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Violência na abertura das urnas nas presidenciais do Burundi

A. Niyirora/M. Caldwell/M. Bölinger/G.Sousa/AFP/AP21 de julho de 2015

Cerca de 3,8 milhões de eleitores são chamados a voltar, esta terça-feira (21.07), nas presidenciais do Burundi. Em ambiente de tensão e violência, atual Presidente Pierre Nkurunziza concorre a um terceiro mandato.

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Barricadas espalham-se pela capital Bujumbura, no dia das eleições presidenciais do BurundiFoto: Getty Images/AFP/C. De Souza

Disparos e explosões foram ouvidos, pouco antes da abertura das assembleias de voto para as eleições presidenciais no Burundi, na zona de Musaga, sul de Bujumbura, esta terça-feira (21.07).

De acordo com um responsável da polícia, um polícia foi morto durante a noite desta segunda-feira (20.07) na explosão de uma granada em Mutakura, no norte da capital.

Testemunhas afirmaram também que um civil foi morto a tiro durante a noite no bairro de Nyakabiga, que já tinha sido palco de violência na véspera das eleições legislativas de 26 de junho - bastante criticadas pelas missões internacionais de observação.

O assessor-chefe de comunicaçõesde Nkurunziza, Willy Nyamitwe, condenou os ataques como "atos terroristas" destinadas a "intimidar os eleitores".

Três desistências

Afrika Wahl in Burundi Tote bei Protesten
O corpo de um homem, morto às vésperas das presidenciais, ainda está caído numa rua da capital, no momento da abertura das urnasFoto: picture-alliance/AP Photo/J. Delay

Dos oito candidatos à Predisência do Burundi, três abandonaram a corrida antes mesmo da abertura das urnas. Entre os que se mantêm, está o atual chefe de Estado Pierre Nkurunziza que se candidata a um terceiro mandato.

Todavia, o porta-voz da Comissão Nacional de Eleições Independente (CENI), Prosper Ntahorwamiye, negou essas desistências. "Tanto quanto eu sei, oito candidatos enviaram as suas candidaturas. As notícias que eles deixaram a corrida eleitoral vêm das estações de rádio," disse.

Antes do início da votação, Ntahorwamiy garantiu que está tudo a postos para o pleito.

"Os preparativos para a votação estão no bom caminho. Os órgãos provinciais e locais da comissão de eleições estão a lembrar os delegados sobre as regras eleitorais. As forças de segurança estão também a colaborar com aqueles órgãos e eu penso que tudo vai correr bem," declarou aos microfones da DW-África.

No entanto, é público que três candidatos, entre eles dois ex-Presidentes do Burundi, já anunciaram, numa carta conjunta, que estão fora da corrida - por considerarem que o pleito não será nem livre nem justo.

Afrika Wahl in Burundi
Votação na vila de Buye, cidade natal do Presidente NkurunzizaFoto: Getty Images/AFP/P. Moore

As mesmas críticas aponta a oposição que também boicota as presidenciais, como explica Agathon Rwasa líder do partido Forças Nacionais de Libertação.

"O governo acusa-nos de não querermos eleições. Mas isso não é verdade. Nós queremos eleições, mas eleições com normas democráticas," afirma.

A eleição acontece numa altura em que o diálogo para pôr fim ao impasse político entre o partido no poder e a oposição foi suspenso no domingo pela parte governamental.

A oposição contesta a recandidatura de Nkurunziza, dizendo que vai contra a Constituição que impõe como limite dois mandatos presidenciais. Já os apoiantes do atual Presidente defendem a candidatura a um terceiro termo - pois no primeiro mandato, em 2005, Nkurunziza foi escolhido por legisladores e não eleito por sufrágio direto.

Meses violentos

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Protestos violentos marcaram os últimos meses na capital BujumburaFoto: Getty Images/AFP/C. de Souza

No entanto, desde que, em abril, o partido no poder anunciou a recandidatura de Nkurunziza, mais de 100 pessoas morreram em manifestações e, em maio, houve uma tentativa de golpe de Estado. Receia-se portanto o regresso à violência desenfreada no pequeno país da Região dos Granes lagos Africanos.

Mais de 150 mil pessoas já fugiram para países vizinhos com medo das hostilidades e, segundo a organização Médicos Sem Fronteiras, cerca de mil pessoas partem diariamente para a Tanzânia.

A organização Grupo de Crise Internacional (International Crisis Group, do original em inglês) confirmou que o Burundi tem todos os ingredientes para uma catástrofe.

A investigadora Julia Grauvogel, do Departamento de Estudos Africanos do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), considera que no país se tem "uma situação política extremamente polarizada em que o Presidente rejeita qualquer voz crítica, mesmo no interior do seu partido [Conselho Nacional para a Defesa da Democracia, CNDD-FDD], a se recandidatar a um terceiro mandato".

Grauvogel acrescenta que "o partido no poder está disposto a defender a candidatura do seu Presidente a qualquer custo e a oposição está insatisfeita e pouco paciente para esperar por uma solução política".

Burundi Präsident Pierre Nkurunziza
O Presidente do Burundi, Pierre NkurunzizaFoto: picture-alliance/dpa/C. Karaba

Evasão dos eleitores

Neste ambiente de tensão, muitos eleitores preferem não ir a votos. Um residente na capital do Burundi, por exemplo, declarou à DW-África não acreditar que as eleições serão realmente democráticas.

"As eleições devem ser inclusivas e democráticas e votar significa escolher entre dois, três ou quarto candidatos. Portanto, se Nkurunziza está na corrida com outros aliados é como se fosse uma corrida com um só candidato," justificou.

Prevê-se, assim, uma vitória do atual Presidente Pierre Nkurunziza e teme-se o regresso à violência, depois do Acordo de Paz de Arusha que, em 2000, preparou o fim à longa guerra civil que, entre 1993 e 2006, fez mais de 300 mil mortos.

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