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Terrorismo em Cabo Delgado: "O sofrimento é demasiado"

António Cascais
5 de março de 2024

A nova vaga de ataques em Cabo Delgado dificulta ainda mais o trabalho das ONG de ajuda humanitária na província. À DW, um funcionário envolvido na causa pede ao Governo e à comunidade internacional mais ajuda.

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Deslocados em Pemba (Foto de arquivo)
Deslocados em Pemba (Foto de arquivo)Foto: DW

Na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, a insegurança tem aumentao a "olhos vistos", segundo os relatos de vários interlocutores no terreno.

Os insurgentes islamistas têm vindo a ocupar cada vez mais território e mostram-se cada vez mais imunes e indiferentes às investidas das forças de segurança. Como é que isso se repercute no trabalho das organizações não-governamentais (ONG) que atuam em Cabo Delgado?

Em entrevista à DW, o presidente do conselho de direção do Fórum das ONGs de Cabo Delgado (FOCADE), com sede em Pemba, Frederico João, diz que há muitas dificuldades devido às restrições de segurança impostas pela violência na região.

"Há áreas em que não temos acesso, porque há atividades militares a acontecer e isto também periga a nossa integridade física, a nossa vida", relata Frederico João, acrescentando que "há dificuldades, especialmente nas zonas remotas, onde há a maior influência dos terroristas".

Frederico João, que também faz parte da associação "DIMONGO", que trabalha sobretudo na área da formação da cidadania, e na monitorização da administração local, lança um apelo à comunidade internacional e ao Governo, afirmando que "o sofrimento já é demasiado" na região.

DW África: A violência islamista tem muito impacto no seu trabalho?

Frederico João (FJ): Claramente, tem um impacto muito grande nas nossas atividades. Reduz a nossa ação e confina-nos para locais considerados seguros.

Frederico João, presidente do FOCADE
Frederico João, presidente do FOCADEFoto: Privat

Há áreas a que não temos acesso, porque há atividades militares a acontecer e isto também periga a nossa integridade física, a nossa vida. Daí a opção de nos manter mais nas zonas consideradas seguras.

DW África: De que áreas falamos?

FJ: Estamos a falar mais ou menos das zonas costeiras, do distrito de Macomia, principalmente nas zonas de Mucojo. Temos ouvido relatos de ações de terroristas em algumas aldeias, por exemplo, no distrito de Mecúfi e em Chiùre. Há também um movimento estranho em Quissanga,que já tinha sido um pouco seguro, há alguns meses atrás, e ouvimos recentemente relatos sobre incursões ao largo de uma das ilhas do arquipélago das Quirimbas, mais próximo da Ilha do Ibo.

DW África: No fórum de Cabo Delgado, de que é presidente, fazem parte ONG que dão assistência humanitária aos deslocados. Como podem trabalhar nestas condições?

FJ: É possível dar assistência na medida em que alguns centros de acomodação [de deslocados] nunca chegaram a ser desativados. Mas também há dificuldades, especialmente nas zonas remotas, onde há maior influência dos terroristas. É um desafio grande, porque há outros [deslocados] que não conseguem chegar a esses centros. E vão-se criando novos aglomerados.

Frederico João: "O apelo à comunidade internacional é sempre para que nos ajude"
Frederico João: "O apelo à comunidade internacional é sempre para que nos ajude"Foto: Privat

DW África: As autoridades governamentais e as forças de segurança têm-se mostrado eficazes em criar condições para que as ONG, de facto, possam fazer o seu trabalho no terreno?

FJ: A assistência humanitária exige respostas imediatas, mas muitas vezes as questões ligadas à burocracia também podem provocar alguns atrasos. São dinâmicas que acontecem face a esta violência, mas é preciso reconhecer que realmente há um esforço.

DW África: Há algum apelo que queira lançar às autoridades moçambicanas, mas também à comunidade Internacional, no sentido de melhorar as condições do vosso trabalho em Cabo Delgado?

FJ: O apelo à comunidade internacional é sempre para que nos ajude, que nos acolha, para que nós tenhamos realmente paz. E apelo claramente também ao Governo, para que continue a envidar esforços para minimizar essa situação, porque o sofrimento já é demasiado.

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