1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Uganda: Campanhas políticas desiguais em tempos de Covid-19

Martina Schwikowski | rl
9 de agosto de 2020

Denúncia é de Bobi Wine, o principal opositor do Presidente Yoweri Museveni, que se vai recandidatar a um sexto mandato nas eleições presidenciais agendadas para o início de 2021.

https://p.dw.com/p/3gf0m
Bildergalerie Persönlichkeiten 2020 | Bobi Wine
Foto: Getty Images/L. Dray

 As eleições presidenciais do Uganda estão agendadas para fevereiro de 2021, mas os comícios eleitorais foram proíbidos no país. A justificação oficial do Governo é que a medida visa conter a propagação do novo coronavírus, mas aos olhos de Bobi Wine, o principal opositor do Presidente Yoweri Museveni, no poder há 34 anos, esta é mais uma forma do executivo obstruir a sua campanha eleitoral.

Proíbidos os comícios, os candidatos às presidenciais têm agora de fazer campanha através de folhetos, da rádio, da televisão ou na Internet. No entanto, esta é uma tarefa difícil porque Museveni exerce grande influência sobre os meios de comunicação social. É o que diz Bobi Wine que, numa recente entrevista a uma rádio no país, sentiu isso mesmo na pele.

"Quando tentei entrar na estação de rádio, o edifício estava cercado pelo exército, e os soldados começaram a bater nos meus companheiros".

Bobi Wine não exita em descrever o atual executivo do Uganda como uma "ditadura".

Alegações de assédio policial

O cenário é confirmado pelo correspondente da DW no país, Alex Gitta: "Quando Bobi Wine aparece nas estações de rádio, há muita gente que o segue. Os fãs acompanham-no frequentemente  e esperam-no à saída das instalações dos meios de comunicação para o aplaudir. A polícia intervém então para os deter", conta.

Yoweri Museveni
Presidente Yoweri Museveni vai recandidatar-se a um sexto mandatoFoto: picture-alliance/dpa/A. Novoderezhkin

Segundo Alex Gitta, a este tipo de atuação da polícia, soma-se o facto das emissoras estatais não transmitirem debates com a oposição e os custos do tempo de antena nos meios de comunicação social privados serem avultados. Também na internet, os candidatos da oposição, como Bobi Wine, enfrentam dificuldades porque, como explica, "muitos dos seus apoiantes não podem comprar pacotes de dados para seguir as suas mensagens na rede".

Tempo de antena grátis para Museveni

Ao contrário da realidade de Bobi Wine e outros opositores, o partido no poder tem uma série de vantagens.

"Há mesmo uma regra de que os discursos presidenciais devem ser transmitidos em direto por todas as estações de rádio e televisão. Portanto, Museveni tem muito tempo de antena", disse Gitta.

Os analistas acusam o partido no poder de utilizar fundos públicos para financiar as suas atividades políticas.

Os entraves não ficam por aqui. Bobi Wine pertence à geração mais jovem de líderes e influentes de África e que tenta desafiar governantes que se encontram no poder há já vários anos, como é o caso de Museveni.

Uganda Wahl 2016
Eleiçõe de 2016 no UgandaFoto: DW/E. Lubega

O músico, que gosta de transmitir as suas mensagens políticas nas letras que compõe, é particularmente popular entre os jovens, o que lhe valeu, em 2017, um lugar no parlamento como candidato independente.

Privação do direito de voto

Ciente disso, o governo anunciou, entretanto, que o recenseamento eleitoral para as presidenciais de 2021 terminou em dezembro de 2019, ou seja, todas as pessoas que atingiram a maioridade desde então não poderão votar nestas eleições. Uma medida que, segundo as estimativas, afetará cerca de um milhão de pessoas.

Mas Bobi Wine não desiste e já tem planos para o seu mandato como Presidente: "A minha equipa e eu queremos reintroduzir o Estado de direito no Uganda, incluindo o respeito pelos direitos humanos", fez saber o candidato, que acrescentou também que o setor da saúde precisa urgentemente de ser melhorado.

Na mesma entrevista, Bobi Wine prometeu ainda ultrapassar as divisões étnicas no Uganda e unir o país.

Para já, assevera o correspondente da DW no país, a situação está calma. No entanto, adianta, isso é algo que pode vir a mudar: "Se não for dada à oposição a oportunidade de tornar públicas as suas mensagens, ela tornar-se-á certamente rebelde, e então a polícia e o exército intervirão".

Músico torna-se político e inspira jovens no Uganda

Saltar a secção Mais sobre este tema