Sudão recebe mais de mil refugiados do Sudão do Sul por dia
20 de março de 2017A guerra e a fome no Sudão do Sul já levaram milhares de sul-sudaneses para o vizinho Sudão nos últimos meses. De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais de mil pessoas do Sudão do Sul - muitas delas mulheres e crianças - estão a chegar à fronteira sudanesa todos os dias.
Centros de acolhimento foram criados na fronteira, onde a agência da ONU para os refugiados e as autoridades sudanesas estão a prestar ajuda humanitária aos deslocados.
"Perdi toda a minha família na guerra”, conta a sul-sudanesa Fronica Peter, num acampamento improvisado. "Éramos sete: cinco irmãos e dois filhos. Deixei a minha casa, e andei vários dias para chegar aqui. Eu nunca vou voltar. Foi terrível".
Intensificar a ajuda humanitária
Ahmed Mohamed Adam, do Alto Comissariado de Ajuda Humanitária do Sudão, afirma que a fome, consequência do conflito armado e da seca no Sudão do Sul, está na origem da crescente crise de refugiados.
"Só entre fevereiro a março, já chegaram mais de 70 mil refugiados sul-sudaneses”, revela. "Somados aos que chegaram desde o início da guerra civil no Sudão do Sul, o número de refugiados sul-sudaneses no Sudão já chega a 600 mil”.
Em resposta à crescente necessidade, o Governo sudanês e agências internacionais de ajuda intensificaram os esforços para fornecer comida e remédios aos refugiados que chegam esgotados após longas e arriscadas caminhadas até ao Sudão.
"Os refugiados que chegaram aqui fizeram uma longa viagem, alguns deles estão seriamente desidratados, muitos dos idosos têm tensão alta ou baixa, geralmente fazemos um simples exame físico e oferecemos tratamento", explica Mohamed Elsir, que trabalha no Departamento de Saúde do Crescente Vermelho.
Analista culpa EUA
Majid Mohamed Ali, um analista político sudanês, considera que a crise humanitária é resultado da política dos Estados Unidos em relação ao Sudão e ao Sudão do Sul.
Os EUA desempenharam um papel fundamental na criação do acordo de paz, em 2005, entre o Sudão e o Movimento de Libertação do Povo Sudanês, que estabeleceu as bases para o referendo de independência e a secessão do Sudão do Sul em 2011.
Majid Mohamed Ali afirma que os EUA não honraram o acordo ao levantar as sanções contra o Sudão após a independência do Sudão do Sul.
Nos últimos anos, a economia sudanesa tem sido atingida pelos baixos preços do petróleo, a independência do Sudão do Sul e as contínuas crises internas, enquanto o Sudão do Sul foi destruído por uma guerra civil, resultando em mortes e milhares de pessoas fugindo do país.
"Os Estados Unidos adotaram uma política dupla para as administrações do Sudão e do Sul do Sudão, o que levou ao agravamento da situação política em ambos os países”, considera o analista. "Washington não honrou o acordo de paz de 2005. E agora uma tragédia está a desenrolar-se na fronteira Sudão-Sudão do Sul”.
Mohamed Ali considera que "as dezenas de milhares de refugiados sul-sudaneses que chegam ao Sudão por causa da fome” são motivo "suficiente para que os Estados Unidos revejam as suas políticas para com os dois países". Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, o número de cidadãos que fugiram do Sudão do Sul já ultrapassou a marca de um milhão e meio de pessoas, colocando o país em terceiro lugar depois da Síria e do Afeganistão em termos de números de refugiados.