"Sou tão criminoso quanto eles," diz Agualusa sobre detidos
6 de julho de 2015O rapper angolano Luaty Beirão, um dos 15 jovens ativistas detidos a 20 de junho em Luanda, continua em greve de fome e junta-se assim a Nito Alves que há dias está também sem se alimentar. Ambos encontram-se presos.
O escritor angolano José Eduardo Agualusa mostra-se solidário com os jovens ativistas que estão presos em Angola por alegada tentativa de golpe de Estado. Agualusa afirma que "estava envolvido neste projeto de manifestação," referindo-se àquela que seria uma manifestação pacífica levada a cabo pelos jovens e que acabou por os levar a todos para a prisão.
"O Luaty Beirão, que é uma das pessoas que estão presas e era o principal mentor deste projeto de manifestação, estava a organizar uma manifestação - à qual ele chamou "Buzina Só" - que seria uma manifestação pacífica, apelando aos automobilistas para buzinarem num determinado dia da semana a favor da democratização do país, de maior justiça social etc," revela.
Para o escrito angolano, tratava-se de "uma manifestação absolutamente pacífica, até um pouco ingénua".
Envolvimento de Agualusa
Agualusa diz que ele próprio também colaborou nesse projeto pacífico.
"Ele pediu-me para gravar um vídeo de solidariedade para com este projeto para disponibilizar nas redes sociais, o que eu fiz," relata.
"Nesse sentido, sou tão criminoso quanto eles. Se o Luaty Beirão e os jovens cometeram algum crime, eu também cometi," afirma o escritor.
Quinze jovens estão presos em várias cadeias de Luanda por alegadamente terem estado a planear um atentado contra o Presidente José Eduardo dos Santos e dar-se assim um suposto golpe de Estado.
"O que se está a passar é muito inquietante porque esta detenção não tem base nenhuma sustentável. A acusação é de tentativa de golpe de Estado, o que me parece completamente absurdo," avalia Agualusa.
"Os jovens estavam reunidos a ler um livro, são pessoas que não têm nenhuma ligação ao aparelho militar nem a algum partido, não têm nenhuma possibilidade sequer de pensar em fazer um golpe de Estado. Portanto, esta acusação é completamente absurda e, nesse sentido, é muito preocupante porque está-se a prender pessoas apenas porque estão reunidas tentando organizar uma manifestação pacifica. Isto é um recuo enorme na democratização do país," conclui o escritor.
Para Agualusa, "se um governo tem medo de 15 jovens aos quais acusa de tentativa de golpe de Estado, significa que este regime é extremamente fraco e pode ser, enfim, derrubado facilmente e a qualquer momento sem que nós saibamos muito bem o que vai acontecer a seguir, porque não há partidos políticos de oposição forte."
Falta informação sobre detidos
Em relação aos jovens detidos, a DW-África também falou com Isabel Correia, a mãe de Osvaldo Caholo, um dos jovens que foi detido posteriormente - em sua casa, na quarta-feira passada (01.07) -e está na prisão.
"A Procuradoria-Geral da República, que pronunciou-se, não nos dá nenhum detalhe," lamenta.
"Consegui falar com ele no sábado (04.07). Ele não demonstra tristeza quando vê a família, mas está preocupado. Ele alimenta-se. Hoje fomos lá levar comida, mas não era o dia para visita, então não nos deixaram entrar," revela a mãe de Caholo.
Perguntada sobre o tratamento que tem sido dado ao seu filho na cadeia, Isabel Correia diz que não sabe "se ele está a ser bem tratado".
"Está numa cela, sempre fechado. Isso não é tratamento, para quem não cometeu nenhum crime? Não sabemos onde bater para nos esclarecer, dizem que ele é preso do Presidente e não nos dizem mais nada," dasabafa.
Entretanto, deputados da UNITA, o maior partido de oposição angolana, anunciaram que vão visitar, nesta terça-feira (07.07), os 15 jovens ativistas na prisão.