Ucrânia: NATO exorta China a abster-se de apoiar Rússia
24 de março de 2022Os chefes de Estado e de Governo da NATO, reunidos esta quinta-feira (24.03) em Bruxelas, exortaram a China a abster-se de "apoiar de qualquer forma o esforço de guerra da Rússia" na Ucrânia, incluindo a ajudar Moscovo a "contornar as sanções".
"Exortamos todos os Estados, incluindo a República Popular da China, a manterem a ordem internacional, incluindo os princípios de soberania e integridade territorial, tal como consagrados na Carta das Nações Unidas, a absterem-se de apoiar de qualquer forma o esforço de guerra da Rússia, e a absterem-se de qualquer ação que ajude a Rússia a contornar as sanções", lê-se na declaração adotada após a cimeira extraordinária.
Os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês) afirmam-se "preocupados com os recentes comentários públicos de funcionários da República Popular da China" e apelam a Pequim "para que deixe de amplificar as falsas narrativas do Kremlin, em particular sobre a guerra e sobre a NATO, e para que promova uma resolução pacífica do conflito".
Apelos ao Kremlin
A Moscovo, a NATO reiterou os apelos para que permita "o acesso humanitário rápido, seguro e sem entraves e corredores seguros para os civis, e a permitir que a ajuda humanitária seja entregue a Mariupol e a outras cidades sitiadas".
A Aliança Atlântica pediu ainda à Rússia para que se "empenhe construtivamente em negociações credíveis com a Ucrânia para alcançar resultados concretos, começando com um cessar-fogo sustentável e avançando para uma retirada completa das suas tropas do território ucraniano".
"A Rússia precisa de mostrar que leva a sério as negociações, implementando imediatamente um cessar-fogo", sustenta, observando que "a agressão contínua da Rússia enquanto decorrem as discussões é deplorável".
Os líderes da Aliança Atlântica também condenam "os ataques contra as infraestruturas civis, incluindo as que põem em perigo as centrais nucleares". "Qualquer utilização pela Rússia de uma arma química ou biológica seria inaceitável e resultaria em consequências graves", advertiram.
Apoio à Ucrânia
Os líderes da NATO reafirmaram a "total solidariedade" com o Governo ucraniano e "os bravos cidadãos ucranianos que estão a defender a sua terra", mas não fizeram os anúncios desejados por Kiev.
"Os aliados da NATO intensificaram o seu apoio e continuarão a prestar mais apoio político e prático à Ucrânia, enquanto o país continua a defender-se", lê-se na declaração final da cimeira.
Os aliados confirmam que irão "prestar assistência em áreas como a cibersegurança e a proteção contra ameaças de natureza química, biológica, radiológica e nuclear", recordando que os países membros da Aliança "também prestam um amplo apoio humanitário e estão a acolher milhões de refugiados".
"Os ministros dos Negócios Estrangeiros irão debater mais aprofundadamente o seu apoio à Ucrânia quando se reunirem em abril", acrescentam.
Os líderes concordaram hoje em "acelerar os esforços" com vista ao cumprimento de consagrar 2% do PIB a despesas em defesa, os aliados indicam ainda que também aumentarão a "preparação e prontidão para ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares", agendando desde já decisões concretas para a cimeira da NATO a celebrar em junho em Madrid.
A NATO confirmou ainda o fortalecimento da sua postura "dissuasora" na parte oriental da Aliança, tendo aprovado, como primeiro passo, o envio de quatro novos grupos de combate para Bulgária, Hungria, Roménia e Eslováquia.
Aviões de guerra e tanques
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, voltou a pedir aos líderes dos países da NATO que ofereçam a Kiev "ajuda militar ilimitada". "A Ucrânia pede aviões para não perdermos tantas pessoas e ainda não recebemos um avião sequer (...). Pedimos tanques para defender as nossas cidades (...). 25 mil tanques. A Ucrânia está pedindo apenas 500", disse Zelensky, em seu discurso por videoconferência na cúpula da aliançã em Bruxelas.
