Tráfico de seres humanos, uma ameaça crescente em África
30 de julho de 2024O tráfico de seres humanos é um fenómeno generalizado em África. De acordo com várias organizações, existem cerca de sete milhões de pessoas a viver em alguma forma de escravatura moderna no continente.
À DW, Elvis Sowah, especialista em migrações da Universidade do Gana, afirma que um dos fatores que explica que estas pessoas caiam nas garras dos traficantes de seres humanos é a sua "difícil situação política e social”.
"Temos de olhar para a sua situação como um todo para podermos resolver o problema. A falta de alimentação, habitação e emprego e o agravamento da situação de segurança em muitos países da África Ocidental leva as pessoas a abandonar os seus países de origem”.
Migração, o facilitador do tráfico
Pelo caminho, que muitas vezes tem como objetivo a Europa, os migrantes, maioritariamente da Nigéria, Mali, Níger e Senegal, acabam por ficar sem dinheiro, vendo-se obrigados a entrar num círculo vicioso de violência.
Dados do grupo internacional de defesa dos direitos humanos "Walk Free” dão conta que mais de três milhões de pessoas foram forçadas a casar e quase quatro milhões sujeitas a trabalhos forçados em minas, na agricultura ou em casas particulares.
Outro fenómeno observado é o das pessoas que partem dos seus países para fugir dos seus agressores e que se veem novamente vítimas de tráfico de seres humanos. As mulheres e as raparigas são particularmente afetadas, diz Leonie Zantzer, da organização de ajuda e de direitos humanos Medico International.
"No seu país de origem, foi-lhes prometido que seriam transportadas para a Europa ou para os países do Magrebe. No entanto, acabam nas garras dos traficantes, obrigadas a vender o seu corpo e a trabalhar como prostitutas. Sair desta situação é muito difícil”.
Joyce Vincent sabe bem disso. A jovem nigeriana conseguiu sobreviver ao inferno da migração clandestina.
"Esses ladrões a quem chamam de rapazes "Asma” no deserto, se te apanham, ou te vendem para a prostituição ou tiram-te os órgãos”.
O que faz a Polícia?
Dados de um relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), publicado em março deste ano, dão conta que terão morrido, em 2023, pelo menos 8.500 pessoas em rotas migratórias internacionais.
Números que podiam ser reduzidos, considera a mesma especialista: "Se a migração fosse legal, o negócio dos traficantes não funcionaria.”
Ainda assim, os países membros da CEDEAO e muitos outros países africanos, têm, com a ajuda da Interpol e da Afripol, estado a trabalhar em conjunto para travar o tráfico de seres humanos e de migrantes. Como resultado, foram já desmanteladas várias redes no Burkina Faso, Camarões, Costa do Marfim, Gana, Guiné e Mali.