Somália: "Al-Shabab e Al-Qaeda são o passado"
23 de fevereiro de 2012Devastada por mais de duas décadas de guerra civil, "A Somália, um Estado falhado", foi o tema de uma conferência internacional que decorreu em Londres, reunindo representantes de mais de 40 países e de uma dezena de organizações, entre as quais a ONU, a Liga Árabe e a União Europeia.
Na resolução final, os participantes comprometem-se a dar “um novo impulso ao processo político” daquele país do Corno de África, a sancionar aqueles que se opuserem e a intensificar as ações “para atacar os piratas terroristas”. O documento faz ainda referência a um reforço da força da União Africana na Somália (AMISOM) e à ajuda à formação das forças de segurança do país.
Numa altura em que falta meio ano para o final do mandato do governo somali de transição (que se conclui em agosto), os líderes internacionais estão preocupados com as incertezas do futuro.
A Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que participou na conferência de Londres, disse já que a comunidade internacional não vai tolerar o prolongamento do governo de transição.
Clinton apelou à comunidade internacional para aplicar sanções a quem tentar impedir a transição política na Somália e anunciou ainda uma ajuda suplementar dos Estados Unidos à Somália no valor de 64 milhões de dólares (48 milhões de euros).
Por seu turno, o ministro dos negócios estrangeiros alemão, Guido Westerwelle, também anunciou que a Alemanha vai doar seis milhões de euros à Somália. O dinheiro será principalmente para o tratamento de pessoas deslocadas internamente na área da capital Somali, Mogadíscio.
A chefe da diplomacia norte-americana mostrou-se entretanto otimista quanto à ameaçada terrorista que se vive no país. “A Al-Shabab e a Al-Qaeda voltaram-se uma para a outra porque os dois grupos estão isolados. Principalmente agora, quando as revoluções democráticas a decorrerem em vários países demonstram que os jovens que poderiam ser atraídos por grupos extremistas, têm neste momento um caminho mais construtivo. Esse é o futuro. Al-Shabab e Al-Qaeda são o passado.”
“Envenenados pelo radicalismo"
A proliferação do terrorismo na Somália é um dos problemas que mais preocupa o Reino Unido, anfitrião do encontro, frisou o primeiro-ministro britânico David Cameron. “Os problemas da Somália não afetam apenas a Somália. Afetam-nos a todos. Num país em que há tão pouca esperança, onde há caos, violência e terrorismo, os piratas estão a afetar as rotas vitais para o comércio e a raptar turistas”.
O chefe de governo frisou ainda que o jovens estariam a ser “envenenados pelo radicalismo”, e advertiu “se ficarmos sentados a olhar vamos pagar um preço por isso. David Cameron fazia, assim, alusão aos 50 cidadãos do Reino Unido que, segundo os serviços secretos, viajaram para a Somália para receber treino e combater nas fileiras do Al-Shabab, que tem ligações à al-Qaeda.
De acordo com a agência France Press, os diplomatas presentes no encontro sublinharam a fragilidade do processo político concluído entre as partes somalis no sábado. Hillary Clinton qualificou como “ambicioso” esse acordo que prevê a implementação de uma Assembleia Constituinte em agosto para definir os contornos de um futuro estado federal e para preparar eleições.
O presidente e o primeiro-ministro da Somália participaram na conferência. O chefe de governo Abdiweli Mohamed Ali afirmou querer que o país retorne à segurança, pois têm medo do amanhã.
Oportunidade para a paz
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, considerou precisamente a conferência internacional como uma oportunidade para um amanhã de paz. “Abrimos espaço para a paz e a estabilidade na Somália. É um pequeno espaço mas é uma oportunidade que não podemos perder para ajudar o povo da Somália e pôr fim à ameaça e estabilidade que lá se vive, uma oportunidade para compreender a visão de uma Somália pacífica e produtiva”.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas prepara o reforço de efetivos da força da União Africana na Somália (AMISOM) para cerca de 18 mil homens.
Autor: Glória Sousa
Edição: Helena Ferro de Gouveia / António Rocha