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Ucrânia: Carlos Fonseca pede paz, mas "não a qualquer preço"

1 de agosto de 2023

"Nenhuma proposta ou iniciativa de paz" com vista ao fim da guerra na Ucrânia "é legítima", afirma Jorge Carlos Fonseca num exclusivo à DW, em Lisboa, onde lançou esta segunda-feira (31.07) o livro "Escritos Ucranianos".

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Jorge Carlos Fonseca, ex-chefe de Estado cabo-verdiano, e Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de PortugalFoto: João Carlos/DW

"Qualquer iniciativa que procura colocar em pé de igualdade a Rússia e a Ucrânia é no mínimo injusta". As palavras são de Jorge Carlos Fonseca, quando questionado pela DW sobre a validade da proposta africana, apresentada por um grupo de chefes de Estado e de Governo, com vista a pôr fim ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia. 

O ex-chefe de Estado cabo-verdiano afirma que "se deve procurar uma paz justa" e "não a qualquer preço".

"Tem que ter em conta os pressupostos da guerra, do conflito, e também tem que se ter em conta que há um país que é ferido, é atingido, na sua integridade territorial e que tem património destruído, para além [da perda] de milhares de vidas humanas, de milhares de pessoas feridas, doentes e traumatizadas", sublinha.

Solicitado a fazer uma avaliação da proposta de paz africana, Carlos Fonseca elogia em primeiro plano a posição de Cabo Verde, que "justamente” rejeitou estar presente na recente cimeira Rússia-África.

Portugal | Marcelo Rebelo de Sousa
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de Portugal, discursa durante o lançamento do livro "Escritos Ucranianos", de Jorge Carlos Fonseca, em Lisboa, PortugalFoto: João Carlos/DW

"Eu creio que não levará a grandes resultados, sobretudo esta cimeira. Aliás, não é por acaso que apenas 17 chefes de Estado e de Governo africanos estiveram lá", comentou.

"Isso não me parece muito sério"

O ex-presidente cabo-verdiano qualifica de pouco séria a cimeira Rússia-África, quando a potência agressora se propôs a fornecer gratuitamente algumas toneladas de cereais a seis dos países africanos para resolver o problema da segurança alimentar face à subida dos preços.

"Isso não me parece muito sério e não representa nada de essencial para que esse problema de segurança alimentar possa ser resolvido a contento", opinou.

Jorge Carlos Fonseca lançou esta segunda-feira (31.07), em Lisboa, o seu sétimo livro: "Escritos Ucranianos". A apresentação da obra ficou a cargo do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, que evitou particularizar os esforços de paz de um país ou continente.

Afrika-Russland-Gipfel
Presidente Cyril Matamela Ramaphosa, da África do Sul, e Presidente russo Vladimir Putin, em São Petersburgo, durante a Cimeira Rússia-ÁfricaFoto: Mikhail Metzel/TASS/IMAGO

Condições para "uma solução"

Abordado pela DW, Rebelo de Sousa diz que o fundamental é "criar condições para que se possa avançar para uma solução de futuro, respeitadora do Direito Internacional, respeitadora da Carta das Nações Unidas, respeitadora da integridade territorial e da soberania e ao mesmo tempo sempre ambicionado a paz", salientou.

Por seu lado, Jorge Carlos Fonseca questiona as reais pretensões da presença russa em África, sobretudo em países confrontados com "muita instabilidade política", e inclusivamente "em países que sofreram golpes de Estado". Dá o exemplo do Mali, do Burkina Faso e mais recentemente no Níger.

"Mas, sobretudo, é grave porque é uma presença que não tem em conta pressupostos importantes do desenvolvimento africano", referiu.

Carlos Fonseca recorda que a presença da Rússia em África materializa-se inclusive através de grupos de mercenários privados, como o Wagner, e acrescenta: "Portanto, isso não são boas notícias para o continente africano", concluiu.

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