Ucrânia: Carlos Fonseca pede paz, mas "não a qualquer preço"
1 de agosto de 2023"Qualquer iniciativa que procura colocar em pé de igualdade a Rússia e a Ucrânia é no mínimo injusta". As palavras são de Jorge Carlos Fonseca, quando questionado pela DW sobre a validade da proposta africana, apresentada por um grupo de chefes de Estado e de Governo, com vista a pôr fim ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
O ex-chefe de Estado cabo-verdiano afirma que "se deve procurar uma paz justa" e "não a qualquer preço".
"Tem que ter em conta os pressupostos da guerra, do conflito, e também tem que se ter em conta que há um país que é ferido, é atingido, na sua integridade territorial e que tem património destruído, para além [da perda] de milhares de vidas humanas, de milhares de pessoas feridas, doentes e traumatizadas", sublinha.
Solicitado a fazer uma avaliação da proposta de paz africana, Carlos Fonseca elogia em primeiro plano a posição de Cabo Verde, que "justamente” rejeitou estar presente na recente cimeira Rússia-África.
"Eu creio que não levará a grandes resultados, sobretudo esta cimeira. Aliás, não é por acaso que apenas 17 chefes de Estado e de Governo africanos estiveram lá", comentou.
"Isso não me parece muito sério"
O ex-presidente cabo-verdiano qualifica de pouco séria a cimeira Rússia-África, quando a potência agressora se propôs a fornecer gratuitamente algumas toneladas de cereais a seis dos países africanos para resolver o problema da segurança alimentar face à subida dos preços.
"Isso não me parece muito sério e não representa nada de essencial para que esse problema de segurança alimentar possa ser resolvido a contento", opinou.
Jorge Carlos Fonseca lançou esta segunda-feira (31.07), em Lisboa, o seu sétimo livro: "Escritos Ucranianos". A apresentação da obra ficou a cargo do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, que evitou particularizar os esforços de paz de um país ou continente.
Condições para "uma solução"
Abordado pela DW, Rebelo de Sousa diz que o fundamental é "criar condições para que se possa avançar para uma solução de futuro, respeitadora do Direito Internacional, respeitadora da Carta das Nações Unidas, respeitadora da integridade territorial e da soberania e ao mesmo tempo sempre ambicionado a paz", salientou.
Por seu lado, Jorge Carlos Fonseca questiona as reais pretensões da presença russa em África, sobretudo em países confrontados com "muita instabilidade política", e inclusivamente "em países que sofreram golpes de Estado". Dá o exemplo do Mali, do Burkina Faso e mais recentemente no Níger.
"Mas, sobretudo, é grave porque é uma presença que não tem em conta pressupostos importantes do desenvolvimento africano", referiu.
Carlos Fonseca recorda que a presença da Rússia em África materializa-se inclusive através de grupos de mercenários privados, como o Wagner, e acrescenta: "Portanto, isso não são boas notícias para o continente africano", concluiu.