Sudão: Regresso da violência depois de trégua de 24 horas
12 de junho de 2023"Após o fim do cessar-fogo de curta duração, os facilitadores ficaram profundamente desiludidos com o recomeço imediato da violência intensa, que condenamos veementemente", de acordo com um comunicado conjunto.
No entanto, Riade e Washington reconheceram que, durante o cessar-fogo de 24 horas, o exército e as RSF tinham "demonstrado um comando e um controlo eficazes das forças", o que conduziu a "uma redução dos combates em todo o Sudão", e permitiu "a entrega de assistência humanitária vital e a realização de algumas medidas de confiança".
Os dois países, que têm mediado as conversações de paz para o conflito que se prolonga desde 15 de abril, afirmaram que, apesar de terem ocorrido violações", estão "dispostos a retomar as conversações em Jeddah, na condição de as partes demonstrarem empenho em proteger os civis no país".
Também reiteraram que "continuam a apoiar o povo do Sudão" e instaram as partes a pôr fim aos combates imediatamente, uma vez que "não existe uma solução militar aceitável para o conflito". As tréguas anteriores foram, geralmente, violadas desde a entrada em vigor.
Catástrofe humanitária
A guerra no Sudão já fez mais de 1.800 mortos e dois milhões de deslocados e refugiados, de acordo com a ONU. A catástrofe humanitária agrava-se cada vez mais e parece não ter fim à vista.
"Estamos a caminhar para uma situação de fome", afirma à DW Muzan Alneel. Segundo a co-fundadora da organização sudanesa Estanad, os recursos alimentares do país estão a tornar-se escassos porque os campos não foram semeados, em consequência do conflito.
Os combates, que prosseguem apesar das várias tréguas, paralisaram praticamente a economia sudanesa. Além disso, a subida da inflação, o colapso do sistema financeiro e a escassez de água, de alimentos, de electricidade, de medicamentos e de pessoal de saúde agravaram a situação ao ponto de a tornar insustentável para a população.
"Guerra de desgaste"
"O nosso bairro é como uma cidade fantasma", conta à DW Yasir Zeidan, investigador da Universidade Nacional do Sudão, que conseguiu sair do país de barco e vive actualmente exilado na Arábia Saudita.
Zeidan relata que um vizinho que decidiu ficar lhe disse que "os paramilitares saquearam todo o bairro" e também "invadiram" a sua casa. Os soldados andavam à procura de dinheiro ou ouro, além de chaves de automóveis. "Levaram carros para transportar armas e homens", diz.
"Esta guerra tornou-se uma guerra de desgaste, em que o resultado será determinado pelo apoio que as duas partes em conflito receberem", considera Theodore Murphy, diretor do Programa para África do Conselho Europeu de Relações Externas.
"Esse apoio pode ser externo, sob a forma de dinheiro e armas de parceiros regionais, mas também pode ser interno", uma vez que o apoio de grupos tribais também é relevante neste contexto, explica.
"A luta em Cartum não será decidida apenas pelas armas e não há espaço para uma vitória decisiva", afirma também Hager Ali. A investigadora do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA) considera que transformar o conflito militar em curso num conflito étnico favorece as RSF, que tentam "mudar o campo de batalha".
“As Forças de Apoio Rápido podem ser uma força de guerrilha, mas Cartum continua a ser para elas um campo de batalha desconhecido. Assim, deslocar a guerra para Darfur, como temos visto nas últimas semanas, dá-lhes vantagem. As suas táticas de saque, pilhagem e incêndio funcionam melhor no Darfur do que em Cartum", conclui.