Ucrânia: Putin diz que "objetivos serão alcançados"
12 de abril de 2022O Presidente russo, Vladimir Putin, defendeu esta terça-feira (12.04) que o confronto com as forças ucranianas era "inevitável" e apenas uma questão de tempo, devido ao crescimento do neonazismo no país vizinho.
"A Ucrânia começou a ser transformada numa base antirrussa. Os rebentos do nacionalismo e do neonazismo, que existem há muito tempo, começaram a crescer no país", disse Putin durante uma visita ao cosmódromo Vostochny, no leste da Rússia, com o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.
Ao conversar com trabalhadores da indústria espacial russa, Putin afirmou sobre a guerra na Ucrânia: "Não tínhamos outra escolha, isso é certo. E não há dúvida de que os objetivos serão alcançados".
São objetivos "absolutamente compreensíveis e nobres", insistiu o chefe de Estado russo, citado pela agência noticiosa oficial TASS.
Putin defendeu que a Rússia foi forçada a ajudar o povo do Donbass "porque as autoridades ucranianas, empurradas pelo Ocidente, recusaram-se a cumprir os Acordos de Minsk com vista a uma resolução pacífica dos problemas" nesta região do leste da Ucrânia, em guerra com Kiev desde 2014. "Era simplesmente impossível continuar a suportar este genocídio, que durou oito anos", acrescentou.
O Presidente russo referiu também que o Ocidente não conseguirá isolar o seu país com as sanções decretadas na sequência da invasão da Ucrânia. "É certamente impossível isolar qualquer pessoa no mundo moderno de hoje, especialmente um país tão grande como a Rússia", argumentou.
Armas químicas em Mariupol?
O fundador do regimento Azov da Ucrânia, Andrei Biletsky, acusou na segunda-feira (12.04) as tropas russas de usarem substâncias químicas em Mariupol, causando três feridos. Numa mensagem na plataforma Telegram, Biletsky alegou que a Rússia utilizou uma substância venenosa de origem desconhecida, que foi largada por um 'drone' (aparelho aéreo não tripulado) na fábrica Azovstal em Mariupol, ferindo três pessoas.
Antes, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já tinha indicado, no site oficial da Presidência, que um porta-voz russo declarou que podiam ser utilizadas armas químicas contra Mariupol.
O Kremlin ainda não reagiu a estas especulações, mas um porta-voz dos separatistas no leste da Ucrânia, apoiados por Moscovo, negou o uso de armas químicas. "As forças separatistas não usaram nenhum produto químico armas em Mariupol", garantiu Eduard Basurin.
Kiev anunciou uma investigação às denúncias sobre o uso de armas químicas. O Reino Unido prometeu uma eventual responsabilização de "Putin e do seu regime" caso as alegações se confirmem.
"Qualquer uso de tais armas seria um escalar insensível deste conflito", declarou Liz Truss, ministra britânica dos Negócios Estrangeiros.
Zelensky volta a pedir mais sanções
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pediu esta terça-feira à União Europeia (UE) que intensifique as sanções económicas contra a Rússia, durante um discurso realizado por vídeo ao Parlamento lituano.
O chefe de Estado disse aos deputados da Lituânia, uma ex-República soviética que agora é membro da UE e da NATO, que "[os russos] sabem que ficarão impunes, pois a Europa ainda prefere a cooperação contínua, o comércio e os negócios, como é habitual".
Zelensky pediu sanções a todos os bancos russos e que a Europa "abandone o petróleo" russo. "A Europa deve vencer esta guerra. E vamos vencê-la juntos", declarou o Presidente ucraniano.
O líder ucraniano denunciou ainda "centenas de casos de violações" registados em áreas que estiveram sob ocupação do Exército russo, "incluindo meninas menores de idade e crianças muito pequenas".
"Nas áreas libertadas da ocupação, o registo e a investigação de crimes de guerra cometidos pela Rússia continuam. Quase todos os dias são encontradas novas valas comuns", lamentou Zelensky.
Por outro lado, os serviços secretos da Ucrânia asseveram ter detetado planos do Governo russo para realizar atentados terroristas no seu próprio território, para acusar Kiev de responsabilidade e mobilizar a opinião pública.
"O objetivo é provocar uma histeria antiucraniana", acredita o chefe da inteligência militar de Kiev, general Kyrylo Budanov, citado pelas agências de notícias.
De acordo com as suspeitas, o propósito do Kremlin é criar uma cortina de fumo com os atentados, depois dos ataques e homicídios de civis registados em Busha, na região de Kiev, e em Kramatorsk, no leste da Ucrânia.
Busha conta os mortos
As autoridades da região de Kiev indicaram que contabilizaram até agora 400 civis mortos em Busha, localidade nos arredores da capital que foi ocupada pelas tropas russas durante cinco semanas.
A Rússia voltou a negar que os seus soldados sejam responsáveis por massacres. Putin comparou essa informação às notícias sobre o uso de armas químicas pelo regime do Presidente sírio Bashar al-Assad. "É o mesmo tipo de falsificação em Busha", frisou Putin no cosmódromo de Vostochny.
Cerca de 4,6 milhões de pessoas fugiram da Ucrânia desde a invasão da Rússia, em 24 de fevereiro, mais de metade das quais foram recebidas pela Polónia, anunciou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
Os recém-chegados "estão num estado mais vulnerável, têm menos meios e também estão menos preparados em termos de escolha sobre para onde querem ir", em comparação com as pessoas que fugiram nas primeiras semanas do conflito, explicou o porta-voz do ACNUR Matt Saltmarsh.
Cerca de 90% dos que fugiram da Ucrânia são mulheres e crianças, já que as autoridades ucranianas não permitem a saída de homens em idade militar.