Separatistas intensificam ações violentas nos Camarões
23 de janeiro de 2020No início da semana, a voz de um dos líderes do movimento separatista circulou em áudio pelas redes sociais nos Camarões. O homem identifica-se como general Chacha e ameaça que quiser se opor a sua causa.
"Se qualquer um de vocês tentar traí-la [a luta], eu, Chacha, vou procurar essa pessoa até encontrar. O Governo está a tentar capturar-me, mas não vai conseguir. Eu ainda estou aqui e não estou a fugir. Estou a lutar", ouve-se no áudio.
Chacha seria um dos combatentes separatistas da região administrativa de Bui, no noroeste dos Camarões. Na gravação que circula pelas redes sociais, ele sublinha que as Forças de Restauração do Sul dos Camarões vão continuar a lutar pela autodeterminação.
O áudio foi tornado público no domingo passado (23.01). No mesmo final de semana, alegados apoiantes de Chacha compartilharam vídeos de cerca de 40 supostos combatentes de outros grupos. Seis deles foram encontrados mortos, inclusive Efang – um dos líderes do grupos.
Conflito entre rebeldes
Os supostos guerrilheiros teriam sido presos por trair o movimento de Chacha. O porta-voz dos rebeldes das Forças de Defesa Anglófonas, Tapang Ivo Tanku, confirmou que os combatentes sequestrados e mortos eram integrantes do seu grupo.
"Nossos soldados foram primeiramente sequestrados por Chacha, que os matou. Trata-se de um crime de guerra, um crime contra a humanidade, que viola as convenções de Genebra. É exatamente isso o que o regime do vizinho Camarões quer ver na Ambazônia."
Tanku também acusa as forças armadas dos Camarões de infiltrarem-se em grupos que lutam pela independência.
O general de brigada Valere Nka, comandante do exército dos Camarões, diz que as suas tropas são profissionais e não vão negociar com quem chama de "impostores". O militar diz que vai eliminar todos os combatentes que se recusarem a se render e entregar as suas armas.
"Quero lançar um alerta aos chamados generais, aos falsos generais, Chacha, Tiger, Field Marshal e todos os outros. Nós já conhecemos os seus esconderijos e paradeiro. Nós vamos intensificar as operações militares e, se não depuserem as suas armas, vamos atacá-los e esmagá-los", ameaça o general.
O levante das aldeias
Os confrontos dos últimos dois meses entre grupos separatistas em todas as cidades e vilarejos da unidade administrativa de Lebialem levam os camaroneses anglófonos a questionar se os combatentes estão a lutar por um Estado independente, que chamam de Ambazônia, ou se por seus interesses pessoais.
Desde dezembro passado, moradores de comunidades anglófonas dos Camarões atacaram pelo menos dez zonas dominadas por rebeldes. Os civis acusam separatistas de destruir casas de civis, saquear e matar pessoas inocentes.
Civis em revolta dizem que não sabem mais em quem confiar, pois os militares cometem crimes semelhantes contra a população.
Claudette Mangha, deslocada da região de Bui, diz que combatentes como Chacha a fizeram perder a confiança na luta por um Estado independente.
"Se ele está lá para nos proteger, como ele sozinho matou 23 dos seus combatentes? Eu não confio nele, porque ele já demonstrou que não é um líder. É o fim da luta, na minha opinião. Aquelas são pessoas que afirmavam que estavam a nos proteger. Como é que eles estão a matar uns aos outros? Isso significa que a luta chegou ao fim", conclui Mangha.