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Solução da crise passa por reconhecer papel de Dhlakama

Guilherme Correia da Silva15 de janeiro de 2014

É a opinião do investigador alemão Johannes Plagemann que afirma que se vive “um regresso à guerra” em Moçambique. Analistas da Alemanha e dos EUA debatem, esta quarta-feira (15.01), a escalada de violência no país.

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Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images

Há ou não uma guerra civil em Moçambique? Johannes Plagemann não precisa de muito tempo para responder. Para o investigador do Instituto de Estudos Globais e Regionais (GIGA), em Hamburgo, no norte da Alemanha, a resposta é evidente: "o facto de haver frequentemente confrontos entre as duas facções adversárias da guerra civil, a RENAMO e o exército do Governo, liderado pela FRELIMO, mostra que houve um regresso à guerra civil".

Mas, neste conflito, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, não tem a mesma força que no passado. Vinte e um anos depois do fim da guerra civil moçambicana (entre 1977 e 1992), a RENAMO já não tem apoios internacionais, segundo o investigador que participa no debate do GIGA, esta quarta-feira (15.01).

Na altura, a RENAMO foi apoiada pela Rodésia (hoje Zimbabué) e pela África do Sul. Enquanto que "nos anos 80, a guerra civil estava ligada às tensões regionais na África subsaariana, hoje, a RENAMO já não recebe apoios de fora. Está por conta própria em termos de recursos", comenta Johannes Plagemann.

Discurso de Dhlakama está desatualizado

De acordo com o investigador, o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, parece estar a tentar recuperar a influência que perdeu nos últimos anos. Durante meses a fio, o partido da oposição tem exigido, em vão, ao Governo moçambicano uma maior representação nas Forças Armadas e, por exemplo, paridade na composição dos órgãos eleitorais.
Mas este é um pedido "irrealista", afirma o investigador Johannes Plagemann, porque “a situação política mudou”. Muitos moçambicanos já não se revêem no discurso de Dhlakama, em particular os jovens.

E surgem novas forças no cenário político de Moçambique. “Há agora um outro partido da oposição, o MDM [Movimento Democrático de Moçambique], que nas eleições autárquicas teve um desempenho muito bom em todas as grandes cidades. E que goza de uma certa popularidade no seio dos jovens”, observa o investigador do GIGA.

Como remando contra a maré, “Dhlakama contrasta com a sua retórica de regresso do antagonismo da guerra civil. Essa é uma alternativa que não agrada aos jovens moçambicanos", interpreta Plagemann.
Segundo o investigador, a presença de observadores internacionais nas conversações entre a RENAMO e o Governo poderia ajudar a ultrapassar a crise político-militar em Moçambique.

No entanto, será decisivo um outro factor: "o mais importante é que seja oferecida à RENAMO e aos membros armados da RENAMO uma perspectiva no seio das forças de segurança moçambicanas e da sociedade. E é preciso oferecer a Dhlakama a perspectiva de que ainda pode desempenhar um papel político na sociedade, mesmo que, no passado, Dhlakama não se tenha evidenciado como um político progressista", sugere Johannes Plagemann.

Instabilidade poderá hesitar investidores

Além disso, a economia moçambicana cresceu nos últimos anos, alavancada pelas descobertas de recursos naturais, como o carvão e o gás natural. Para 2014, o Fundo Monetário Internacional prevê um crescimento de 8,5% do Produto Interno Bruto.
Até agora, os confrontos entre o exército moçambicano e homens da RENAMO não parecem ter afugentado os grandes investidores. Mas isso pode mudar no futuro se a instabilidade política continuar. "É claro que um investidor escolherá sempre um local para a sua empresa onde não há esse tipo de instabilidade política", alerta Johannes Plagemann, investigador do Instituto de Estudos Globais e Regionais na Alemanha.

Solução da crise em Moçambique passa por reconhecer papel de Dhlakama

Mosambik Führer der Oppositionspartei RENAMO Afonso Dhlakama 2013
Oferecer ao líder da RENAMO, Dhlakama, um papel político na sociedade seria uma opção para o fim da instabilidade no país, segundo analistaFoto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Unruhen in Mosambik
Os confrontos em Moçambique evidenciam "um regresso à guerra civil", segundo PlagemannFoto: picture-alliance/dpa
Johannes Plagemann GIGA Institut
Johannes Plagemann, investigador do Instituto de Estudos Globais e Regionais (GIGA)Foto: GIGA
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