Sudão do Sul usa comida como arma de guerra, alerta ONU
11 de novembro de 2017O Presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, está a utilizar mantimentos como armas de guerra para atacar civis, bloqueando as ajudas humanitárias em algumas áreas. A denúncia é dos especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) que monitorizam a aplicação de sanções, que alertaram o Conselho de Segurança da organização para a situação vivida no país.
"O Governo durante grande parte de 2017 impediu deliberadamente que a assistência alimentar chegasse a alguns cidadãos", revelaram os especialistas. "Essas ações equivalem a usar a comida como uma arma de guerra com a intenção de castigar os civis que o Governo vê como opositores".
De acordo com os especialistas da ONU, entre 2016 e 2017, tropas governamentais na cidade de Wau, no noroeste de Wau, e as áreas circundantes do oeste de Bahr el-Ghazal visaram civis por motivos étnicos e provocaram o deslocamento de mais de 100 mil pessoas.
"A recusa de ajuda causou insegurança alimentar extrema em grande parte da população, com desnutrição e morte por fome, em particular na região de Greater Baggari, no concelho de Wau", disseram os especialistas no relatório apresentado ao Comité de sanções do Sudão do Sul no Conselho de Segurança da ONU. A missão do Sudão do Sul para as Nações Unidas não comentou o relatório.
"Terreno fértil para um genocídio"
O Sudão do Sul entrou em guerra civil no final de 2013, dois anos depois de ganhar a independência do Sudão. A guerra já provocou o deslocamento de um terço da população de 12 milhões de pessoas. O conflito foi provocado por divergências entre Salva Kiir, de etnia Dinka, e o seu ex-vice-Presidente Riek Machar, um Nuer, que está na África do Sul.
A ONU alertou que a violência no Sudão do Sul estava a promover um "terreno fértil" para um genocídio.
A embaixadora americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, visitou Juba, capital sul-sudanesa, no final de outubro, e disse a Kiir que os Estados Unidos perderam a confiança no seu Governo e que o país arriscava perder o apoio de Washington se não procurasse a paz.
Além das restrições à ajuda humanitária, o relatório dos especialistas da ONU também apontou que, apesar das condições catastróficas no Sudão do Sul, forças armadas, grupos e milícias – particularmente os afiliados a Kiir e ao vice-presidente Taban Deng Gai – continuam a "impedir ativamente operações humanitárias e de manutenção da paz".