Thomas Sankara: O líder visionário
2 de janeiro de 2018Nascimento: 21 de dezembro de 1949. Assumiu o poder durante a revolução de 4 de agosto de 1983. No ano seguinte, muda o nome do país: a República do Alto Volta – herança do poder colonial francês – passa a chamar-se República Democrática e Popular do Burkina Faso, que significa "país do povo honesto". Sankara acabaria por ser derrubado por um dos seus companheiros mais próximos, Blaise Compaoré, na altura vice-Presidente. Foi assassinado a 15 de outubro de 1987, juntamente com 12 dos seus companheiros.
Reconhecimento: Por ter tentado transformar o país da África Ocidental num laboratório agrícola para alcançar a auto-suficiência alimentar. O líder visionário promoveu produtos fabricados no Burkina Faso e tentou impulsionar a produção e o consumo locais. Procurou igualmente melhorar o sistema de saúde e a educação num dos países mais pobres do mundo. O próprio Sankara ficou conhecido pelo seu estilo de vida modesto. A emancipação das mulheres também foi uma das suas prioridades políticas.
Críticas: Foi criticado pelas suas ligações a Muammar Kadhafi, que esteve 42 anos no poder na Líbia.
Inspiração: Num discurso histórico feito em julho de 1987 na União Africana, em Addis Abeba, Etiópia, o Presidente do Burkina Faso denunciou a dívida e as instituições de Bretton Woods que, segundo Sankara, foram herdadas do colonialismo. Quase três décadas após o seu assassinato, o capitão ainda é visto como um herói pelos que derrubaram o regime de Blaise Compaoré em outubro de 2014. Muitos consideram-no um ícone da juventude africana. Um memorial em sua honra está a ser construído em Ouagadougou, capital do Burkina Faso.
Frases famosas:
As origens da dívida remontam às origens do colonialismo. Aqueles que nos emprestaram dinheiro são os mesmos que nos colonizaram. São os mesmos que geriam as nossas economias. Os colonizadores endividaram África através dos seus irmãos e primos que eram os credores. Não temos nenhuma ligação com essa dívida. Portanto, não podemos pagar por isso.
Eu não sou um messias nem um profeta. A minha única ambição é uma dupla aspiração: primeiro, poder falar numa linguagem simples, com palavras claras e inequívocas, em nome do meu povo, o povo do Burkina Faso; em segundo lugar, conseguir também ser a voz dos "grandes deserdados do mundo", aqueles que pertencem ao mundo ironicamente batizado de Terceiro Mundo. E para declarar, embora não consiga fazê-los entender, os motivos da nossa revolta.
Queremos ser herdeiros de todas as revoluções do mundo, de todas as lutas de libertação dos povos do Terceiro Mundo.
Controvérsia: Pouco se falou sobre as circunstâncias e os responsáveis pela sua morte durante o golpe de Estado de 1987. A viúva, Mariam Sankara, ainda espera justiça. Foram feitos testes de ADN aos restos mortais do líder do Burkina Faso, mas estes não foram, alegadamente, conclusivos. Foi emitido um mandado de captura internacional contra o antigo Presidente do país Blaise Compaoré, que agora vive no exílio. Foram feitos vários pedidos de acesso aos arquivos franceses, para se tentar apurar se a antiga força colonial terá estado envolvida na morte do "Che Guevara Africano".
Thomas Sankara é considerado uma das grandes figuras políticas africanas do século XX, tal como Patrice Lumumba, Amílcar Cabral ou Nelson Mandela. Ficou conhecido por ter estado à frente de uma revolução no seu país, o Burkina Faso, em agosto de 1983. "O escravo que não é capaz de assumir a sua rebelião não merece que tenhamos pena dele. Este escravo será o único responsável pela sua desgraça se ele se iludir sobre a condescendência de um mestre que afirma libertá-lo. Apenas a luta pode ser livre", afirmou Sankara, que é ainda hoje é lembrado como um defensor não só do seu povo como de todos os africanos.
Com apenas 34 anos, o capitão Sankara mudou o nome do pequeno país da África Ocidental, que passou a chamar-se "país do povo honesto". Neste país sem costa marítima, a maior parte dos oito milhões de habitantes vive na pobreza. Como chefe de Estado, o "camarada Presidente", como era chamado, levou a cabo reformas no setor da saúde, na educação e agricultura. Thomas Sankara promoveu a produção local e o consumo interno, dando ele próprio o exemplo ao usar algodão fabricado no país. O seu objetivo era lutar contra o "imperialismo e o neocolonialismo".
"Era entendido pelas pessoas mais pobres, por aqueles que precisavam de justiça e consideração. Por aqueles que, apesar de serem pobres, tinham personalidade, aqueles que se orgulhavam de pertencer à sua comunidade ou à sua nação", recorda Moussbila Sankara, que na época era embaixador do Burkina Faso na Líbia. Segundo Moussbila Sankara, o que distinguiu o "Che Guevara africano" foi a sua "integridade", que "colocou ao serviço do seu país e do seu povo".
Quem assassinou Sankara?
Apesar dos mais desfavorecidos estarem sempre na lista de prioridades de Sankara, ele nem sempre os conseguiu defender. A revolução é uma marcha forçada, mesmo para aqueles que o Presidente diz querer proteger. Thomas Sankara queria que a capital do seu país fosse mais bonita e mais limpa, o que indiretamente conduziu a um deslocamento forçado da população mais pobre. Os Comités para a Defesa da Revolução eram outra preocupação do capitão, já que atuavam como milícias e atacavam os sindicatos.
Com o passar do tempo, o "Che Guevara africano" começou a ser um incómodo, até mesmo para alguns companheiros de luta. Foi assassinado a 15 de outubro de 1987. Um dos seus amigos mais próximos, Blaise Compaoré, assumiu o poder e manteve-se no comando do país durante 27 anos, até 2014.
Para Bruno Jaffré, biógrafo de Thomas Sankara, não existem dúvidas sobre o envolvimento de Campaoré na morte de Thomas Sankara. Lembrando que o ex-Presidente chegou a ser inidiciado pelo assassinato do amigo, Bruno Jaffré considera "bastante óbvio" o envolvimento de Compaoré. "Os homens que mataram Sankara respondiam a Gilbert Diendéré, que era na altura chefe de segurança, e que se tornou o braço direito de Blaise Compaoré durante toda a sua presidência", explica.
A memória de Thomas Sankara permanece muito presente no seu país: em outubro de 2014, muitos dos jovens que derrubaram o regime de Blaise Compaoré no Burkina Faso reivindicaram o legado de Sankara. Três anos depois, iniciou-se uma campanha de angariação de fundos para construir um memorial dedicado ao líder da revolução do Burkina Faso.
O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.