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ConflitosSudão

Sudão: Enviada da ONU alerta para risco de genocídio

Kersten Knipp
7 de junho de 2024

Esta "guerra ignorada" na África Oriental está a transformar-se numa "bomba-relógio". Na região de Darfur, a violência pode estar a atingir contornos de genocídio, alertou a enviada das Nações Unidas.

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Deslocados sudaneses
Foto: LUIS TATO/AFP

O Sudão está em guerra há mais de um ano. Segundo a Organização das Nações Unidas, o conflito entre dois grandes grupos militares - as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF) - já fez pelo menos 14 mil mortos e mais de 8,5 milhões de deslocados. As partes em guerra e os seus parceiros parecem ter pouco interesse em solucionar a situação.

Na região de Darfur, a violência pode já estar a atingir a escala do genocídio, alertou a enviada das Nações Unidas, Alice Nderitu, numa declaração ao Conselho de Segurança da ONU, há alguns dias. "Os civis estão a ser atacados e mortos por causa da cor da pele, por causa da sua etnia", denunciou.

A organização Médicos Sem Fronteiras disse que se assiste no Sudão "a um banho de sangue diante dos nossos olhos", avançando que, só desde 10 de maio, pelo menos 145 pessoas morreram e mais de 700 ficaram feridas. As organizações de ajuda humanitária quase não conseguem trabalhar devido à violência.

Batalha pela capital do Darfur

A situação em El Fasher, a capital do estado do Darfur do Norte, é particularmente crítica.

"Atualmente, temos um grande problema, que é a batalha pela capital do Darfur, El Fasher. O nosso grande receio é que as Forças de Apoio Rápido tomem El Fasher, o que, naturalmente, resultaria numa enorme vaga de refugiados", alertou Marina Peter, presidente do Fórum alemão do Sudão e do Sudão do Sul.

Em El Fasher vivem mais de um milhão de pessoas que fugiram da guerra. A cidade é mantida pelas Forças Armadas Sudanesas, sob o comando de Abdel Fattah al-Burhan, e ao mesmo tempo sitiada e atacada com frequência pelas Forças de Apoio Rápido rivais, sob o comando de Mohamed Hamdan Daglo (também conhecido como Hemeti).

Sudão: A União Europeia podia fazer mais?

A brutalidade deve-se ao facto de as partes em guerra estarem sob pressão de tempo. Quanto mais tempo durar a guerra, mais provável é que as alianças se desmoronem. E ambos os lados têm-se apoiado em alianças com milícias locais. Mas as coligações individuais são difíceis de controlar.

"O conflito entrou numa nova e perigosa fase em que o Sudão continuará a desintegrar-se", aponta uma análise do International Crisis Group (ICG).

Atores internacionais interessados no conflito

As partes em conflito apoiam-se cada vez mais em alianças, também com parceiros internacionais. Por exemplo, o líder militar al-Burhan lançou uma iniciativa diplomática visando o Irão, no outono passado. Desde então, as SAF passaram a contar com drones, com que podem pressionar o inimigo. O Egito e a Arábia Saudita também apoiam al-Burhan.

Por outro lado, o seu rival, Hemeti, encena-se como um combatente de libertação. Neste papel, conseguiu obter o apoio dos Emirados Árabes Unidos (EAU). A Rússia também está, pelo menos indiretamente, do seu lado. Em troca, Hemeti cedeu à milícia Wagner direitos de exploração das vastas jazidas de ouro do Sudão.

Mas, de um modo geral, é provável que os atores internacionais tenham pouco interesse em solucionar o conflito. Hager Ali, analista do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), explica que, "com o colapso das instituições estatais, dos processos estatais e dos canais oficiais, é mais fácil projetar interesses na região".

E, na situação em que está, o Sudão "oferece certas facilidades para todos os Estados", afirma o analista.

"O Sudão é a porta de entrada para o Mar Vermelho e do Mar Vermelho para África." Sem instituições a funcionar normalmente, encurtam-se os tempos de espera para estabelecer uma base militar ou uma presença diplomática, por exemplo. "Tudo acontece muito mais rapidamente através de canais não oficiais e opacos de contrabando de armas", conclui Ali.