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Governo e RENAMO trocam ameaças em Moçambique

Renate Krieger (AFP/LUSA)/Nádia Issufo8 de abril de 2013

Presidente Guebuza ameaça reagir com firmeza após ataque duplo que deixou três mortos em 06.04. Autoridades e partido oposicionista RENAMO negam autoria. RENAMO quer negociação, mas está pronta a "ripostar" ao governo.

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Militantes do antigo movimento rebelde RENAMO, agora maior partido da oposição, recebem treinamento no centro de Moçambique em novembro de 2012
Militantes do antigo movimento rebelde RENAMO, agora maior partido da oposição, recebem treinamento no centro de Moçambique em novembro de 2012Foto: Getty Images/AFP

O presidente moçambicano Armando Guebuza ameaçou nesta segunda-feira (08.04) reagir firmemente depois da morte de três civis em consequência de um ataque duplo no centro do país, no último sábado (06.04). Tanto as autoridades moçambicanas quanto o ex-movimento rebelde Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO, hoje o maior partido oposicionista moçambicano), rejeitam a responsabilidade pelos ataques contra dois autocarros e um camião-cisterna. Três pessoas morreram.

Segundo Guebuza, citado pela agência noticiosa France Presse, "são atos criminosos. [As vítimas] eram civis que nada tinham feito. Condenamos fortemente" os ataques, disse o presidente moçambicano na Rádio Moçambique, no domingo (07.04).

Os acontecimentos do fim de semana são os mais graves desde o retorno à paz em Moçambique, em 1992, ao fim de uma guerra civil que opôs o governo da FRELIMO à RENAMO durante 16 anos. No conflito, mais de um milhão de pessoas morreram.

Polícias deixam vítimas do ataque de quinta-feira (04.04) em hospital em Muxungué
Polícias deixam vítimas do ataque de quinta-feira (04.04) em hospital em MuxunguéFoto: Fernando Veloso

"Esperamos uma retribuição por parte da RENAMO, isto é, que a RENAMO pare com a linguagem belicista, que pare com atos de intimidação e que passe a conviver normalmente na sociedade moçambicana, obedecendo às normas que ela própria aprovou", afirmou Guebuza em Maputo, por ocasião das cerimônias do Dia da Mulher Moçambicana.

O presidente e líder da FRELIMO ainda acrescentou que seu governo tem dialogado com o principal partido da oposição. "Tem havido diálogo, todo o tempo, entre governo e a RENAMO, mas se ela [RENAMO] falar que diálogo é o governo dizer que sim, isso não é diálogo. O diálogo é a troca de opiniões, das quais resulta, ou não, um consenso, não é dar ordens à outra parte", disse Guebuza.

"Os acontecimentos de Muxungué vieram demonstrar, mais uma vez, que a RENAMO é um partido antidemocrático, que não quer a paz e cumpre uma agenda dos seus patrões, alheios à agenda do povo moçambicano", disse o secretário da FRELIMO para Mobilização e Propaganda, Damião José, citado pela agência noticiosa LUSA.

Também segundo a LUSA, o ministro do Interior, Alberto Mondlane, disse nesta segunda-feira (08.04) em Maputo que os responsáveis pelos ataques armados que culminaram na morte de civis em Muxungué serão perseguidos e responsabilizados criminalmente.

Ataques matam três pessoas e deixam dois feridos

No sábado (06.04), numa estrada próxima a Muxungué, na província central de Sofala, homens armados com Kalashnikovs e uniformes cáqui atacaram um camião-cisterna. O ataque resultou em três mortes. Os homens armados atacaram também um autocarro que transportava cerca de sessenta passageiros. Duas pessoas ficaram feridas.

A RENAMO, por seu lado, desmentiu a autoria dos ataques, acusando, segundo a AFP, as forças governamentais de terem vestido o uniforme do partido oposicionista para acusar o ex-movimento rebelde de atacar a população civil.

A Resistência Nacional Moçambicana assumiu, contudo, o ataque a uma caserna da polícia na noite de quarta para quinta-feira da semana passada (04.04). Segundo a AFP, o responsável de Segurança e Defesa da RENAMO, Ossufo Momad, chegou a afirmar que 15 polícias haviam sido mortos – e não quatro, como indicaram as autoridades. O ataque teria sido uma represália após um ataque violento da polícia a uma permanência da RENAMO em Muxungué.

Afonso Dhlakama, líder do partido oposicionista RENAMO
Afonso Dhlakama, líder do partido oposicionista RENAMOFoto: Ismael Miquidade

A província central de Sofala, onde as tensões aumentaram da última semana para cá, é terra natal do ex-comandante rebelde e presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama. As tensões, segundo noticiam as agências internacionais, aumentam com a aproximação das eleições autárquicas em novembro, mas também por causa da pobreza persistente da maioria da população, pela corrupção dos eleitos e pelas expectativas criadas pela chegada em massa de investidores internacionais, atraídos pelas reservas de carvão em Moatize e por enormes reservas de gás encontradas em Cabo Delgado, no norte do país.

RENAMO desmente envolvimento em ataques do fim de semana

A DW África falou na manhã desta segunda-feira (08.04) com Fernando Mazanga, porta-voz da RENAMO, sobre os ataques do fim de semana (pode ouvir a íntegra da entrevista ao clicar no quadro amarelo).

Fernando Mazanga afirmou que a RENAMO "não tem como alvo civis. O que aconteceu no sábado, nós queremos acreditar que terão sido as manobras terroristas das forças governamentais, uma vez que até no passado, durante a guerra de 16 anos, habituaram-nos a fazerem matanças para responsabilizarem a RENAMO", afirmou. O porta-voz da RENAMO disse que o objetivo da "prática reiterada de atacar civis por parte do governo" é "ganhar dividendos políticos".

Troca de ameaças marca tensão entre Governo e RENAMO em Moçambique

Mazanga ainda disse que a RENAMO foi "clara" nas suas declarações de que só atacaria se fosse atacada.

Interrogado sobre a existência de negociações que poderiam estar a decorrer para ultrapassar a tensão no centro do país, Fernando Mazanga afirmou à DW África que o governo "continua a ser arrogante" e a "optar pela via militar", fazendo uma "caça às bruxas". O governo, segundo Mazanga, também estaria a movimentar tropas, "incluindo as FADM (Forças Armadas de Defesa de Moçambique)".

Armando Guebuza, presidente de Moçambique
Armando Guebuza, presidente de MoçambiqueFoto: picture-alliance/dpa

"A RENAMO vai dar a resposta na medida do possível e de acordo com a proporção que for perpetrada pelo governo", disse Mazanga, ao mesmo tempo em que afirmou que a RENAMO continuará a privilegiar a via negociada. "Mas também estamos dispostos a ripostar a qualquer ataque que for feito pelo governo, quer aos desmobilizados, quer às populações", concluiu.

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