Governo e RENAMO trocam ameaças em Moçambique
8 de abril de 2013O presidente moçambicano Armando Guebuza ameaçou nesta segunda-feira (08.04) reagir firmemente depois da morte de três civis em consequência de um ataque duplo no centro do país, no último sábado (06.04). Tanto as autoridades moçambicanas quanto o ex-movimento rebelde Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO, hoje o maior partido oposicionista moçambicano), rejeitam a responsabilidade pelos ataques contra dois autocarros e um camião-cisterna. Três pessoas morreram.
Segundo Guebuza, citado pela agência noticiosa France Presse, "são atos criminosos. [As vítimas] eram civis que nada tinham feito. Condenamos fortemente" os ataques, disse o presidente moçambicano na Rádio Moçambique, no domingo (07.04).
Os acontecimentos do fim de semana são os mais graves desde o retorno à paz em Moçambique, em 1992, ao fim de uma guerra civil que opôs o governo da FRELIMO à RENAMO durante 16 anos. No conflito, mais de um milhão de pessoas morreram.
"Esperamos uma retribuição por parte da RENAMO, isto é, que a RENAMO pare com a linguagem belicista, que pare com atos de intimidação e que passe a conviver normalmente na sociedade moçambicana, obedecendo às normas que ela própria aprovou", afirmou Guebuza em Maputo, por ocasião das cerimônias do Dia da Mulher Moçambicana.
O presidente e líder da FRELIMO ainda acrescentou que seu governo tem dialogado com o principal partido da oposição. "Tem havido diálogo, todo o tempo, entre governo e a RENAMO, mas se ela [RENAMO] falar que diálogo é o governo dizer que sim, isso não é diálogo. O diálogo é a troca de opiniões, das quais resulta, ou não, um consenso, não é dar ordens à outra parte", disse Guebuza.
"Os acontecimentos de Muxungué vieram demonstrar, mais uma vez, que a RENAMO é um partido antidemocrático, que não quer a paz e cumpre uma agenda dos seus patrões, alheios à agenda do povo moçambicano", disse o secretário da FRELIMO para Mobilização e Propaganda, Damião José, citado pela agência noticiosa LUSA.
Também segundo a LUSA, o ministro do Interior, Alberto Mondlane, disse nesta segunda-feira (08.04) em Maputo que os responsáveis pelos ataques armados que culminaram na morte de civis em Muxungué serão perseguidos e responsabilizados criminalmente.
Ataques matam três pessoas e deixam dois feridos
No sábado (06.04), numa estrada próxima a Muxungué, na província central de Sofala, homens armados com Kalashnikovs e uniformes cáqui atacaram um camião-cisterna. O ataque resultou em três mortes. Os homens armados atacaram também um autocarro que transportava cerca de sessenta passageiros. Duas pessoas ficaram feridas.
A RENAMO, por seu lado, desmentiu a autoria dos ataques, acusando, segundo a AFP, as forças governamentais de terem vestido o uniforme do partido oposicionista para acusar o ex-movimento rebelde de atacar a população civil.
A Resistência Nacional Moçambicana assumiu, contudo, o ataque a uma caserna da polícia na noite de quarta para quinta-feira da semana passada (04.04). Segundo a AFP, o responsável de Segurança e Defesa da RENAMO, Ossufo Momad, chegou a afirmar que 15 polícias haviam sido mortos – e não quatro, como indicaram as autoridades. O ataque teria sido uma represália após um ataque violento da polícia a uma permanência da RENAMO em Muxungué.
A província central de Sofala, onde as tensões aumentaram da última semana para cá, é terra natal do ex-comandante rebelde e presidente da RENAMO, Afonso Dhlakama. As tensões, segundo noticiam as agências internacionais, aumentam com a aproximação das eleições autárquicas em novembro, mas também por causa da pobreza persistente da maioria da população, pela corrupção dos eleitos e pelas expectativas criadas pela chegada em massa de investidores internacionais, atraídos pelas reservas de carvão em Moatize e por enormes reservas de gás encontradas em Cabo Delgado, no norte do país.
RENAMO desmente envolvimento em ataques do fim de semana
A DW África falou na manhã desta segunda-feira (08.04) com Fernando Mazanga, porta-voz da RENAMO, sobre os ataques do fim de semana (pode ouvir a íntegra da entrevista ao clicar no quadro amarelo).
Fernando Mazanga afirmou que a RENAMO "não tem como alvo civis. O que aconteceu no sábado, nós queremos acreditar que terão sido as manobras terroristas das forças governamentais, uma vez que até no passado, durante a guerra de 16 anos, habituaram-nos a fazerem matanças para responsabilizarem a RENAMO", afirmou. O porta-voz da RENAMO disse que o objetivo da "prática reiterada de atacar civis por parte do governo" é "ganhar dividendos políticos".
Mazanga ainda disse que a RENAMO foi "clara" nas suas declarações de que só atacaria se fosse atacada.
Interrogado sobre a existência de negociações que poderiam estar a decorrer para ultrapassar a tensão no centro do país, Fernando Mazanga afirmou à DW África que o governo "continua a ser arrogante" e a "optar pela via militar", fazendo uma "caça às bruxas". O governo, segundo Mazanga, também estaria a movimentar tropas, "incluindo as FADM (Forças Armadas de Defesa de Moçambique)".
"A RENAMO vai dar a resposta na medida do possível e de acordo com a proporção que for perpetrada pelo governo", disse Mazanga, ao mesmo tempo em que afirmou que a RENAMO continuará a privilegiar a via negociada. "Mas também estamos dispostos a ripostar a qualquer ataque que for feito pelo governo, quer aos desmobilizados, quer às populações", concluiu.