Número de meninas raptadas na Nigéria incerto
23 de fevereiro de 2018O ataque contra um internato de meninas em Dapchi, no estado federado de Yobe, ocorreu na segunda-feira passada (19.02), mas continua a não haver certeza sobre o número de alunas desaparecidas e o seu paradeiro. Os pais, citados pela agência de notícias Associated Press, dizem que compilaram entregaram ao Governo uma lista de 101 crianças desaparecidas. O governador de Yobe fala em 50 e a polícia do estado em 111.
Por seu lado o Governo central, na voz do ministro da Informação, Lai Mohammed, pede tempo para clarificar a situação: "Até que as estudantes apareçam ou que os pais nos digam que estão com elas, não podemos apontar o número de estudantes que faltam. Dêem-nos mais uns dias, por favor".
Na quarta-feira (21.02), o Governo do estado de Yobe anunciou que as estudantes tinham sido resgatadas pelo exército, naquela que foi a primeira confirmação oficial da hipótese de sequestro. Mas um dia mais tarde, o governador admitiu que as crianças continuam desaparecidas.
Protestos da população
As informações contraditórias geram revolta na comunidade. Grupos de jovens exigindo notícias ergueram barricadas nas ruas, queimaram pneus e atingiram com pedras os veículos em que seguia a delegação do Governo do estado. As famílias acusam as autoridades de tentarem esconder o sequestro.
Uma estudante que escapou ao ataque, e que pediu para não ser identificada, explicou à DW África que algumas das suas colegas fugiram quando ouviram disparos e entraram em veículos estacionados junto à escola: "O nosso medo é que tenham sido membros do Boko Haram disfarçados de militares a sequestrarem-nas, fingindo que estavam a salvá-las".
O ataque em Dapchi acontece numa altura em que continuam bem presentes as memórias do sequestro de mais de 200 raparigas pelo Boko Haram numa escola em Chibok, no vizinho estado de Borno, em 2014. Cerca de 100 estudantes sequestradas foram libertadas, mas 112 continuam em cativeiro.
Promessa por cumprir de derrotar Boko Haram
De visita à aldeia de Dapchi, esta quinta-feira (22.02), o ministro da Informação classificou o mais recente ataque do grupo radical islâmico como uma manobra publicitária: "Estes são os últimos dias do Boko Haram e eles querem envergonhar o Governo. Estão completamente sem poder e querem oxigénio. O oxigénio é a publicidade, é isso que eles querem, algo que chame a atenção do mundo".
Passaram-se mais de três anos desde a eleição do Presidente Muhammadu Buhari, que prometeu derrotar o Boko Haram. E o ataque de Dapchi levanta questões sobre a garantia do Governo de que tem o total controlo da segurança no nordeste da Nigéria, afirma Tsambido Hosea-Abana, presidente da Associação Chibok, em Abuja, criada aquando do rapto de centenas de meninas duma escola daquela localidade, há três anos. "O Governo está a tentar esconder que o Boko Haram continua a criar o caos. Há apenas três ou quatro dias anunciou que tinha desmantelado a organização. E é precisamente neste momento que o sequestro acontece", afirma.
Para o analista político Sylvester Odion Akhaine, o ataque de segunda-feira pode estar relacionado com este anúncio do Governo nigeriano: "É razoável sugerir que o ataque tem a ver com informações das forças de segurança de que teriam dizimado a maior parte do núcleo duro dos insurgentes do Boko Haram e que o líder, Abubakar Shekau, estaria em fuga”.