Turismo: Cabo Verde quer diversificar, Moçambique adaptar-se
9 de março de 2023"Bem-vindo de volta, mundo", lê-se na entrada da Feira Internacional de Turismo de Berlim (ITB) que decorre de forma presencial pela primeira vez, desde a pandemia da Covid-19. E o universo do turismo mudou muito de lá para cá.
Em Moçambique, a recuperação do setor está longe de ser plena, segundo Marco Vaz dos Anjos, diretor-geral do Instituto Nacional do Turismo (INATUR). Se em 2019 o país registou um fluxo de 2,5 milhões de turistas, nos dois anos seguintes foram cerca de 626 mil e 867 mil hóspedes, respetivamente. Em 2022, foram registados cerca de 880 mil turistas.
"É verdade que ainda não estamos com números bons agora. Estamos a ter uma retoma gradual e acreditamos que ainda vai levar de dois a cinco anos para chegarmos ao estado em que estávamos na altura [antes da pandemia]", revela.
Americanos, britânicos, franceses, portugueses e sul-africanos são os principais "clientes” internacionais do país.
Eventos climáticos extremos
Para além da pandemia, todos os anos o país se vê confrontado com a ocorrência de eventos climáticos extremos. Os efeitos das chuvas intensas e inundações causadas pelo ciclone Freddy foram sentidos do norte ao sul de Moçambique. Até ao momento, os danos para o turismo são considerados pequenos.
"Em Inhambane não há zonas onde podemos dizer que não se pode praticar o turismo. Mas há zonas onde alguns empreendimentos sofreram pequenos impactos. E acreditamos que a recuperação não é demorada", explica Marco Vaz dos Anjos. "Temos algumas zonas, que não em Inhambane – por exemplo Chókwè – com situações de inundação. Mas aí não são zonas turísticas. São zonas de habitação normal e, porque o solo é argiloso, a drenagem é difícil", acrescenta.
Mas o diretor-geral do INATUR está otimista. "São situações anómalas e singulares", destaca. E a estratégia do setor é adaptar-se.
"O que nós temos estado a fazer é o reforço na fundação dessas edificações. A estrutura da própria casa consegue manter-se e temos apenas feito algumas reabilitações mínimas, que é um reforço na cobertura", relata.
"E grande parte [das medidas] tem sido a criação de mecanismos para escoar as águas [das chuvas] em zonas muito baixas através da construção de algumas valas que possibilitam, em tempo rápido, o escoamento das águas que possam advir das chuvas intensas e anormais", conta o diretor-geral do INATUR.
Atrair investidores
O turismo é um dos setores prioritários do Governo no plano quinquenal, lembra Marco Vaz dos Anjos. A participação em feiras é um dos focos em 2023 e "tem em vista aprender com outros países - como estão a vencer a Covid e as suas políticas atuais para o turismo", afirma.
E o Governo moçambicano adotou medidas para atrair os investidores estrangeiros, como "a facilitação do fluxo de capitais para atrair mais investimentos estrangeiros e reduzindo ainda mais os custos para o repatriamento de capitais".
"Essa era uma grande dúvida dos investidores estrangeiros, quando vinha tinha grande dificuldade em fazer o repatriamento dos capitais, dos lucros que desenvolveu", conclui.
Cabo Verde: Boa saúde e recuperação
Já em Cabo Verde, 2022 foi um ano de bonança, relata Humberto Lélis. A recuperação do setor ficou acima dos 90% em comparação com os indicadores de 2019 e superou as expetativas do presidente do conselho diretivo do Instituto do Turismo do país. Os bons resultados não terão sido por acaso. O investimento do Governo nas infraestruturas e segurança sanitária durante a pandemia da Covid-19 terá gerado confiança no mercado.
"Quando falo dos investimentos públicos, refiro-me sobretudo às melhorias consideráveis a nível dos hospitais e dos centros de saúde. Em relação aos investimentos privados, em 2021, com o relançamento da atividade turística, Cabo Verde contou com mais 1.700 camas que não tinha antes da pandemia. Portanto, os investimentos privados também continuaram em Cabo Verde", pondera.
Sustentabilidade e diversificação
Humberto Lélis destaca a paz social como o bem maior do arquipélago quando se fala em atrativo para turistas. E o país está agora focado na sustentabilidade.
"A ideia é que os elementos ligados à questão da qualificação humana, à questão do aprimoramento dos recursos humanos e fazer com que o turismo cada vez mais se traduza em mais e melhores rendimentos para as famílias são o processo que está a decorrer neste momento. Mas também temos a decorrer várias iniciativas no domínio ambiental, da proteção dos recursos naturais," enumera o dirigente do Instituto do Turismo.
Ações casadas com outro desafio que Cabo Verde se coloca: a diversificação da sua oferta. Quer somar ao sol e praia da Boa Vista e do Sal as peculiaridades de outras ilhas.
Os investimentos nas Redes de Caminhos de Pedestres nas ilhas de Santiago, do Fogo, Brava, Santo Antão e São Nicolau abrem as portas ao nicho do trekking, trail e ciclismo. E há ainda a aposta nas aldeias rurais.
"Uma aldeia da ilha de Santo Antão chamada Fontainhas foi selecionada pela Organização Mundial do Turismo como aldeia que reúne todos os quesitos para o programa Upgrade [das Melhores Aldeias Turísticas do Mundo]," revela.
"É um trabalho que estamos a fazer. Primeiro, há um trabalho a nível das estruturas básicas - por exemplo, estradas de acesso, melhoria do saneamento e abastecimento de água. Mas há também um trabalho de estruturação da oferta turística que o próprio Instituto do Turismo está a desenvolver", explica Humberto Lélis.
Marcar presença
Com a participação na ITB, o Instituto do Turismo de Cabo Verde quer fomentar o contacto das empresas cabo-verdianas com parceiros na Alemanha.
Mas a estratégia para o setor inclui dar uma nova imagem ao destino e prevê uma presença forte no digital, conclui Humberto Lélis.
"Há um processo, neste momento em fase de conclusão, que é a contratação de consultoria que irá apoiar no domínio da comunicação digital e geração de conteúdos para promoção turística. E iremos lançar outros concursos que é exatamente a contratação de empresas especializadas que irão apoiar Cabo Verde e o Instituto do Turismo no domínio do marketing digital," garante o presidente do conselho diretivo do Instituto do Turismo de Cabo Verde.
O perfil do turista permanece o mesmo: sobretudo europeus. Reino Unido e Alemanha estão entre os países que mais enviam turistas a Cabo Verde, que agora quer "focar em segmentos com poder de compra mais alto", finaliza Humberto Lélis.
Angola também esteve presente na Feira Internacional de Turismo de Berlim. Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe não participaram da ITB.