O mandatário ucraniano, após um mês de resistência contra a invasão russa, disse que não recebeu "resposta" aos seus pedidos. "Dêem-nos, vendam para nós", disse ele, sobre seu pedido para receber tanques.
"Entendo que não são vocês que estão bombardeando a Ucrânia. Só quero saber se a Aliança ainda pode evitar mortes ucranianas devido à invasão russa", acrescentou.
Entretanto, o secretário-geral da NATO lembrou, a organização "tem a responsabilidade de evitar que este conflito se torne uma guerra total na Europa envolvendo não só a Ucrânia e a Rússia, mas também aliados da NATO e da Rússia, e que será mais perigosa e mais devastadora".
EUA e Reino Unido anunciam apoios e novas sansões
O Departamento do Tesouro norte-americano anunciou, na sua conta no Twitter, que os Estados Unidos avançaram com novo pacote de sansões a empresas, membros do Parlamento e o diretor executivo do maior banco do país.
Os EUA anunciaram ainda que estão dispostos a receber um máximo de 100 mil refugiados ucranianos e de outras nacionalidades que fugiram da Ucrânia após a invasão russa e que entregarão mais mil milhões de dólares em ajuda humanitária ao país.
Por seu turno, o Governo britânico anunciou uma nova série de sanções que passam a atingir mais 59 pessoas e empresas russas e seis bielorrussas, em resposta à invasão da Ucrânia pela Rússia, iniciada há um mês.
Empresas como a gigante russa de diamantes Alrosa, o grupo privado de serviços militares Wagner ou o das centrais hidroelétricas Rushydro fazem agora parte da lista de sancionados.
A ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Liz Truss, indicou que estas sanções, que elevam para um total de mil as personalidades e entidades atingidas, "visam indústrias chave que apoiam a invasão ilegal da Rússia".
Moscovo acusa Polónia de "escalada perigosa"
A Rússia acusou hoje a Polónia de uma "escalada perigosa" na região, após a expulsão por Varsóvia de 45 diplomatas russos acusados de "espionagem".
"Varsóvia procedeu a uma escalada perigosa na região, movida não pelos seus interesses nacionais mas pelos princípios da NATO baseados numa russofobia claramente elevada ao estatuto de política oficial", denunciou o ministério russo dos Negócios Estrangeiros em comunicado. O texto promete ainda uma resposta "que fará refletir os provocadores polacos e fazê-los sentir".
Na quarta-feira (23.03), o ministro do Interior polaco, Mariusz Kaminski, anunciou que a Polónia iria expulsar "45 espiões russos que se fazem passar por diplomatas", no contexto da ofensiva russa na Ucrânia iniciada há um mês.
A decisão foi considerada pelo ministério dos Negócios Estrangeiros russo como "uma medida programada e destinada à definitiva destruição das relações" russo-polacas.
Vítimas civis
Entretanto, a ONU confirmou nesta quinta-feira que, ao menos, 1.035 civis morreram e 1.650 ficaram feridos na guerra da Ucrânia, que completa hoje um mês, dados que a própria organização estima ser maior, devido aos poucos dados em áreas de difícil acesso.
Das vítimas atestadas pelo Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos, 90 são crianças. Além disso, 118 ficaram feridos, de acordo com boletim diário emitido pela organização.
Já o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) pediu que as partes no conflito militar da Ucrânia cumpram a Convenção de Genebra, especialmente no que diz respeito aos prisioneiros de guerra.
Moscovo tem negado consistentemente responsabilidade pelas baixas civis na Ucrânia. E o Ministério dos Negócios Estrangeiros assegurou que a Rússia está interessada em "levantar os obstáculos à retirada de civis e à entrada de ajuda humanitária" nas cidades ucranianas afetadas pelos combates.