Solidariedade dos guineenses mantém Hospital Simão Mendes a funcionar
17 de abril de 2012Imagine um hospital onde falta tudo: material de emergência médica, alimentos para doentes e pessoal, combustível para os geradores e combustível para as ambulâncias. Este é o retrato, terrível, mas real, do Hospital Nacional Simão Mendes em Bissau.Com pragmatismo a enfermeira-chefe, Ema Paula Albino diz “está a funcionar a meio-gás, mas vai funcionando”.
Desde a insurreição militar de quinta-feira passada (12.04), que a prestação de serviços de saúde na capital guineense, que já era deficitária - só para se ter uma ideia no Simão Mendes os doentes levam os seus próprios lençóis, muitas vezes a sua própria comida e medicamentos - se tornou ainda mais complicada.
O Facebook como tábua de salvação
Habituados que estão a lidar com obstáculos o pessoal médico não cruzou os braços recorreu ao Facebook para lançar vários apelos pedindo alimentos para os doentes, água e material cirúrgico e de emergência.
Pode faltar muita coisa na Guiné- Bissau, mas solidariedade não. A resposta aos apelos do Simão Mendes, esmagadora num dos países mais pobres do mundo, não tardou a chegar. “As pessoas doaram géneros de primeira necessidade”, conta Ema Paula Albino. E à medida que as doações foram chegando as fotografias foram sendo publicadas no Facebook, no comentário a uma delas alguém escreveu "não sei se sabem o que é passar fome, eu sei, por isso quis ajudar os doentes do Simão Mendes".
O arroz, óleo, a água, o leite em pó oferecidos por particulares, ONGs, empresários e recolhidos por jovens guineenses foram partilhados com outro estabelecimento médico em carência, o Hospital Raoul Follerou, que acolhe pacientes com SIDA ou doenças infeciosas. Esta segunda-feira (16.04) também sete mil litros de combustível foram doados por um privado para manter os geradores do Simão Mendes a funcionar. Por hora o hospital consome cerca de quarenta litros.
Um enfermeiro para 123 camas
A greve nacional convocada terça-feira (17.04) como forma de protesto contra o golpe de Estado e o medo de alguns trabalhadores também tiveram o seu impacto. Um exemplo? “Vemos um serviço como a Pediatria do hospital onde para 123 camas há um enfermeiro, mas graças à boa vontade de dois enfermeiros, um italiano e outro espanhol já temos três enfermeiros na pediatria".
Apesar da generosidade dos guineenses a direção do Hospital continua inquieta. "A alimentação chega até ao final da semana, mas no bloco de urgência a anestesia, o material de sutura, pensos, compressas e luvas só chegam até quarta-feira", salienta, Johannes Mooji, o administrador. "Se não houver nenhuma emergência médica". Por isso, "todo o material de primeiros socorros que alguém queira doar é muito bem vindo", diz Ema Paula Albino.
Autora: Helena Ferro de Gouveia
Edição: António Rocha