Ucrânia: Divergências marcam reunião NATO-Rússia
12 de janeiro de 2022A vice-secretária de Estado norte-americana, Wendy Sherman, assegurou esta quarta-feira (12.01) que, na reunião NATO-Rússia, Moscovo não se pronunciou sobre a retirada das suas tropas junto à fronteira ucraniana.
"Não houve compromisso de desescalada, nem uma declaração de que o fariam", declarou Sherman em conferência de imprensa após a reunião do Conselho NATO-Rússia, que decorreu na sede da Aliança em Bruxelas.
Em paralelo, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo Alexandre Grushko, que também participou no encontro, reconheceu "enormes divergências entre as duas partes sobre questões fundamentais" e assegurou que as tentativas da Aliança de construir a segurança na Europa "contra e sem a Rússia" estão condenadas ao fracasso.
"Partimos do princípio de que a segurança indivisível deve ter em consideração os interesses de todos e que as tentativas de construir a segurança contra e sem a Rússia são contraproducentes e estão condenadas a fracassar", disse.
O principal fórum de diálogo entre a Rússia e a NATO registou hoje o seu primeiro encontro em mais de dois anos, numa semana em que se sucederam reuniões para reduzir a tensão entre Moscovo e o ocidente, na sequência do envio de um importante contingente militar russo para as proximidades da fronteira com a Ucrânia.
"Custos e consequências"
Após indicar que a reunião se prolongou por quatro horas, Sherman revelou que voltou a ser sublinhado que uma nova invasão da Ucrânia pela Rússia "terá custos e consequências significativas" para Moscovo, "muito para além das que enfrentou em 2014", após a anexação da península da Crimeia.
A responsável norte-americana sustentou que os aliados confiam na possibilidade de uma nova reunião do Conselho NATO-Rússia para breve, a fim de prosseguir as discussões, e acrescentou que caso Moscovo "se retire" da mesa negocial, "ficará muito claro que nunca levaram a sério a via diplomática".
Assinalou ainda que, no encontro de hoje, Washington e os restantes países da NATO "estiveram unidos" na sua resposta à delegação russa, em particular face às propostas para a segurança europeia que Moscovo apresentou nas últimas semanas.
Nesse sentido, assegurou que algumas das iniciativas "centrais" de Moscovo são "simplesmente impossíveis", e frisou que a NATO e Washington não vão renunciar à política de alargamento, com a adesão à Aliança de novos países num futuro ainda com data indefinida.
Neste sentido, considerou que a solicitação de um Estado em aderir à NATO constitui uma "decisão soberana".
Possibilidade de cooperação
Nas áreas onde as duas partes admitiam colaborar, Sherman indicou "as ações recíprocas sobre a redução de riscos e a transparência, melhor comunicação e controlo do armamento".
A vice-secretária de Estado norte-americana também ressalvou que os Estados Unidos "não tomarão decisões sobre a Ucrânia sem a Ucrânia, sobre a Europa sem a Europa, sobre a NATO sem a NATO e sobre a OSCE sem a OSCE", numa referência à reunião de quinta-feira da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, onde a crise ucraniana estará no topo da agenda.
Sherman também revelou que nos seus encontros de terça-feira (11.01) com representantes da União Europeia debateu o trabalho conjunto e com o G7 (os sete países mais industrializados do mundo) "para preparar medidas económicas coordenadas" caso Moscovo invada a Ucrânia, uma alegação que o Kremlin continua a desmentir.
Rússia: Divergências "fundamentais"
A Rússia disse que as conversações foram "francas", mas indicou não ter havido qualquer avanço, salientando que as duas partes tinham muitas divergências "fundamentais".
"Foi [uma conversa] de coração a coração", disse o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo Alexander Grushko aos repórteres em Bruxelas.
"A conversa foi bastante franca, direta, profunda e intensa, mas, ao mesmo tempo, revelou um grande número de diferenças sobre questões fundamentais", avaliou.
Grushko disse ainda que a Rússia e a NATO não tinham "agenda positiva - nenhuma" e advertiu que a contínua deterioração da situação poderia levar às "mais imprevisíveis e terríveis consequências para a segurança europeia".
O ministro russo fez as declarações depois dos aliados da NATO terem rejeitado a exigência da Rússia de um novo acordo de segurança na Europa, no início da dia, desafiando o Presidente russo Vladimir Putin a retirar as tropas da fronteira com aUcrânia e a juntar-se às conversações sobre a redução da ameaça de conflito aberto.
"Sério risco de novo conflito armado na Europa"
O secretário-geral da NATO afirmou existir um "sério risco de um novo conflito armado na Europa" devido às investidas russas na Ucrânia, avisando Moscovo de "consequências severas" perante uma escalada militar.
"Há um sério risco de um novo conflito armado na Europa, mas é exatamente por isso que a reunião de hoje e as outras reuniões que se realizam esta semana são tão importantes porque faremos o que pudermos para prevenir um novo conflito armado", disse Jens Stoltenberg, numa conferência de imprensa realizada em Bruxelas.
Nas declarações feitas após a reunião, o responsável acrescentou: "Essa é a razão pela qual somos tão claros na nossa mensagem à Rússia, de que estamos prontos a sentarmo-nos e a rever um longo leque de questões como controlo de armas, limites recíprocos de mísseis ou muitas outras questões para prevenir um novo conflito armado".
Ainda assim, Jens Stoltenberg vincou que a NATO "está de olhos bem abertos", pelo que "também transmitiu uma mensagem à Rússia de que, se utilizarem a força militar, haverá consequências severas, como sanções económicas, sanções políticas".
"E fornecemos apoio prático à Ucrânia para reforçar a sua capacidade de se defender", acrescentou.
O líder da NATO lembrou, porém, que a Ucrânia não é membro da Aliança Atlântica, pelo que os aliados apenas lhe podem dar "apoio prático político de muitas formas diferentes".
"Penso que é muito perigoso começar a especular demasiado sobre este risco real [de conflito armado], mas estamos a abordar essa possibilidade através da promoção do diálogo em boa-fé, mas também, em parte, sendo claros sobre os riscos de rutura dessas conversações", concluiu Jens Stoltenberg.