Sudão: Quem apoia quem no conflito?
5 de maio de 2023O conflito que coloca frente a frente os generais Abdel Fattah al-Burhan e Mohammed Hamdan Dagalo, no Sudão, arrasta-se já há 21 dias e traz preocupações no que toca à segurança regional. Isto porque estão em jogo muitos interesses para os países vizinhos. Mas quem apoia quem neste conflito?
Não se sabe ao certo quem são os aliados das Forças de Apoio Rápido, leais a Dagalo, mais conhecido como Hemedti, mas pensa-se que incluem a Arábia Saudita, o Iémen, os Emirados Árabes Unidos, as forças do marechal Khalifa Haftar da Líbia e o grupo paramilitar russo Wagner. Já as Forças Armadas Sudanesas, de Al-Burhan, têm laços profundos com o Egito.
Outro ator importante é a Arábia Saudita, que tem apoiado os dois lados.
Culpas mútuas
Em entrevista à DW, Aly Verjee, investigador e especialista no Sudão, diz que tanto o Ocidente como os países do Golfo, podem ter exagerado na sua influência no conflito. E os resultados estão à vista.
"Não sabemos exatamente como isto começou. E ambos os lados têm-se culpado mutuamente. Mas [al-Burhan e Hemedti] tinham de saber que a decisão de escalar o conflito desta forma seria muito mal recebida e ainda assim avançaram. Sempre que alguém de topo fala num cessar-fogo, eles dizem, sim, sim, sim. E depois continuam a fazer o que querem".
Hassan Khannenje, diretor do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (HORN), acredita que os países estrangeiros vão continuar a tentar convencer ambas as partes a negociar a paz. No entanto, e na ausência de diálogo, o especialista receia que: "Nas próximas uma, duas, três semanas, vamos ver que os aliados de fora do Sudão vão começar a canalizar dinheiro e armas".
A situação no país complica-se ainda mais com a instabilidade e as disputas que existem ao longo da sua fronteira. Etiópia e Sudão, por exemplo, disputam há vários anos as terras de Al-Fashaga, algo que acaba por influenciar na hora da tomada de decisões, alerta Khannenje.
"A Etiópia não quer iniciar outra guerra com o Sudão, mas se a crise em curso a puder ajudar a obter alguma vantagem numa mesa de negociações mais tarde, é claro que pode ser tentada a tomar certas medidas. Mas, nesta fase, não podemos dizer que estejam a apoiar qualquer um dos lados", disse.
Al-Burhan e Hemedti uniram-se, em 2019, para derrubar o Presidente Omar al-Bashir. No entanto, consideram os analistas, a atual relação entre os dois é tão má que os combates só terminarão quando um deles derrotar o outro.
Segundo dados do Ministério da Saúde do Sudão, pelo menos 550 civis foram mortos e cerca de 5 mil ficaram feridos desde o início do conflito. A instabilidade fez disparar o número de deslocados na região.