Subida dos combustíveis gera onda de protestos em Moçambique
22 de março de 2022O anúncio pelas autoridades moçambicanas para o aumento do preço de combustíveis no país está a provocar uma onda de paralisações da atividade de transporte de pessoas e bens. Os transportadores exigem também o ajustamento do custo de transporte.
Nesta segunda-feira (21.03), como forma de protesto, houve registo de paralisação dos transportes nas cidades de Nampula e Tete. Em Nampula, os transportadores prometem continuar a greve até que as suas reivindicações sejam resolvidas.
Em entrevista à DW, Luís Vasconcelos, presidente da Associação dos Transportadores Rodoviários de Nampula (ASTRA), diz que os atuais preços dos combustíveis tornam a atividade de transporte insustentável.
DW África: Como é que a ASTRA reage aos atuais preços de combustíveis no país?
Luís Vasconcelos (LV): A situação dos transportes a nível do país é insustentável, na medida que os preços do combustível estão a disparar.
DW África: E em Nampula houve esta greve dos transportes. O que é que se passou?
LV: Desde que houve o primeiro aumento de combustíveis no ano passado, que nos transportes urbanos não está sendo mexida a tarifa. É verdade que a nível do ministério diz-se que este transporte está sendo subsidiado. Mas não são todos os transportadores urbanos de passageiros que estão a beneficiar deste subsídio transformado em linha de crédito. Mesmo esta linha de crédito não está a trazer nenhum benefício aos transportadores, visto que esta linha de crédito é para os transportadores poderem exercer atividade e pagar aquelas viaturas. Então, esta linha de crédito não é viável para os transportadores, não traz nenhum benefício. Pelo contrário, é mais um problema para os transportadores.
DW África: Nesse caso, o vosso ponto é que é preciso que o Governo olhe para o setor de transportes com alguma sensibilidade?
LV: Tem de olhar para o setor dos transportes com sensibilidade. Não está a ajudar os transportadores em nada! Está a criar endividamento, porque esse carro vai transportar naquela mesma tarifa, que não é viável para um transportador normal, que tem a sua própia viatura.
DW África: E como é que a ASTRA olha para este aumento do preço do combustível no mercado nacional?
LV: Com esse negócio não concordamos, porque estamos a pagar dizem por causa da Ucrânia-Rússia, aquela guerra dura há quase 30 dias. Sabemos que o país tem uma reserva de combustível. Onde é que está a reserva de combustível do nosso país? Aquele combustível que foi abastecido antes daquela guerra, porque é que esse combustível hoje vai aumentar? Porque é que não esperámos para dizer que agora vamos adquirir combustível com este preço, porque agora há a situação da guerra da Ucrânia e esperarmos 30 dias que o barco saia, ou da Rússia ou da Ucrânia para vir para Moçambique. E não dessa forma como está a ser feito.
DW África: É uma espécie de oportunismo?
LV: É o que todos os transportadores acham que está a acontecer, que isso é oportunismo!
DW África: Como associados, têm sido consultados pelas autoridades antes que o governo anuncie novas tabelas do preço do combustível?
LV: Nós só nos apercebemos através dos órgãos de comunicação que há subidas. E mesmo nesses órgãos de comunicação há também contraditório, um diz que a reserva que nós temos aqui neste país, não vai haver nenhuma subida e no dia seguinte vamos às bombas e não se verifica o que foi dito, já subiu. E em nenhum momento nós somos chamados para discutir e preparar os nossos associados para evitar o que está a acontecer hoje. Hoje é em Nampula, ontem foi em Pemba e depois não sabemos para onde é que vai.