Nito Alves continua a preocupar os seus familiares. Detido em janeiro, por injúrias ao tribunal, o estudante ainda está a recuperar de uma infeção por malária.
A Central Angola alerta ainda para a situação em que se encontram os ativistas Inocêncio de Brito, Arante Kivuvu, Sedrick de Carvalho e Benedito Geremias, detidos na cadeia de Caboxa, na cidade de Caxito. Foi aqui que, há dois dias, uma rixa entre dois grupos rivais terminou com a morte de um recluso e sete feridos.
Manifestação em Luanda
Para pedir a libertação imediata dos detidos e a melhoria das condições nas cadeias angolanas, está prevista uma manifestação no próximo sábado, 9 de abril, na capital, Luanda. Outra das revindicações é a destituição do próprio Presidente da República, José Eduardo dos Santos, porque este "não está a respeitar a Constituição angolana", disse à DW África Adolfo Campos, do Movimento Revolucionário.
Os 17 ativistas foram condenados, a 28 de março, por coautoria de atos preparatórios de rebelião e associação de malfeitores. As penas de prisão aplicadas vão dos dois anos a oito anos e meio e já estão a ser cumpridas, em quatros estabelecimentos prisionais.
A defesa apresentou, entretanto, um habeas corpus por "prisão ilegal" e pede que os ativistas aguardem em liberdade a decisão sobre os recursos, que pode demorar dois anos.