Acordos em relação às exportações russas devem ser cumpridos
29 de outubro de 2022O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sublinhou, esta sexta-feira (29.10), que os importantes "acordos sobre cereais", que facilitam a exportação de alimento e fertilizantes da Ucrânia e da Rússia, também devem ser cumpridos em relação às exportações russas.
Estes acordos expiram em 19 de novembro e o trabalho está a ser realizado em contra relógio para prorrogá-los, notícia a agência Efe.
António Guterres reagiu desta forma ao crescente ceticismo por parte da Rússia sobre este tema, depois de na quinta-feira a porta-voz da diplomacia russa, María Zajárova, ter expressado a sua insatisfação, referindo que os acordos foram realizados de forma desequilibrada, considerando que apenas está a beneficiar os cereais ucranianos e não as exportações russas.
O secretário-geral da ONU, sem entrar no pormenor sobre as alegadas violações, sublinhou que é importante que "o acordo assinado com a Federação Russa seja plenamente aplicado", assim como a parte relativa à Ucrânia.
"Se alimentos e fertilizantes não chegarem aos mercados globais agora, os agricultores não terão esses fertilizantes na hora certa a um preço que possam pagar quando a temporada de plantação começar em todo o mundo em 2023 e 2024, com efeitos dramáticos na produção e nos preços", realçou Guterres, através do seu porta-voz.
O responsável da ONU especificou que o acordo, nos seus termos atuais, permitiu colocar mais de nove milhões de toneladas no mercado, e "contribuiu para baixar os preços do trigo e outras matérias-primas" ao longo de sete meses, segundo as tabelas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
Além disso, evitou que 100 milhões de pessoas caíssem na pobreza, acrescentou.
"Pedimos a todas as partes que façam todos os esforços para renovar [os dois acordos] na sua totalidade, incluindo a superação dos obstáculos restantes à exportação de grãos e fertilizantes russos o mais rápido possível", insistiu Guterres.
Moscovo aponta dedo ao Ocidente
Em declarações, esta quinta-feira, a Rússia afirmou que ainda não tomou uma decisão sobre a prorrogação deste pacto, que termina a 19 de novembro.
Moscovo acusou os Estados Unidos e a Europa de impedirem o acesso dos produtos agrícolas e fertilizantes russos aos mercados mundiais, prejudicando ospaíses pobres de África, Ásia e América Latina.
Os fertilizantes "permanecem bloqueados principalmente nos armazéns da Letónia (80%), assim como na Estónia, Bélgica e Países Baixos, cujas autoridades não permitem o seu envio através do Programa Alimentar Mundial da ONU", denunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.
Num comunicado citado pela agência oficial russa TASS, o ministério de Serguei Lavrov disse que, além dos fertilizantes, as empresas russas não podem transferir, "sem custos", cerca de 300.000 toneladas de produtos "para os países mais pobres".
"Os americanos e europeus estão a punir os países de África, Ásia e América Latina", acusou a diplomacia de Moscovo.
Em 22 de julho, os dois países assinaram acordos com a Turquia e a ONU para permitir o transporte de mais de 20 milhões de toneladas de cereais que estavam bloqueados nos portos ucranianos do Mar Negro.
O processo é controlado pelas partes envolvidas a partir de um Centro Conjunto de Coordenação (CCC) em Istambul, onde os navios são inspecionados.
Até 24 de outubro, realizaram-se 383 viagens a partir de portos ucranianos que permitiram transportar mais de 8,5 milhões de toneladas de cereais, de acordo com dados das Nações Unidas.
Desistir do acordo?
Na quinta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, defendeu que a Rússia irá enfrentar uma "enorme indignação" e "raiva" de muitos países se desistir do acordo.
Blinken referiu, durante uma conferência de imprensa, que o pacto assinado com a Rússia para desbloquear o porto de Odessa é positivo e que dois terços dos cereais que estão a ser exportados da Ucrânia têm países do hemisfério sul como destino.
"A ideia de que a Rússia diria agora que não quer mantê-lo causaria muita indignação e muita raiva em países ao redor do mundo que estão a beneficiar dos cereais da Ucrânia", sublinhou o chefe da diplomacia norte-americana.
"Faremos todo o possível para manter o acordo", acrescentou.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,7 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.