Ucrânia: Declaração de Lavrov sobre Hitler causa indignação
2 de maio de 2022A declaração feita pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia continua a causar indignação internacional. Numa entrevista ao canal italiano Rete4, no domingo (01.05), Sergei Lavrov disse que há setores alegadamente neonazis nas instituições ucranianas e, ao ser alertado para as raízes judaicas do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, Lavrov respondeu que Hitler "também tinha origens judaicas".
O chefe da diplomacia de Israel, Yair Lapid, condenou esta segunda-feira (02.05) as "graves declarações", que o levaram já a convocar o embaixador russo em Israel "para uma reunião de esclarecimento", anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
"Os comentários do ministro dos Negócios Estrangeiros Lavrov são uma declaração imperdoável e indigna, bem como um terrível erro histórico", lamentou Lapid. "Os judeus não cometeram suicídio no Holocausto. O nível mais baixo de racismo contra os judeus é acusar os próprios judeus de antissemitismo", acrescentou.
Embora tenha condenado a invasão desde o início do conflito, Israel tem mantido uma posição bastante moderada em relação à Rússia, devido à sua aliança estratégica no Médio Oriente, não aplicou sanções a Moscovo nem entregou armas à Ucrânia.
Alemanha critica "propaganda russa"
O Governo alemão classificou como um ato de "propaganda" a declaração de Lavrov. O porta-voz do governo de Olaf Scholz, Steffen Hebestreit, disse que a declaração do ministro russo é "absurda".
"Acho que é uma ação de propaganda russa, neste caso, através do ministro dos Negócios Estrangeiros Lavrov, que não merece mais comentários", declarou.
Em Bruxelas, o vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, classificou a comparação do Presidente ucraniano com Hitler feita por Lavrov como "inaceitável".
"Estas afirmações perpetuam a escandalosa narrativa sobre a desnazificação da Ucrânia, são objetivamente falsas, distorcem e banalizam o Holocausto, o genocídio de seis milhões de judeus", sustentou Schinas no Twitter.
Para o político grego, "qualquer tentativa de transformar as vítimas da Shoah em perpetradores é inaceitável".
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, disse que as afirmações do seu homólogo russo demonstram o profundo antissemitismo do poder russo.
"Lavrov não conseguiu esconder o antissemitismo profundamente enraizado das elites russas. Os seus hediondos comentários são ofensivos para o Presidente Zelensky, para a Ucrânia, Israel e o povo judeu", criticou.
Retirada de civis de Mariupol continua
Após numerosas tentativas falhadas, vários civis conseguiram finalmente sair do complexo industrial metalúrgico de Azovstal, em Mariupol, último reduto da resistência ucraniana nesta cidade estratégica.
A autarquia de Mariupol espera que os milhares de civis retiraos este domingo (01.05) da cidade portuária sitiada - um grupo de cerca de cem pessoas composto sobretudo por mulheres, crianças e idosos, e que entretanto ficaram retidos a meio do caminho - cheguem hoje a Zaporijia, no sul do país.
Enquanto isso, a Rússia continua a sua ofensiva no sul da Ucrânia, com o objetivo de ocupar toda a região de Kherson, um importante porto do Mar Negro e do rio Dniepre e sede de várias empresas da indústria naval.
Cimeira com Putin e Zelensky na Turquia
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, voltou hoje a convidar os seus homólogos da Rússia e da Ucrânia, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, para uma cimeira na Turquia, sublinhando que o seu país será o lugar onde "serão dados passos em relação a uma solução no leste da Ucrânia".
O chefe de Estado turco disse ainda que a cimeira poderá ocorrer em Istambul ou Ancara. "Tanto os ucranianos quanto os russos querem ajuda para exportar cereais", acrescentou Erdogan.
A guerra na Ucrânia dura há 68 dias e já causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas. Segundo dados da ONU, quase 3.000 civis morreram e mais de 3.000 ficaram feridos.