Seca não é a única causa da fome na Etiópia
22 de julho de 2011Oito milhões de habitantes, um décimo da população, sofre de subnutrição. Nenhum outro país do mundo recebe tanta assistência do Programa Alimentar das Nações Unidas (PAM). Há alguns anos, o Governo começou a investir no setor agrário. Mas a prática crescente de atribuição de terras as investidores estrangeiros é criticada por muitos especialistas.
A coordenadora das Nações Unidas para a assistência de emergência, Valerie Amos, estava visivelmente abalada quando se encontrou com a imprensa internacional na capital, Adis Abeba, para angariar mais donativos para a Etiópia: „Acabo de regressar da região Somali”, disse, acrescentando: “Falei com mulheres que andaram cinco horas com os filhos ao colo para encontrar alimentos e cuidados médicos. Cada vez mais crianças sofrem de subnutrição. Os nómadas estão a perder o gado, que é a base da sua existência"
Organizações não têm acesso a certas regiões
Apesar da promessa do Governo que o país em breve voltará a ser autosuficiente, já em fevereiro deste ano Adis Abeba viu-se obrigado a juntar-se ao PAM para pedir ajuda ao mundo para três milhões de pessoas diretamente ameaçadas pela fome. E os especialistas consideram este número demasiado baixo.
Oficialmente, as Nações Unidas afirmam que a situação se deve à falta de chuvas sazonais. Mas, nos bastidores, os há quem se queixe das restrições de acesso na região Somali, mais conhecida pelo nome Ogaden. Aqui, muitos distritos estão vedados às organizações de assistência, por causa dos combates, que duram há anos, entre as tropas governamentais e os rebeldes da Frente de Libertação do Ogaden (ONLF). Registaram-se mesmo alguns em que as organizações foram expulsas da região.
Críticas contundentes à prática de arrendamento de terras a estrangeiros
Alun Mac Donald, diretor para o Corno de África da organização Oxfam, é da opinião que o clima não é o único responsável pela fome: "Há ainda uma má política e uma falta de resposta política à crise”, diz, explicando que as regiões atingidas com maior gravidade são regiões politicamente marginalizadas: “Quando não chove, estas pessoas não têm estruturas do estado às quais possam recorrer”.
Helmut Hess, diretor para a África da organização alemã "Pão para o Mundo", acrescenta outra causa humana à miséria alimentar na Etiópia: "A autosuficiência alimentar não é o objetivo primordial da política agrária. A produção para a exportação teve sempre prioridade e a promoção resultante. Agora a situação é agravada pelo aluguer de terras a investidores estrangeiros, que não produzem biocombustíveis, ou que produzem alimentos não para o consumo local, mas para a exportação".
Após críticas maciças contra esta prática - a colocação à disposição de terras aráveis a grandes consórcios agrários da Índia, da China e da Arábia Saudita - a Agência de Investimentos da Etiópia anulou alguns contratos de arrendamento e esforça-se agora por uma maior transparência. Futuramente os contratos serão publicados na internet e tornados acessíveis a toda a gente.
Autor: Ludger Schadomsky
Edição: Cristina Krippahl / António Rocha