Troca de armas por materiais de construção levanta dúvidas
28 de outubro de 2015A Polícia da República de Moçambique quer recolher todas as armas de fogo que estejam em mãos alheias e incentivou a população a colaborar numa campanha de “troca de armas por materiais de construção”, explica o comandante na província de Manica, Armando Canhenze: “Se alguém tiver um irmão que lhe deu uma arma para guardar, não tenha receio, nós recebemos a arma desde que esteja em condições. Quem conseguir quatro armas terá em troca 20 sacos de cimento”.
O comandante provincial garantiu que não haverá questionamentos sobre a proveniência das armas.
Em setembro, a província de Manica foi palco de confrontos armados entre as forças governamentais e homens da RENAMO. Em outubro, na cidade da Beira, foi desarmada a guarda pessoal do líder do maior partido da oposição, Afonso Dhlakama.
Um engodo para apanhar guerrilheiros da RENAMO?
Sofrimento Matequenha, delegado da RENAMO em Manica, refere que a polícia está a utilizar a campanha de troca de armas como engodo para apanhar guerrilheiros da RENAMO. Sendo assim, “a missão policial pode falhar pois o partido não tem armas na província”, diz Matequenha.
Mas a campanha poderá também servir para “apanhar armas nas mãos dos bandidos”, segundo o delegado da RENAMO.
O desarmamento deve ser feito por vias da liderança
O jornalista e analista Rodrigues Luís avança que a campanha pode falhar se não houver uma negociação prévia: “O desarmamento deve ser por via institucional. Conhecemos um partido, que é a RENAMO, que possui armas de fogo. O desarmamento deve ser feito através da liderança daquele partido. Caso contrário este exercício não vai frutificar. Pode-se pensar que a ação, que está a acontecer na província de Manica e nalgumas regiões de Sofala, não se trata de um desarmamento mas sim de um outro exercicío com vista a acabar com a proliferação de armas de fogo no país. Mas repito se este exercício visar a RENAMO vai falhar porque, ao longo dos últimos 20 anos, temos estado a assistir a um exercício semelhante e as armas continuam nas mãos da RENAMO,” declara o jornalista.