São Tomé: Maior crise de combustíveis à beira do fim?
21 de junho de 2023Em vários pontos da capital, as pessoas circulam a pé, a maioria dos transportes está parada. É o impacto da maior crise de combustíveis de sempre que o país enfrenta.
O ambiente agradece, mas a economia está praticamente paralisada. Toda a cadeia de negócios está a ser afetada. Os pescadores, por exemplo, deixaram de ir à faina por falta da gasolina.
"Nesta época, os pescadores não podem ficar de braços cruzados. Mas a maioria das embarcações estão paradas", disse um pescador.
Solução cara
As gasolineiras deixaram de vender combustíveis há duas semanas. Os reservatórios atingiram níveis críticos. Uma solução de abastecimento encontrada pelo Governo não resultou até agora. No alto mar, um navio petroleiro proveniente do Togo ainda não terá conseguido fazer o transbordo de combustíveis para o reservatório da Empresa Nacional de Combustíveis e Óleo (ENCO) em Neves, zona norte de São Tomé.
"O navio chegou no domingo às 17:30, horário local. Estava tudo marcado para segunda-feira da manhã (19.06), mas é a primeira vez que o comandante vem a São Tomé e tem tido dificuldades técnicas para poder pôr o navio em segurança, para fazer a trasfega do combustível", afirmou Orlando da Mata, diretor financeiro da ENCO.
Oposição critica "amadorismo" do Governo
A compra dos combustíveis no Togo custou ao Governo 11 milhões de dólares. A petrolífera angolana Sonangol passou a fornecer os combustíveis a São Tomé e Príncipe a pronto pagamento, devido uma dívida que o país acumula há vinte anos, estimada em 300 milhões de dólares.
Jorge Bom Jesus, ex-primeiro-ministro e presidente do MLSTP/PSD (maior partido da oposição), acusou o Governo de Patrice Trovoada de "amadorismo e incompetência técnica e política" na gestão da crise de combustíveis.
"É um processo atabalhoado, sem o mínimo de transparência, desde o montante de financiamento da operação à natureza do crédito", disse Bom Jesus.
O MLSTP-PSD (Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social Democrata) solicitou um debate de urgência no Parlamento para discutir o problema. Segundo o partido, os deputados têm de ter acesso à documentação e informação sobre o processo de compra deste combustível, além de ser necessária uma reunião com a direção da ENCO e uma visita ao navio que se encontra em Neves.
Empréstimo pouco claro
Patrice Trovoada, que regressou esta terça-feira (20.06) ao país depois de um períplo pelos Estados Unidos América, Brasil, Costa Marfim e Gana, garante ter encontrado uma solução para o problema.
"É um barco que vem vazio para transbordar aquilo que está em Neves e para levar para os tanques da ENCO", anunciou o primeiro-ministro. "E em Angola está a ser carregado outro que também pode entrar em Neves, embora possa demorar de dois a três dias. Se tudo correr bem como previsto, teremos gasolina e gasóleo amanhã", disse na ocasião.
O primeiro-ministro são-tomense, no poder há sete meses, diz que a crise de combustível se deve à falta de divisas no Banco Central, desde dezembro de 2022. Trovoada anunciou ter conseguido um empréstimo de 11 milhões de dólares para financiar a compra dos combustíveis, mas não especificou a instituição financiadora. A oposição desconfia que o processo está ferido de ilegalidades.
"Nós fizemos uma operação financeira que explicarei dentro de dias, porque eu ouvi umas declarações aí de alguns partidos políticos. Como eu digo: Às vezes, as pessoas perdem uma oportunidade de ficarem caladas. Mas nós explicaremos isso e outras coisas", prometeu Patrice Trovoada.
O primeiro-ministro prometeu ainda recompensar os taxistas, mototaxistas e outros agentes económicos pelos prejuízos acumulados durante a crise.