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Tunísia - a desilusão depois da euforia da libertação

16 de maio de 2011

As convulsões no Norte de África começaram na Tunísia. No dia 14 de Janeiro, o presidente Ben Ali fugiu para a Arábia Saudita. O povo derrubou a ditadura. Mas o entusiasmo inicial esmoreceu entretanto

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A revolução na Tunísia teve um efeito de dominó noutros países árabes.Foto: picture alliance / dpa

A opressão acabou, mas continuam a verificar-se saques, há um clima geral de desordem e a economia nacional está de rastos. No mês de julho próximo vão realizar-se eleições e é possível que nelas os islamistas triunfem, aproveitando-se da insatisfação popular.

Cerca de 100 pessoas reunem-se diante do Ministério da Justiça em Tunis, protestando exaltadas e exprimindo aquilo que muitos tunisinos sentem. O jurista Chokri Benaissa declara: “Atravessamos uma crise. A revolução fracassou, a polícia recuperou a força que tinha antes. Estamos a voltar à violência, à ditadura”.

Um dos manifestantes apoia-o: “É sempre a mesma coisa, não mudou nada! Nas repartições públicas e nos ministérios continuam as mesmas pessoas que colaboravam com a família de Ben Ali”.

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Cidadãos tunisinos protestam contra a lentidão das reformas, depois da revolução.Foto: DW/M. Souissi

Depois da revolução, a desilusão

Depois da euforia provocada pela fuga de Ben Ali e da sua família, veio a desilusão. Muitos temem que volte tudo ao mesmo, que a revolução tenha sido em vão. E isto apesar de ter acontecido muita coisa: o partido único, a União Constitucional Democrática (RCD) e a polícia política foram dissolvidos. Agora há liberdade de imprensa e de expressão. Foram fundados cerca de 60 novos partidos políticos e na administração pública apareceram caras novas.

Mas muitos suspeitam que os antigos líderes continuam a manobrar as coisas nos bastidores. A situação é pouco clara e os meios de comunicação também não ajudam, como diz Fouzia Mezzi, chefe de redação do jornal “La presse Tunisie”: "A informação é caótica. Não se investiga a veracidade dos factos; muitas declarações espontâneas são depois divulgadas como verdadeiras...Falta profissionalismo. O facto do governo não comunicar, ainda piora as coisas. E assim reina um clima de medo que provoca violência e agressividade”.

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A economia da Tunísia depende dramaticamente do turismo; mas as praias estão vazias.Foto: picture-alliance/dpa

O clima de desordem afasta turistas e investidores

Alguns turistas recomeçaram a visitar a Tunísia, mas na capital ainda se realizam manifestações que a polícia dispersa com violência. Grupos de jovens têm saqueado lojas e provocado incidentes. Alguns suspeitam mesmo que eles são incitados por adeptos do antigo regime, esperando que o ambiente de caos leve muitos a desejar o regresso dum homem forte.

Há um ambiente de nervosismo, as pessoas têm medo do futuro. Os números dão-lhes razão: no primeiro trimestre deste ano a Tunísia exportou menos 26% e os investimentos estrangeiros também caíram a pique. Milhares de pessoas que trabalham no setor turístico estão na iminência de serem despedidas. Diz Ralf Melzer, representante em Tunis da Fundação Friedrich Ebert, afeta ao Partido Social-Democrata alemao SPD:

“O momento atual é muito perigoso. Se as pessoas não têm emprego e não sabem como ganhar o sustento para o seu dia-a-dia, não querem naturalmente ouvir falar em democracia”.

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A polícia reprime agora na cidade de Tunis os protestos de jovens descontentes e desiludidos com o rumo que o país tomou.Foto: picture alliance/dpa

Autor: Carlos Martins

Revisão: António Rocha