"Todos nós estamos chocados com ataques em Paris"
16 de novembro de 2015"França está muito diferente" desde os ataques de sexta-feira à noite, conta Ntoto Kanda. O angolano de 34 anos, a viver há seis em Paris, esteve esta segunda-feira na Place de la République, para onde centenas de pessoas têm rumado para homenagear os, pelo menos, 129 mortos nos atentados reivindicados pelo auto-proclamado Estado Islâmico. Kanda deparou-se com um clima de tristeza generalizada.
"Todos nós estamos chocados", afirma em entrevista à DW África. "Normalmente, no metro, há sempre um clima de bom ambiente, mas, nesses dias, você vê pessoas tristes, com medo. […] Nós, que somos de países onde houve guerra, conhecemos esta situação. Estamos aqui num país de democracia e paz, mas há sempre pessoas com más intenções, querendo perturbar a liberdade de que o povo desfruta. É muito triste ver isso."
Além das dezenas de vítimas mortais, centenas de pessoas ficaram feridas nos ataques de sexta-feira, 13, incluindo um jovem cabo-verdiano que trabalha na sala de espetáculos Bataclan, onde os extremistas mataram 89 pessoas, não muito longe da praça parisiense. O jovem foi atingido por balas nas pernas e nas costas, mas está a recuperar bem, informou a embaixada cabo-verdiana em França.
Esta segunda-feira de manhã, diplomatas, ministros e membros da sociedade civil cabo-verdiana cumpriram um minuto de silêncio em frente à embaixada francesa em Cabo Verde. No sábado, o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, condenou os ataques em Paris:
"Repudiando, veementemente, tão vil atentado, conclamamos todos os amantes da liberdade a cerrarem fileiras na luta contra quantos – pessoas e organizações – tenham como único objetivo a derrocada dos valores e dos pilares da liberdade e da democracia", escreveu o chefe de Estado cabo-verdiano numa carta de condolências enviada ao homólogo francês.
Solidariedade
O Presidente são-tomense também enviou uma mensagem ao chefe de Estado francês, François Hollande, manifestando a solidariedade do seu país.
"Nesta hora de dor e de luto, quero expressar a Vossa Excelência e por seu intermédio ao Governo e ao povo francês os testemunhos do nosso pesar e solidariedade, rogando seus especiais bons ofícios no sentido de transmitir às famílias enlutadas as nossas mais sentidas condolências", afirmou Manuel Pinto da Costa.
O Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, transmitiu igualmente votos de solidariedade para com o povo francês, dizendo, em comunicado, estar "consternado" com os acontecimentos em Paris.
O chefe de Estado guineense, José Mário Vaz, condenou com veemência os atentados, numa carta a Hollande:
"Neste trágico, doloroso e triste momento que vive a nação francesa, resultado de bárbaro e ignóbil atentado perpetrado por bandas terroristas que resultou na morte violenta de cidadãos franceses e provocou danos materiais consideráveis, quero apresentar a Vossa Excelência, em nome do povo da Guiné-Bissau que tenho a honra de representar e em meu nome próprio o nosso grande pesar e as nossas mais profundas condolências extensivas e todas as famílias, cujos entes queridos pereceram neste vil atentado de terrorismo internacional", afirmou Vaz, num documento citado pela Rádio Jovem guineense.
Até agora, ainda não houve uma reação da Presidência moçambicana aos ataques de sexta-feira à noite em Paris.
Cancelado concerto de solidariedade com 15+2
Entretanto, foi cancelado um concerto de solidariedade em Paris para com os 15+2 ativistas angolanos, acusados de prepararem uma rebelião e que começaram a ser julgados em Luanda esta segunda-feira. Ntoto Kanda era um dos organizadores do programa.
O concerto estava marcado para sábado, 21 de novembro, na Place de la République.
"Não é bom fazer o concerto enquanto o país está de luto. A Place de la République é o local onde a população está a render homenagem às vítimas dos terroristas", afirma Kanda. "Paris está muito triste."