Tchizé diz que se Isabel for a Luanda será "grande traidora"
12 de julho de 2022Na polémica entrevista, a filha de José Eduardo dos Santos disse não saber ainda se a irmã Isabel dos Santos irá um eventual funeral na capital angolana. "A menos que cometa o grande erro de chegar a algum tipo de acordo", disse.
"Se for ao funeral, será vista como uma grande traidora, como João Lourenço", o Presidente de Angola, afirmou na noite passada à CNN Portugal Tchizé dos Santos, quando confrontada com essa possibilidade.
Welwitchia "Tchizé" dos Santos reagia à informação avançada pelo jornal português Expresso, segundo o qual a empresária Isabel dos Santos terá admitido, numa reunião por videoconferência com uma delegação do Governo angolano, no sábado (09.07), a possibilidade de permitir a realização do funeral do pai em Luanda, mas só depois das eleições de 24 de agosto - para evitar que João Lourenço obtenha vantagens políticas com a organização do enterro.
Ainda de acordo com o semanário, já foi realizada uma reunião por videoconferência entre Isabel dos Santos e uma delegação governamental angolana, ocorrida no sábado (09.07), para debater os detalhes do funeral de José Eduardo dos Santos.
O vice-procurador-geral da República, Mouta Liz, assegurou, entretanto, que durante o período de luto nacional os filhos de José Eduardo dos Santos exilados no exterior podem entrar e sair do país e que não haverá nenhuma detenção. "Nem se prendem pessoas em dias de óbito, a própria lei exclui essa possibilidade", afirmou.
"Eu corro perigo de vida"
Tchizé dos Santos voltou a afirmar que não vai, de forma alguma, participar em cerimónias fúnebres em Angola e que também não vai "vender o corpo" do pai, que morreu na passada sexta-feira (08.07), em Barcelona, Espanha.
"Eu não irei pôr o pé em nenhuma instituição angolana, nem sequer um consulado, nem sequer um carro de matrícula diplomática angolana, enquanto João Lourenço for Presidente", sublinhou.
E tal como já tinha afirmado numa entrevista exclusiva à DW em finais de junho, insistiu que a sua vida está em perigo e que é perseguida pelas autoridades angolanas: "Eu corro perigo de vida em qualquer sítio onde ele tenha controlo."
"Sou cidadã portuguesa e não sinto segurança jurídica para estar em Portugal, porque o Governo português já baixou as orelhas ao governo de João Lourenço", acusou ainda a filha do antigo Presidente angolano.
Na mesma entrevista, Tchizé dos Santos não poupou críticas ao atual chefe de Estado. "José Eduardo dos Santos era o alvo que ele queria destruir e conseguiu", acusou. "Eu acho que o meu pai morreu por não ter apoiado João Lourenço", disse ainda.
Negociações entre família e Governo
As exéquias fúnebres de José Eduardo dos Santos estão a ser negociadas entre a família e o governo angolano, mas as divergências continuam e alguns dos filhos mostram-se contra a entrega imediata do corpo a Luanda.
Ontem, o ministro angolano da Justiça de Angola confirmou que está em Barcelona uma delegação do Governo a negociar com a família do antigo Presidente o envio dos restos mortais para Angola.
Francisco Queiroz garantiu que as negociações estão no bom caminho e disse acreditar que o Governo e a família vão chegar a um consenso: "Consta que as coisas estão a decorrer bem dentro daquilo que se pode considerar o normal nesta ocasião".
A UNITA, principal partido da oposição angolana, defendeu, numa declaração política divulgada na segunda-feira (11.07), que deve ser a família de José Eduardo dos Santos a definir quando e onde será realizado o funeral.
Autópsia já foi realizada
Entretanto, o corpo do antigo Presidente de Angola José Eduardo dos Santos já foi autopsiado em Barcelona, Espanha, depois da autorização judicial recebida na sexta-feira (08.07).
As autoridades espanholas anuíram a realização de uma autópsia ao cadáver do ex-Presidente, na sequência de uma providência cautelar interposta pelas filhas, que defendem a realização do funeral em Barcelona.
Segundo o Jornal de Angola, a autópsia feita pelo Instituto de Medicina Legal da Catalunha "afasta qualquer possibilidade de envenenamento como a causa da morte, contrariando as acusações feitas por alguns familiares." Uma informação ainda não confirmada pelos advogados da família.