Sucessão de Presidente do Zimbabué continua em aberto
12 de dezembro de 2014Depois de vários adiamentos, o Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, pôs um ponto final na especulação em torno do seu novo vice-presidente. Na quarta-feira, 10 de dezembro, Mugabe anunciou a nomeação do ministro da Justiça Emmerson Mnangagwa. A decisão não foi uma surpresa. O político de 68 anos é um aliado próximo de Robert Mugabe desde a luta pela independência, nos anos 70, e tem sido várias vezes apontado como um possível sucessor do chefe de Estado de 90 anos.
O economista zimbabueano Vincent Musewe acredita que a posição agora ocupada por Mnangagwa vai ganhar mais destaque, apesar de, no Zimbabué, o vice-presidente nunca ter tido um papel significativo, porque: “Mugabe não é uma pessoa que gosta de delegar. Mas dada a sua idade e a forma como age, é altura de se reformar. Por isso, é previsível que seja dado mais trabalho a Mnangagwa, mais jovem”.
Campanha de difamação entre rivais
Os analistas acreditam que a nomeação de Mnangagwa faz parte da estratégia do Presidente Mugabe de se rodear de políticos cuja lealdade não levanta quaisquer dúvidas. Nesta linha, no dia anterior, Mugabe demitiu a vice-presidente Joyce Mujuru. A justificação oficial prende-se com uma conduta “inconsistente” no cumprimento das suas funções, registando-se “conflitos entre as responsabilidades oficiais e os interesses privados”.
No passado também Mujuro foi apontada como possível sucessora de Mugabe. Mas, recentemente a mulher do Presidente, Grace Mugabe, acusou a ex-vice-presidente de incompetência e uso indevido de fundos públicos. Os meios de comunicação estatais afirmam que Mujuru e os seus aliados estariam envolvidos numa conspiração para assassinar Robert Mugabe. A ex-vice-presidente rejeita todas as alegações e fala de uma campanha de difamação bem orquestrada.
Um partido governamental dividido
Tal como Mujuru, também o novo vice-Presidente enfrentou acusações de conspirar contra Robert Mugabe. As suspeitas dissiparam-se ao longo dos anos e Mnangagwa voltou à lista dos favoritos à sucessão.
Entretanto, abriu-se um fosso na União Nacional Africana do Zimbabué-Frente Patriótica (ZANU-PF), dividindo os apoiantes de Mnangagwa e Mujuru. Mugabe destituiu não só a ex-vice-presidente mas também os ministros da segurança, energia e comunicações, leais a Joyce Mujuru.
Wilf Mbanga, director do jornal “The Zimbabwean”, acredita que os recentes acontecimentos não são bons sinais para o partido no poder: ”Ainda havia esperança de que Mugabe não chegasse a este ponto, mas tentasse acomodar esse sector para garantir a unidade do seu partido”. O jornalista teme que a unidade do partido seja destruída e acrescenta: “Não me surpreenderá se, nas próximas semanas, Mujuru for levada a tribunal e julgada por todos os tipos de traição e corrupção”.
Grace Mugabe candidata secreta à presidência?
O futuro de Mnangagwa também levanta algumas dúvidas. O candidato à presidência do ZANU-PF em 2018 continua a ser Robert Mugabe, uma decisão saída do congresso da semana passada. Mas não é claro se, com 95 anos, Mugabe estará em condições de disputar uma eleição. O economista Vincent Musewe lembra que, de acordo com a Constituição, Mugabe pode nomear diretamente um sucessor à presidência do Zimbabué: “Para todos os efeitos, Mugabe pode nomear a sua mulher como Presidente e Mnangagwa mantém-se na vice-presidência. Por isso pode ter havido um acordo aqui: Mnangagwa é nomeado agora, mas Grace Mugabe será promovida mais tarde. Acho que é isto que está a ser preparado”.