Sociedade civil guineense dividida sobre sanções da CEDEAO
5 de março de 2018Na Guiné-Bissau, o Movimento Nacional da Sociedade Civil para a Paz, Democracia e Desenvolvimento, maior movimento social do país, não apoia os cidadãos Inconformados no pedido que fez no domingo (04.03) à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), para que se implemente sanções contra o Presidente José Mário Vaz, disse em entrevista à DW África Fodé Sanhá, um dos membros desse movimento. Os Inconformados dizem que o chefe de Estado é o responsável pela crise que se arrasta em Bissau há mais de dois anos.
DW África: O Movimento Nacional da Sociedade Civil guineense não apoia a iniciativa dos jovens que pedem à CEDEAO que sancione o Presidente do país, José Mário Vaz, que acusam de ser o mentor da situação. Porque esta posição contra um outro movimento da sociedade civil guineense?
Fodé Sanhá (FS): O Movimento Nacional da Sociedade Civil não subscreveu o pedido de sanção sobre o Presidente da República, uma vez que é uma iniciativa isolada de uma organização que é o Movimento dos Cidadãos Consciente e Inconformados. Não fomos tidos em conta nesta perspetiva pela promotora da iniciativa.
DW: Os Inconformasdos dizem que o Presidente é um dos atores principais neste impasse na crise político-institucional na Guiné-Bissau. O que o Movimento da Sociedade Civil tem a dizer sobre isto?
FS: O que nos interessa é a aproximação dos atores políticos em busca da solução para esta crise e não é responsabilizar uma instituição ou um órgão de soberania em particular. Estamos fora disso.
DW: E sobre as sanções que a CEDEAO aplicou às 19 personalidades guineenses. Essas medidas já estão a dar alguns resultados, vão ter algum efeito na solução da crise?
FS: Do nosso ponto de vista acho que as sanções não irão facilitar a resolução da crise, porque não entendo que até este momento não há nenhum critério para aplicação das sanções. Só cabe à CEDEAO explicar qual é o propósito que tem para aplicar as sanções e evidenciar os critérios que tem utilizado para aplicá-las às 19 personalidades, inclusive as pessoas que achamos que estão a fazer política partidária, algumas são familiares que nem são subescritoras do Acordo de Conacri. Tudo isto poderá agravar a situação de crise ao invés de facilitar a saída da mesma.
DW: O PRS considera o Acordo de Conacri como "extemporâneo", ou seja que já não seria a solução para a crise. O que o seu movimento acha desta posição?
FS: Achamos que o Acordo de Conacri ainda está em cima da mesa para ser apreciado entre os guineenses. Não há ninguém que ponha em causa o roteiro que está plasmado no Acordo de Conacri. Apenas há uma divergência em termos da escolha da figura do primeiro-ministro. Estes três nomes foram propostos pelo Presidente da República, mas no conteúdo geral do Acordo de Conacri todas as partes signatárias estão interessadas. Por isso acho que é válido para nós e deve ser um documento que se tem como base para se encontrar um Governo que possa levar o país às eleições.
DW: E seriam as eleições o caminho para se acabar com o impasse em Bissau?
FS: Seria caso se revermos alguns aspetos que tem a ver com a lei eleitoral, rever a Constituição porque como está plasmado o roteiro do Acordo de Conacri que a peça fundamental em todo este processo para que não regressemos depois das eleições à mesma situação de instabilidade.