Uganda: Campanhas políticas desiguais em tempos de Covid-19
9 de agosto de 2020As eleições presidenciais do Uganda estão agendadas para fevereiro de 2021, mas os comícios eleitorais foram proíbidos no país. A justificação oficial do Governo é que a medida visa conter a propagação do novo coronavírus, mas aos olhos de Bobi Wine, o principal opositor do Presidente Yoweri Museveni, no poder há 34 anos, esta é mais uma forma do executivo obstruir a sua campanha eleitoral.
Proíbidos os comícios, os candidatos às presidenciais têm agora de fazer campanha através de folhetos, da rádio, da televisão ou na Internet. No entanto, esta é uma tarefa difícil porque Museveni exerce grande influência sobre os meios de comunicação social. É o que diz Bobi Wine que, numa recente entrevista a uma rádio no país, sentiu isso mesmo na pele.
"Quando tentei entrar na estação de rádio, o edifício estava cercado pelo exército, e os soldados começaram a bater nos meus companheiros".
Bobi Wine não exita em descrever o atual executivo do Uganda como uma "ditadura".
Alegações de assédio policial
O cenário é confirmado pelo correspondente da DW no país, Alex Gitta: "Quando Bobi Wine aparece nas estações de rádio, há muita gente que o segue. Os fãs acompanham-no frequentemente e esperam-no à saída das instalações dos meios de comunicação para o aplaudir. A polícia intervém então para os deter", conta.
Segundo Alex Gitta, a este tipo de atuação da polícia, soma-se o facto das emissoras estatais não transmitirem debates com a oposição e os custos do tempo de antena nos meios de comunicação social privados serem avultados. Também na internet, os candidatos da oposição, como Bobi Wine, enfrentam dificuldades porque, como explica, "muitos dos seus apoiantes não podem comprar pacotes de dados para seguir as suas mensagens na rede".
Tempo de antena grátis para Museveni
Ao contrário da realidade de Bobi Wine e outros opositores, o partido no poder tem uma série de vantagens.
"Há mesmo uma regra de que os discursos presidenciais devem ser transmitidos em direto por todas as estações de rádio e televisão. Portanto, Museveni tem muito tempo de antena", disse Gitta.
Os analistas acusam o partido no poder de utilizar fundos públicos para financiar as suas atividades políticas.
Os entraves não ficam por aqui. Bobi Wine pertence à geração mais jovem de líderes e influentes de África e que tenta desafiar governantes que se encontram no poder há já vários anos, como é o caso de Museveni.
O músico, que gosta de transmitir as suas mensagens políticas nas letras que compõe, é particularmente popular entre os jovens, o que lhe valeu, em 2017, um lugar no parlamento como candidato independente.
Privação do direito de voto
Ciente disso, o governo anunciou, entretanto, que o recenseamento eleitoral para as presidenciais de 2021 terminou em dezembro de 2019, ou seja, todas as pessoas que atingiram a maioridade desde então não poderão votar nestas eleições. Uma medida que, segundo as estimativas, afetará cerca de um milhão de pessoas.
Mas Bobi Wine não desiste e já tem planos para o seu mandato como Presidente: "A minha equipa e eu queremos reintroduzir o Estado de direito no Uganda, incluindo o respeito pelos direitos humanos", fez saber o candidato, que acrescentou também que o setor da saúde precisa urgentemente de ser melhorado.
Na mesma entrevista, Bobi Wine prometeu ainda ultrapassar as divisões étnicas no Uganda e unir o país.
Para já, assevera o correspondente da DW no país, a situação está calma. No entanto, adianta, isso é algo que pode vir a mudar: "Se não for dada à oposição a oportunidade de tornar públicas as suas mensagens, ela tornar-se-á certamente rebelde, e então a polícia e o exército intervirão".