Ucrânia: Kiev denuncia novos ataques russos
17 de outubro de 2022As explosões sentidas na manhã desta segunda-feira (17.10) no distrito de Shevchenkiv, no centro da capital ucraniana, Kiev, deveram-se a "ataques de drones 'kamikaze'", disse o chefe de gabinete da presidência da Ucrânia.
"Os russos acham que [este ataque] vai ajudá-los, mas mostra o seu desespero", disse Andrey Yermak, na plataforma Telegram, acrescentando que foram usados 'drones' (aeronaves não tripuladas) de fabrico iraniano. Também no Telegram, o autarca de Kiev confirmou que as explosões se deveram a ataques de drones, que provocaram um incêndio num edifício não residencial e danos em vários prédios de apartamentos.
Os bombeiros e os serviços médicos e de emergência já estão no local e a autarquia da capital está a tentar recolher informações sobre possíveis vítimas, acrescentou Vitali Klitschko. Após os primeiros ataques, um jornalista da agência France-Presse viu um drone a cair sobre um prédio, enquanto dois agentes policiais o tentavam abater com as suas armas de serviço.
"O inimigo pode atacar as nossas cidades, mas não será capaz de nos quebrar. Os ocupantes terão apenas um castigo justo e a condenação das gerações futuras", escreveu o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Telegram, esta segunda-feira, em resposta aos ataques.
Na semana passada, uma série de mísseis russos atingiu Kiev e outras cidades ucranianas na maior onda de ataques dos últimos meses - uma resposta à explosão numa ponte que ligava a Rússia continental à Crimea, segundo o Presidente russo, Vladimir Putin. Pelo menos 19 pessoas foram mortas e mais de 100 ficaram feridas. O ataque mortal gerou críticas da comunidade internacional.
Acusações ao Irão
Na sexta-feira, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, disse que as Forças Armadas russas têm atualmente "cerca de 300 unidades" de drones de combate fornecidos pelo Irão. Segundo Reznikov, as autoridades russas estariam agora em negociações com Teerão para comprar mais alguns milhares desses aparelhos aéreos não tripulados, segundo a agência de notícias UNIAN.
"Se vai acontecer ou não, veremos. Mas devemos estar preparados para isso, para não ficarmos parados. Estamos a desenvolver sistemas para os repelir. O nosso Exército está a derrubá-los, já aprendemos como fazê-lo", disse o ministro da Defesa ucraniano.
As autoridades ucranianas acusam desde agosto o Irão de fornecer os chamados "drones 'kamikaze'", que chocam com os alvos, ao Exército russo, embora Teerão tenha negado estar envolvido nessa transação, assim como Moscovo. No final de setembro, a Ucrânia retirou as credenciais do embaixador iraniano em Kiev e anunciou uma redução significativa da presença diplomática iraniana.
UE prepara-se para aprovar missão de formação
Esta segunda-feira, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 estados membros da União Europeia (UE) estão reunidos no Luxemburgo para discutir uma proposta para aumentar o apoio do bloco à defesa militar da Ucrânia. O plano é começar a treinar 15.000 soldados ucranianos a partir de novembro - cerca de oito meses após o início da guerra - em centros na Polónia e na Alemanha.
Vários países da UE, tais como a Alemanha e a França, já treinaram soldados para usar armamento avançado que doaram. Outros países, como os EUA, Reino Unido e Canadá já estão a treinar milhares de tropas ucranianas.
Espera-se também que os ministros dêem luz verde a mais 500 milhões de euros em financiamento para ajudar a pagar as doações de armas dos estados membros da UE. A nova soma elevará o montante total do financiamento da UE para a Ucrânia para mais de 3 mil milhões de euros.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções em todos os setores, da banca à energia e ao desporto.
A ONU apresentou como confirmados 5.587 civis mortos e 7.890 feridos, sublinhando que os números reais são muito superiores e só serão conhecidos no final do conflito.