Putin promete "respostas severas" em caso de novos ataques
10 de outubro de 2022"Se as tentativas de ataques terroristas no nosso território continuarem, as respostas da Rússia serão severas e a sua escala corresponderá ao nível das ameaças colocadas", afirmou Vladimir Putin esta segunda-feira (10.10) na abertura de uma reunião do Conselho de Segurança russo, transmitida pela televisão.
"Ninguém deve ter qualquer dúvida", advertiu o líder russo.
A Rússia bombardeou as regiões ucranianas de Kiev, Khmelnytskiy, Lviv, Dnipro, Vinnitsia, Zaporijia, Sumy, Kharkiv e Jitomir, provocando dezenas de mortos e feridos, bem como cortes de energia. A capital ucraniana não era atacada desde 26 de junho.
Estes bombardeamentos seguiram-se à destruição parcial, no sábado, da ponte Kerch, que liga a Rússia à Crimeia e que simboliza a anexação da península ucraniana por Moscovo, em 2014.
Putin disse ontem que a ponte foi alvo de um "ato terrorista" e responsabilizou os "serviços secretos ucranianos" pelo ataque.
Ao descrever os ataques desta manhã, Putin frisou que o Exército russo usou "armas de longo alcance de alta precisão" contra a "infraestrutura energética, militar e de comunicações da Ucrânia" e que, ao visar a ponte da Crimeia, a Ucrânia se tinha "colocado ao mesmo nível que os terroristas mais hediondos".
"Não foi possível não responder", afirmou aos membros do Conselho de Segurança da Federação Russa.
O Presidente russo deverá reunir-se esta terça-feira (11.10) com o responsável da Agência Internacional de Energia Atómica, Rafael Grossi, em São Petersburgo, segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Apenas "o primeiro episódio"
O ex-Presidente e número dois do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, garantiu que os novos ataques contra a Ucrânia foram apenas o "primeiro episódio", pedindo o "desmantelamento total" do poder político ucraniano.
"O primeiro episódio foi exibido, haverá outros", escreveu Medvedev na rede social Telegram.
"O Estado ucraniano – na sua atual configuração, como regime político nazi – representará uma ameaça constante, direta e clara à Rússia. Por isso, além de proteger o nosso povo e proteger as fronteiras do país, o objetivo das nossas ações futuras, na minha opinião, deve ser o desmantelamento completo do regime político da Ucrânia", justificou o líder russo.
Pelo menos 11 pessoas 64 feridos
Segundo as autoridades ucranianas, pelo menos 11 pessoas foram mortas e 64 ficaram feridas nos ataques ocorridos hoje em toda a Ucrânia.
De acordo com o presidente da Câmara de Kiev, Vitali Klitschko, cinco pessoas morreram e outras 51 ficaram feridas, apenas na capital ucraniana.
"A ameaça de novos ataques continua presente", acrescentou o autarca na rede social Twitter, pedindo à população para que se refugie em caso de alerta antiaéreo.
O primeiro-ministro ucraniano, Denis Chmygal, disse ainda que 11 grandes infraestruturas ficaram danificadas nos ataques desta manhã, em outras oito regiões.
"Crime de guerra"
A UE acredita que os ataques contra civis na Ucrânia "equivalem a um crime de guerra", afirmou hoje o porta-voz do alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell.
"A União Europeia condena com a maior veemência estes hediondos ataques contra os civis e as infraestruturas civis. É algo que é contra o direito humanitário internacional e este alvo indiscriminado de civis equivale a um crime de guerra", sublinhou.
Segundo Josep Borrell, "apoio militar adicional da União Europeia está a caminho" para a Ucrânia, referindo-se a uma nova parcela de 500 milhões de euros de financiamento.
Também a Alemanha prometeu à Ucrânia um sistema de defesa aérea dentro de dias. A ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht, sublinhou que "os ataques da Rússia aterrorizam acima de tudo a população civil".
"É por isso que estamos agora a prestar um apoio especial à defesa aérea e nos próximos dias forneceremos a primeira de quatro armas de última geração", acrescentou.
"Terror e brutalidade"
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, considerou que "a Rússia mostrou mais uma vez ao mundo o que representa - o terror e a brutalidade". E sublinhou que "os responsáveis têm de ser responsabilizados".
Também a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla inglesa), condenou os "ataques horríveis e indiscriminados" lançados pela Rússia.
Numa mensagem divulgada através da rede social Twitter, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, adiantou ter falado hoje por telefone com o ministro ucraniano dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, e salientou que a organização "continuará a apoiar o corajoso povo ucraniano na luta contra a agressão do Kremlin por tanto tempo quanto necessário".
Bielorrússia ativa força conjunta com Rússia
O Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, acusou entretanto a Ucrânia de estar a preparar-se para atacar a Bielorrússia e anunciou o destacamento de uma força conjunta com tropas russas na fronteira com a Rússia.
"Devido ao agravamento da situação nas fronteiras ocidentais da União [russo-bielorrussa], concordámos em destacar um agrupamento regional da Federação Russa e da República da Bielorrússia", anunciou Lukashenko, citado pela agência noticiosa estatal Belta.
Lukashenko acusou ainda a Polónia, Lituânia e Ucrânia de prepararem ataques "terroristas" e uma "sublevação militar" na Bielorrússia, após ter anunciado a formação de um agrupamento militar "regional" com Moscovo.
"O treino de combatentes na Polónia, na Lituânia e na Ucrânia inclui radicais bielorrussos, para efetuarem sabotagens, atos terroristas, e um levantamento militar no país tornou-se numa ameaça direta", declarou no decurso de uma reunião com responsáveis militares, acusando ainda a União Europeia e os Estados Unidos da América de pretenderem "agravar a situação".
"Os Estados Unidos e a União Europeia afirmam que pretendem legitimar os nossos fugitivos como uma força política, preveem reforçar seriamente o seu apoio a elementos destrutivos e agravar a situação na fronteira ocidental [bielorrussa] para abrir uma segunda frente", acrescentou o líder de Minsk, de acordo com uma nota da Presidência.
Lukashenko considerou "absurdo" que a Ucrânia abra uma segunda frente na fronteira bielorrussa, mas acusou o Ocidente de pressionar para o início desta nova fase da guerra.