Sissoco avisa que PM "não foi eleito e pode ser demitido"
13 de novembro de 2021O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, disse este sábado (13.11) que vai reagir oficialmente a situação política que se vive no país, tomando uma "grande decisão" no próximo dia 17 de novembro, sem esclarecer se vai dissolver o Parlamento ou apenas demitir o Governo.
Sobre a sua relação com o atual primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam, o chefe de Estado lembrou aos guineenses que Nabiam não ganhou as eleições [legislativas] para chegar ao poder.
"O primeiro-ministro não ganhou as eleições [legislativas] para lá estar e eu é que o nomeei para o cargo. Eu ganhei as eleições presidenciais, no dia em que não o quiser lá, será demitido. No nosso sistema político, o Presidente é o fiscalizador e tem muitos poderes. Não vou admitir que ninguém passe a linha vermelha. Quando José Mário Vaz não me quis, tirou-me e nada aconteceu. Eu não posso ter problemas com quem eu mando ou quem eu nomeio", avisa o chefe de Estado
Falando aos jornalistas no aeroporto internacional de Bissau, o chefe de Estado guineense disse que "tudo tem o seu limite", por isso, não vai deixar que seja tratado como se fosse um bandido.
Sissoco Embaló explica que a sua decisão de dia 17 de novembro não irá comprometer a estabilidade do país e cita o caso de Portugal onde o Presidente dissolveu o Parlamento e convocou eleições legislativas.
Questionado pelos jornalistas sobre a tal decisão reservada para o dia 17, o Presidente guineense adiantou apenas que já convocou o Conselho de Estado, o seu órgão de consulta, para o mesmo dia.
"Há onda de greves que desgastam o Governo. Por isso, cada um deve assumir as suas responsabilidades, porque não vou permitir a desordem neste país".
Caso avião arrastado em Bissau
Sem que os jornalistas perguntassem sobre o avião retido no aeroporto desde o passado dia 29 de outubro, Sissoco Embaló afirmou não existir nada de anormal com o aparelho, que, disse, pertence a uma empresa estrangeira que pretende abrir um hangar de manutenção de aeronaves em Bissau.
"Todo este filme é por causa do combate à droga e à corrupção que estou a levar a cabo e que vou continuar", precisou Embaló.
Em declarações na terça-feira (09.11) no Parlamento, o deputado José Carlos Monteiro, do Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15) e que preside à Comissão Especializada para a Área da Defesa e Segurança, afirmou que o presidente do Conselho de Administração da Autoridade de Aviação referiu aos responsáveis da comissão que recebeu um pedido de aterragem no aeroporto Osvaldo Vieira de um avião proveniente da Gâmbia e que o "pedido foi feito pelo chefe de gabinete do Presidente da República".
José Carlos Monteiro afirmou que é preciso "imputar responsabilidade, porque o avião não pode entrar no país sem que se saiba o que trouxe e os que o trouxeram saíram do país".
"O problema deste avião é um teatro para desviar atenções sobre o combate a corrupção e a droga, que são bandeiras do meu mandato presidencial. Estão a fazer isso porque fechei todas as torneiras", afirmou este sábado o Presidente do país Umaro Sissoco Embaló.
"Não sou bandido e nem ando com os bandidos", disse que alega que a aeronave cumpriu os procedimentos legais antes de aterrar em Bissau. Sissoco Embaló foi um dos líderes do partido até chegar à presidência da Guiné-Bissau em 2019.
Presidente deixa aviso
Respondendo diretamente ao deputado do seu partido, o Presidente guineense citou os casos de partidos que tiveram força no passado, mas que depois desmoronaram-se devido às querelas políticas.
"A verdade é que por inerência de funções um Presidente da República não pode ser militante ativo de um partido, mas as pessoas devem lembrar como é o Movimento Bafatá surgiu e como é que acabou. Como é o PUSD chegou ao Parlamento e como desapareceu depois", afirmou o Presidente, numa clara alusão ao seu partido, Movimento para a Alternância Democrática (ADEM-G15).
Para o chefe de Estado guineense o deputado fez a denúncia a mando de alguém. "Ainda não vou dizer que é o seu mandate".
Umaro Sissoco Embaló garantiu que Kumba Ialá foi o último presidente a ser derrubado por um golpe militar na Guiné-Bissau e João Bernardo ‘Nino’ Vieira foi o último chefe de Estado a ser morto em funções.
O chefe de Estado garantiu que vai sair do Palácio da Presidência pelos seus próprios pés como fez o seu antecessor no cargo, José Mário Vaz.